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Eólica onshore/offshore, solar fotovoltaica, captura de CO2, hidrogênio, armazenamento e mobilidade elétrica. Esses são alguns temas que tem posicionado a Noruega na busca pela liderança no desenvolvimento de tecnologias verdes e inovadoras ao redor do mundo e especialmente no Brasil, tido como um importante player e parceiro estratégico para ajudar o país nórdico na transição para uma economia viável de baixo carbono.
Segundo um relatório divulgado nessa quarta-feira, 24 de novembro, pelo Consulado Geral da Noruega no Rio de Janeiro, as empresas atuantes no Brasil investiram cerca de US$ 7 bilhões no período 2019-2020, valor 67% superior ao empreendido em 2017-2018, mostrando resiliência aos efeitos da pandemia. Desse montante o setor de energia concentra a maior parte dos recursos, com 71% do total aplicado, quase R$ 5 bilhões.
A pesquisa ouviu 235 empresas e destaca 4% de iniciativas ligadas a fontes renováveis e combustíveis limpos, com o resto sendo formado pelo segmento de petróleo e gás. Outros 7% do quadro correspondem aos setores marítimo e offshore e mais de 20% foram destinados a outras áreas, com destaque para agronegócio, química, financeiro, TI, mídia e mineração.
Em entrevista à Agência CanalEnergia, a cônsul geral do Consulado da Noruega, Marianne Fosland, afirmou que o incremento dos aportes no período foi uma surpresa para todos e que o movimento mostra que as companhias norueguesas estão percebendo que a transição energética a partir das renováveis e do baixo carbono são ambientalmente e economicamente viáveis.
“Tiveram algumas obras e projetos que pararam ou atrasaram, principalmente offshore, mas o ponto principal é que as grandes companhias norueguesas se planejam e estão no Brasil há tantos anos que os planos não foram efetivamente atrapalhados pela pandemia”, comenta, lembrando que o principal modelo de negócio dos noruegueses são os contratos de longo prazo, estes já firmados antes da pandemia.
O levantamento, realizado pela consultoria Fujikawa, identificou seis empresas que realizaram investimentos consideráveis no segmento das fontes renováveis no Brasil: Equinor, Statkraft, Scatec Solar, Norks Solar, Hydro e Aker Solutions. No entanto o ecossistema de empresas que já atuam nesse setor, seja na prestação de serviço ou na provisão de suprimentos, é muito maior.
“Recentemente fizemos um relatório interno de energia solar e identificamos mais de dez empresas norueguesas nesse mercado de alguma forma, o que inclui o banco D&B financiando um projeto ou uma pessoa fazendo a própria engenharia”, destacou o conselheiro político e econômico do consulado, Gabriel Francisco.
Odd Magne Ruud e Marianne Fosland na residência do Consulado no Rio de Janeiro (Davi Campana)
Perguntado sobre mobilidade elétrica, o embaixador Odd Magne Ruud salientou que tem conversado com muitos agentes, políticos, prefeitos e governadores acerca da inserção maior desse tema na realidade das cidades, visto o país ter um potencial enorme para desenvolver esse mercado, tanto pela frota de carros como de ônibus, que tem de se tornar verde até para exportar para outros países da América Latina.
“Nesse verão mais de 8% dos carros vendidos na Noruega foram elétricos, isso porque o governo lançou incentivos, dispensou pedágios e criou até faixas especiais em rodovias”, pontua Ruud, afirmando que o Brasil também precisa não só de incentivos mas também que as corporações comecem a colocar mais fábricas de veículos e até de ferrys elétricos, dando o exemplo da possibilidade de eletrificação de barcas, como a que faz o trajeto Rio-Niterói.
Ele também destaca que a Noruega está trabalhando em duas frentes no quesito armazenamento de energia, buscando incentivar a construção tanto de fábricas de baterias como centros de reciclagem, com a Hydro lançando um projeto em parceria com uma empresa finlandesa.
Com relação ao hidrogênio, Marianne Fosland ressaltou que o consulado vem tendo “conversas muito boas com o Brasil”, principalmente quanto à estratégia arco-íris para o vetor energético e que também se mostra pertinente para a Noruega. “Temos de esperar a regulação e estamos discutindo como podemos colaborar para ajudar a desenvolver esse mercado por aqui”, conclui a cônsul.
Além de trazer tecnologia e inovação, as empresas norueguesas também trouxeram impactos socioeconômicos, sendo responsáveis por 29 mil empregos diretos e 521 mil empregos indiretos e induzidos em 2020, números 7,5% maiores que os registrados em 2018. Também destinaram mais de R$ 27 milhões a pessoas em situação de vulnerabilidade social durante a pandemia e pagaram cerca de US$ 1,4 bilhões em impostos ao país.
Equinor
Responsável por grande parte dos R$ 4,970 bilhões aplicados no setor de energia no último biênio conforme a pesquisa, a Equinor espera que mais de 50% dos investimentos brutos em 2030 sejam direcionados para energias renováveis e soluções de baixo carbono. Além disso, a companhia tem como objetivo gerar um fluxo de caixa substancial de óleo e gás durante os próximos dez anos, ao mesmo tempo em que reduz as emissões nas operações.
A empresa também está começando a explorar oportunidades na geração eólica offshore por meio de sua participação de um processo de licenciamento para os parques Aracatu I e Aracatu II, com 2 GW cada. Esses parques de alta capacidade serão desenvolvidos entre os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Um dos projetos mais ambiciosos é o Complexo Apodi, desenvolvido juntamente com a Scatec, na qual detém 5,2% de participação devido ao sucesso da iniciativa. Outro aporte foi na Micropower Comerc, empresa brasileira de armazenamento de energia como serviço, por meio da sua divisão de venture capital, a Equinor Energy Ventures, em uma transação anunciada em abril de 2020.
A operação da Micropower Comerc de microgrids, baseados em um modelo híbrido de geração solar e armazenamento usando baterias de lítio, é pioneira no Brasil, atendendo tanto o mercado comercial quanto industrial.
Statkraft
A Statkraft vem diversificando seus ativos com geração eólica e hidráulica nos últimos anos. Seu plano para o Brasil contempla triplicar a capacidade instalada da empresa, que atualmente é de 450MW. O aumento da capacidade será derivado de projetos greenfield e de fusões e aquisições, com o Brasil recebendo uma parte dos US$ 1,2 bilhão em aportes anuais até 2025.
Em um leilão no final de 2019, a empresa ganhou contratos para assegurar a conexão com a rede de energia elétrica, a partir de 2025, equivalente a 375,6 MW. Os contratos de aquisição de energia cobrem 40% da produção prevista e envolvem os empreendimentos eólicos Ventos de Santa Eugênia e Serra de Mangabeira, que tiveram, respectivamente, 75,3 e 12,1 MW comercializados.
A norueguesa também iniciou a construção de um parque eólico localizado na Bahia em 2021, com recursos de R$ 2,5 bilhões. Quando for inaugurado em 2023, o projeto terá uma capacidade instalada de 519 MW, suficiente para fornecer eletricidade para 1,17 milhões de residências brasileiras.