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Criada em 2020, a ABC Brasil Comercializadora, do banco de mesmo nome, quer levar para o mercado livre algo que está no DNA do banco: a concessão de crédito. A meta é estar entre as 20 maiores comercializadoras do país. No ano de estreia, a operação já foi superavitária e este ano começaram as primeiras operações de flow, a compra de sobra de energia de geradores e a subsequente venda para outros agentes. “A gente entra 2022 com uma ambição muito grande, com uma vantagem competitiva também e bastante alinhado com as perspectivas que temos para esse novo negócio”, explica Antonio Nicolini, vice-presidente de Tesouraria e Captação do banco.

Com o crédito como base, ele conta que a comercializadora pode oferecer produtos destinados tanto a geradores, como o pagamento à vista por uma energia disponível que seria entregue apenas no próximo ano, quanto produtos para consumidores, como uma carência maior na venda de energia, de modo que ela concentre os pagamentos quando tiver uma receita maior na sua área de atuação. A atividade da trading tradicional também está presente na comercializadora, assim como as de flow ou com PPAs de longo prazo. “A atividade da comercializadora tem uma sinergia muito grande com o nosso Core, que é a concessão de crédito”, revela Nicolini.

A abertura de mercado tem sido estudada pela equipe da ABC Brasil para identificar a melhor forma de se beneficiar do movimento. Ronaldo Torres, responsável pela comercializadora., vê oportunidades no segmento Middle, composto por empresas que faturam de R$ 30 milhões a R$ 300 milhões e que representam 8% da carteia total de crédito do banco. “São clientes que achamos que vão poder se beneficiar do Mercado Livre na medida em que de fato houver a abertura”, avisa Torres. Na visão do executivo, como o banco já exerce um relacionamento com essas empresas, será natural a criação de produtos para esse tipo de público. “O banco tem o apetite de crédito, temos uma disponibilidade de caixa para fazer algumas operações, temos esse lado financeiro do banco para esses arranjos de energia”, afirma.

Torres conta que tem sentido nos clientes preocupação com a segurança da contraparte. Ele lembra que dos últimos 24 meses, em 14 a variação do PLD médio ficou em pelo menos 40% de um mês para o outro. Isso acaba exigindo uma política de risco de mercado e uma gestão de risco para que ninguém seja pego de surpresa. Outro pedido de alguns clientes é o de assinarem contratos mais longo, de forma a reduzir o custo de energia no ano corrente.

Sobre os abalos que o ACL sofreu em 2019, o head da comercializadora não consegue definir uma solução ideal, mas acredita que o mercado deva se organizar para dar mais segurança e para evitar que alavancagens excessivas tragam prejuízos para a contraparte. “O ideal seria que todo mundo fizesse a lição de casa, para evitar um problema que se difundisse pelo mercado”, observa.

A forte presença de renováveis no ACL também está no radar da comercializadora. O banco ABC Brasil já apoia projetos de empresas desenvolvedoras de geração limpa. A intenção é se aproximar desses geradores, usando produtos como a compra antecipada da energia de projetos de expansão ou de contratos de longo prazo. A comercializadora não pretende atuar na geração. “Com produtos de crédito tradicional e agora com a comercializadora, continuamos também participando [das renováveis] mas participando numa relação de compra e venda de energia com desenvolvedores e com consumidores”, comenta Torres.

Nos últimos anos, a comercialização de energia tem atraído o setor financeiro. Para Nicolini, essa entrada  traz um aspecto de modernidade para a área, içando-a para um estágio de maior organização. “As coisas vão acontecendo de forma muito natural e esse mercado vai passar a ser um mercado sem dúvida mais organizado e mais acessível para todos, de uma maneira muito menos complexa e mais segura”, aponta.