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A suspensão do Programa de Redução Voluntária da Demanda (RVD) por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) gerou frustração e causou problemas operacionais no setor industrial, já que diversos setores eletrointensivos se mobilizaram para aderiram ao programa e agora não podem mais oferecer energia ao sistema.

Associações ligadas ao setor industrial dizem que o programa foi suspenso unilateralmente pelo ONS sem que os atores envolvidos fossem ouvidos. Algumas empresas precisaram adequar a rotina de trabalho em turnos de trabalho alternativos para deslocar o consumo, agora reclamam que não podem mais disponibilizar energia.

Uma das principais entidades engajadas em viabilizar o programa foi a Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape). O presidente da entidade, Mário Menel, afirma que o RVD é um programa de racionalização de energia usado em vários lugares do mundo e por isso deveria ser contínuo.

No caso brasileiro, ele foi estruturado muito rapidamente e teve características de programa de emergência, mas produziu efeitos, já que houve uma redução do consumo industrial em horários de ponta. No total, foram ofertados 442 MW em setembro, 720 MW em outubro e 454 MW em novembro, sendo que nem toda essa oferta de novembro foi aproveitada. Entretanto, para Menel, o número expressivo de consumidores e da oferta reforçam o sucesso do programa. Por outro lado, ele lembra que a suspensão pode ter gerado problemas para as empresas.

“O que pode ter havido são problemas operacionais para as empresas que pretendiam aderir e para as empresas aderentes, já que o remanejamento de produção ou a renúncia de uma parcela do contrato de suprimento exige uma programação por parte da indústria”, diz.

“O que pode ter havido são problemas operacionais para as empresas que pretendiam aderir e para as empresas aderentes, já que o remanejamento de produção ou a renúncia de uma parcela do contrato de suprimento exige uma programação por parte da indústria”, Mario Menel, da Abiape

Programa visa viabilizar a redução de consumo em momentos críticos de abastecimento de energia elétrica

Quebra de confiança
Menel reforça que o cancelamento do programa tira a confiança dos industriais no programa. Na mesma linha de raciocínio, o grupo União Pela Energia, que reúne 45 associações de diversos segmentos da indústria nacional, encaminhou uma carta ao diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, expressando preocupações diante da inesperada suspensão e também sobre a formação dos Preços de Curto Prazo.

O documento fala em frustração e lembra que a redução do consumo nos processos industriais precisou de organização e planejamento com antecedência, pois implica em reorganização dos processos produtivos.

Um trecho do ofício, diz que “os consumidores industriais vinham desenvolvendo uma parceria com Ministério, mais ainda, com este Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em um processo de aprendizado e construção de confiança mútua que permitiria ao ONS contar com um instrumento adicional para garantir a segurança da operação”.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, afirma categoricamente que a suspensão é um retrocesso já que o programa mobilizou setores e tem empresas se programando para fazer essa oferta para ajudar o reequilíbrio do sistema. “Entendemos que é equivocado suspender esse programa e pedimos que ele seja reestabelecido para criar credibilidade e confiabilidade nas relações entre o setor privado e o setor público”.

“Entendemos que é equivocado suspender esse programa e pedimos que ele seja reestabelecido para criar credibilidade e confiabilidade nas relações entre o setor privado e o setor público”, Fernando Pimentel, da Abit

Reação de setores
O cancelamento do programa causou descontentamento em vários segmentos da cadeia produtiva. Pimentel avalia que dentre as medidas excepcionais visando a garantia de atendimento energético e elétrico, o RVD foi positivo, porém a interrupção causou surpresa pela importância para o desenvolvimento do mercado de energia, em que os consumidores contribuem ativamente na operação do sistema e na busca pela redução global dos custos.

“A despeito de ter havido uma melhoria nas condições hídricas, isso não é suficiente, porque as contas estão muito caras, as térmicas estão acionadas e custando uma loucura, fazendo com que tenhamos encargos de serviços do sistema que em 2021 vai superar R$ 20 bilhões”. calcula.

O diretor de Energia da Liasa (Ligas industriais de alumínio SA), Ary Pinto Ribeiro Filho, conta que diversas empresas se mobilizaram para se enquadrar no projeto. A companhia que ele representa aderiu ao programa e despachou energia ao sistema algumas vezes no mês de setembro, mas desde outubro teve suas ofertas recusadas pelo ONS.

“Fizemos oferta de energia em outubro e não aceitaram. Em novembro, a gente ofertou todos os dias e também não aceitaram”, conta. O executivo, que também foi conselheiro e diretor da CCEE, com passagens pela Aneel e Chesf, agora observa o sistema pelo lado do consumidor e aponta erros de gestão do órgão.

“Desde os anos 1980, no mundo inteiro se fala em planejamento integrado entre oferta e demanda. É impressionante que em pleno século 21, o ONS só veja as coisas pelo lado da oferta”, ataca.

Ele reclama da dificuldade de competitividade da indústria – já que a energia representa de 35 a 40% do custo da companhia – e acrescenta que queda nos preços de energia no mercado de curto prazo em um momento em que o país passa por uma profunda crise hídrica desestimula o consumo racional. Para ele, é incompreensível os modelos oficiais de formação dos preços apontarem que o custo da energia de curto prazo está abaixo de R$ 100 por MWh, ao mesmo tempo que todo parque termelétrico está ligado despachando térmicas de R$ 2.500 por MWh.

Recuperação de reservatórios
Segundo o ONS, o recebimento de ofertas de recursos adicionais de geração e de Resposta Voluntária da Demanda não é mais necessário já que houve melhora nas condições hidrológicas e garantia de suprimento de energia em 2021.

O diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, durante o Brazil Windpower, afirmou que “neste momento não estamos precisando de energia de ponta, neste momento a gente precisa replecionar os nossos reservatórios”.

O programa foi uma das principais bandeiras do governo junto aos grandes consumidores de energia para conter a crise hídrica ao propor o deslocamento ou redução da demanda de energia nos horários de pico para assegurar a manutenção da segurança energética no país.

“O mais estranho é que no IPDO do ONS, eles estão despachando usinas de R$2.500 o por MWh e não aceitam energia de R$500 de R$600,00. Ou seja, se o Operador quer encher reservatórios, seria muito mais barato com o programa”, diz Ribeiro Filho.

“Eles estão despachando usinas de R$2.500 o por MWh e não aceitam energia de R$500 de R$600,00. Ou seja, se o Operador quer encher reservatórios, seria muito mais barato com o programa”, Ary Pinto Ribeiro Filho, da Liasa