Mesmo que nos últimos anos muitas instituições financeiras já venham aderindo a pontos da temática ESG, o conceito deve continuar a ganhar força nos financiamentos futuros. Em painel realizado nesta quinta-feira, 11 de novembro, no Brazil Wind Power, o Gerente Executivo do Banco do Brasil, Jalce Leal Rodrigues Jr., acredita que não haverá espaço para projetos de agentes que tenham risco de algum impacto negativo à sociedade.  De acordo com ele, se ainda existe algum que não considere esses aspectos, será por pouco tempo. “A instituição financeira como intermediária aloca o capital do investidor, nosso cliente também. Tenho que prestar ainda muito mais atenção onde eu aloco o capital dos investidores e o nosso próprio”, avisa.

Para eles, as maiores instituições do Brasil têm essa preocupação e no Banco do Brasil, caso um projeto tenha alguma dúvida ou indicação de ineficiência na sustentabilidade, terá dificuldade em seguir  adiante.” As instituições do futuro estão olhado onde alocam seu capital”, explica. Para Igor Fonseca, Head de energia do Santander Brasil, como os investimentos no setor elétrico são de capital intensivo, há uma certa responsabilidade dos bancos na concessão de crédito. Em 2019, o Santander mobilizou € 120 bilhões para financiamento de renováveis até 2025. O banco também não financia empresas que tenham mais de 10% da sua receita oriunda de carvão.

As mudanças de cultura na sociedade, que intensificam o clamor pela sustentabilidade uma economia circular, vem sendo acompanhadas pelos bancos. De acordo com Wilson Chen Chang, Head de Energia de Project Finance do Itaú BBA, muitos temas vêm sendo incorporados no processo decisório, seja na concessão de crédito, estratégia ou posicionamento perante a sociedade. O banco quer atingir R$ 400 bilhões em crédito sustentável para setores com impacto positivo até 2025, em que a geração renovável está inserida. “Cada vez mais há incorporação de novos aspectos e uma nova ótica de entendimento do impacto do projeto”, salienta.

A pandemia de Covid-19 apareceu como uma espécie de catalisador do ESG, trazendo uma reflexão sobre a forma de investir. O Brasil ainda está atrás da realidade internacional ESG. Por aqui são ainda poucos fundos exclusivos, com valores considerados baixos. “É um mercado que está em amadurecimento no Brasil, com bastante espaço para crescer”, conta Fonseca, do Santander.

Para o financiamento de novas tecnologias, como eólicas offshore e hidrogênio verde, o head do Santander acredita que o Brasil deve se basear nas experiências globais. No começo, os projetos eram inicialmente financiados por sócios estratégicos ou de investidores com viés de venture capital. Na fase seguinte, os riscos já eram conhecidos por bancos e fornecedores, o que viabiliza o desenvolvimento do projeto. Na Europa, Estados Unidos e Ásia, com projetos bem desenhados nessa fórmula –  envolvendo ainda bom arcabouço contratual, fornecedores e acionistas – tem sido bem vistos pelos investidores internacionais. Fonseca cita o parque eólico offshore de Vineyard, nos Estados Unidos, que tem um pool de 13 bancos no financiamento. Outro empreendimento offshore no Mar do Norte arregimentou 28 bancos no financiamento, número atualmente inimaginável no Brasil. Ele considera que o hidrogênio ainda está um patamar abaixo das eólicas offshore, porque ainda há dúvidas sobre quem vai comprar o insumo e a que preço.

A mudança no retrato do financiamento – que saiu de um cenário com poucas alternativas – tem sido benéfica para o setor. Sem subsídios ou monopólios, os bancos aumentam a competição entre si. “Para um banco conseguir fazer mais negócios, tem que oferecer a estrutura adequada para a realidade do seu cliente e a concorrência desenvolve o mercado e reduz os custos”, aponta.