As ações que cercam a agenda ESG e os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU (ODS) estão criando um ambiente que pode ser definido como uma coalização social. Ao mesmo tempo em que há o desenvolvimento dos negócios, a preocupação com os impactos sociais da presença das empresas ganha destaque. E nesse contexto a energia eólica não foge à regra, uma vez que os projetos estão no front da transição energética e descarbonização da economia.
O segundo dia do Brazil Windpower 2021 tratou o assunto de forma mais ampla ao abordar as lições e avanços da agenda ESG e a questão da diversidade e inclusão no setor. A avaliação geral é de que o caminho começou a ser trilhado por todos os stakeholders, mas o consenso é de que há muito a avançar, principalmente na igualdade de gênero.
E essa situação deriva da lentidão em tomar decisões em termos globais em um passado recente. A avaliação de Fabio Alperowitch, sócio fundador da Fama Investimentos, é de que não há mais tempo para que haja uma transição de forma suave a mudança tem que ser mais radical e imediata. “Seria diferente se tivéssemos dado ouvidos à ciência 40 anos atrás”, definiu ele.
A presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, se mostra otimista com o momento. Apesar do cenário que traçou o executivo da Fama, agora a sensação é de que agora a mudança engrenará, uma vez que o setor privado está em peso na linha de atuação. “Agora temos a força da sociedade numa verdadeira coalização social”, acrescenta.
E nessa onda a ação das empresas junto às comunidades onde estão inseridas foi o alvo do debate. A CEO da AES Brasil, Clarissa Saddock, destaca que se o argumento da agenda ESG não é forte o suficiente para convencer um tomador de decisão rumo a esse caminho, o resultado do negócio em si supre esse espaço.
“A agenda ESG gera valor, mas se é necessário um outro argumento mais prático podemos citar o financeiro, pois traz mais investidores e clientes”, destaca.
Carla Primavera, superintendente da Área de Energia do BNDES, acrescenta que a agenda é um tema central em alocação de capital. Lembra ainda que o banco decidiu não aportar recursos mais em usinas a combustíveis fósseis. E avalia que muitos negócios não sobreviverão porque terão dificuldades de financiamento. Uma avaliação que corroborou o comentário de Élbia sobre uma resposta do primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson sobre o porquê de empresas deixarem as fontes poluidoras de geração de energia.
Em paralelo, essa agenda inclui ainda questões sociais que passam por impactos sociais positivos para as comunidades e diversidade e inclusão por meio da equidade de gênero. Esse é um assunto importante, o executivo da Fama Investimentos lembra que a crise da Síria deixou 1 milhão de refugiados de guerra, o clima deverá levar a 200 milhões de refugiados das mudanças climáticas. “É um impacto muito maior”, compara.
No Brasil, o tema da inclusão ganha contornos importantes. A professora e assessora estratégica na FGV Energia, Fernanda Delgado, destacou que 37% das famílias são lideradas por mulheres. E o setor elétrico é um dos que apresentam maior desigualdade de gênero. Não há um número fechado mas em termos gerais, 26% dos cargos de chefia contam com mulheres à frente.
A líder de Diversidade e Inclusão América do Sul da Engie, Erika Zoeller, destaca que em essa situação é global, não é exclusiva do país. E lembra que a companhia na qual trabalha há cerca de dois anos está com a meta de até 2030 alcançar igualdade no número de homens e mulheres em posição de liderança. Atualmente esse índice é de 24% no mundo.
Élbia afirma que em seus 20 anos de setor elétrico já viu uma grande evolução nesse ponto. Mas considera que ainda há muito o que avançar e vê um avanço importante no empenho das empresas e setor financeiro em trilhar o caminho a essa igualdade.