Apesar de avanços significativos, os resultados da 26ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre o Clima (COP26) ficaram aquém do esperado por empresários, especialistas e ambientalistas. O texto final publicado após duas semanas de negociações em Glasgow, na Escócia, teve pontos importantes em relação ao tema do uso dos combustíveis fósseis, mas não atende às reivindicações dos países pobres por justiça climática e não garante o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.

Soma-se que o Brasil ficou de fora e as negociações ficaram com a diplomacia, fato que deixou o país enfraquecido em relação ao mundo. O Brasil também foi protagonizou o que especialistas consideram como “pedalada climática”, pois voltou à meta que tinha sido apresentada em 2015 apresentando como ambição ambiental ao mundo.

Entre os avanços conquistados em Glasgow, os ambientalistas destacam duas declarações importantes para a mitigação dos gases de efeito estufa como carbono e metano: a primeira, o Brasil se compromete a zerar e reverter o desmatamento no mundo até 2030; a segunda estipula o corte de emissões globais de metano de 30% em 2030 em relação aos níveis de 2020.

A presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (cebds), Marina Grossi, destacou a pressão do setor empresarial, que se posicionou de maneira contundente no evento. Entre elas, a decisão do governo brasileiro de realinhar suas metas na NDC, assinar acordos importantes e contribuir para as negociações que resultaram em acordo sobre a regulamentação do mercado global de carbono.

“Agora esses anúncios precisam ser acompanhados de medidas práticas para que tenham credibilidade. Entre elas, o combate ao desmatamento ilegal, a votação da NDC anunciada, a criação de um mercado de carbono regulado doméstico e a implementação do Código Florestal. Para tanto, é necessário um diálogo estruturado com o setor empresarial e com a sociedade para construção conjunta da agenda interna”.

Segundo a executiva, a regulamentação do mercado global de carbono mostra que o caminho para aumentar a ambição climática passa também pela utilização de instrumentos de mercado. Grossi acredita que a decisão sinaliza um passo importante para uma retomada econômica verde no Brasil porque cria uma oportunidade para o setor empresarial se engajar no comércio global de emissões rumo à neutralidade climática.

Justiça climática
Os países ricos tinham prometido no Acordo de Paris, em 2015, um fundo de US$ 100 bilhões anuais a partir de 2020 para apoiar os países mais vulneráveis a enfrentarem as mudanças climáticas, esse financiamento ainda não foi colocado em prática.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Bocuhy, o resultado ficou abaixo das expectativas considerando a emergência climática caracterizada no relatório AR6 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

“Houve indefinição e procrastinação da discussão sobre suporte financeiro para perdas e danos dos países pobres, decorrentes dos impactos das mudanças climáticas e também falta de firmeza para a eliminação dos combustíveis fósseis ao trocar no texto o termo ‘eliminação’ apenas por ‘diminuição’, o que criou uma zona de conforto para o mercado. Ou seja, a tarefa da próxima COP27, no Egito, deverá ser muito intensa para equacionar os problemas cruciais que ainda permanecem sem solução”, disse.