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Durante evento online promovido pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), a coordenadora do órgão, Kamila Borges, disse que o Brasil passa por uma estagnação em eficiência energética há pelo menos 20 anos, enquanto países em desenvolvimento e com indústrias eletrointensivas, como China e Índia, o nível de eficiência avançou.
Na análise da executiva, isso é uma questão de decisão política. Para reverter isso, o primeiro passo seria o governo identificar onde estão as potencialidades para aprofundar nas ações. O setor de edificações como um todo, responde por cerca e 51% do consumo no Brasil, e poderia avançar nisso.
“Temos políticas confusas e atrapalhadas. A política de etiquetagem e padrões de equipamentos erram em dizer que estão avançando (…) Em edificações há um programa de etiquetagem que é voluntário e ainda assim com um esforço hercúleo de fazê-lo pegar no setor de construção civil”, conta.
Um outro ponto que a executiva aponta possíveis ganhos de eficiência energética é sobre o setor industrial, que tem o segundo maior consumo de energia elétrica no país. “Medidas como a Redução Voluntária da Demanda, os mercados de eficiência energética poderiam avançar bastante, porém o governo suspendeu algo que estava dando certo”, lamenta.
Ela lembra que ainda há uma enormidade de pequenas indústrias e comércios e serviços “que estão fora de qualquer consideração de política energética”. Borges lembra que o iCS e outras instituições publicaram um estudo publicado em setembro denominado “A hora e a vez da eficiência energética”, que mostrou que o Brasil negligenciou políticas de uso racional de energia. O documento apresenta um conjunto de medidas que deveriam ser adotadas pelo governo, com medidas estruturais, de alívio da crise hídrica e que contribuiriam para resiliência do sistema a médio e longo prazo.
Superação da crise
Para o ex-diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e consultor do iCS, Luiz Eduardo Barata, a eficiência energética é a única maneira de garantir que o Brasil supere a crise energética sem pressionar os custos da energia.
No entendimento de Barata, é importante voltar com o discurso da eficiência energética, caso contrário, as contas em 2022 ficarão impagáveis. Ele prevê que não há mais nada que se possa fazer para redução dos custos nos próximos dois anos, já que o consumo vai aumentar e a crise climática deve permanecer.
“Neste horizonte de tempo, as únicas medidas que cabem são em eficiência energética. Paralelamente precisamos tomar medidas do que fazer a partir de 2024 e 2025, como rever essa decisão de construir 8 GW de térmicas a gás com um fator de flexibilidade de 70%, quando a gente poderia botar esses 8 GW de renováveis”, afirma.
O executivo afirma que o grande ganho em eficiência aconteceu somente em 2001 e atualmente só a indústria de autoconsumo está preocupada com isso. “Na crise de 2001, foi ensinado aos consumidores como eles poderiam economizar. Tanto em 2014 quanto agora, só se preocuparam que não ia faltar energia e não se preocuparam em nenhum instante em ensinar como as pessoas podiam consumir de forma inteligente”, diz.