Os modelos computacionais que fazem o cálculo dos preços da energia não capturam de forma adequada os cenários hidrológicos futuros, fugindo da atual realidade do setor elétrico brasileiro. Em evento promovido em dezembro pela Cogen e Unica, Daniel Ito, gerente de Monitoramento Estratégico da Esfera Energética, explicou que nos últimos 10 anos o cenário hidrológico mudou, o que resultou em deterioramento dos níveis dos reservatórios e em uma redução significativa da geração hidrelétrica.

Ito explicou ainda que quando há chuvas expressivas, mesmo que temporárias, os modelos avaliam que a situação melhora. Em seguida, há uma redução dos preços, muitas vezes subestimando o risco das condições dos reservatórios. Porém, se logo em seguida vier uma seca severa, os preços voltam a subir abruptamente, uma vez que os reservatórios não estão em níveis confortáveis ao planejamento.

O gerente da Esfera afirmou ainda desconhecer a causa da relutância em promover uma mudança no sistema de cálculo de preços. Segundo ele, os modelos possuem um peso muito elevado na hidrologia atual, e convergem rapidamente a média histórica de chuvas nas simulações dos cenários hidrológicos futuros, sendo que nos últimos isso não vem ocorrendo. Para Ito, a maior prova de que o próprio operador e os demais órgãos governamentais também não confiam nos modelos, é a necessidade de despachar termelétricas fora da ordem do mérito, sinalizando inconsistência.

Newton Duarte, presidente da Cogen, chamou a atenção para o fato de que o sistema elétrico perde capacidade de potência na medida em que os reservatórios das hidrelétricas passem a registrar níveis mais baixos. Ele lembra anda a intermitência das renováveis, que geram energia quando ao vento, no caso das eólicas, ou quando há insolação suficiente, no caso das fontes solar fotovoltaicas.

Ito deu como exemplo o caso da hidrelétrica de Tucuruí, no Tocantins. Ele detalhou que, se o reservatório desta usina apresentar um nível acima de 30% no início de Janeiro, o PLD passa a cair substancialmente. Esta usina está hoje com 34% de sua capacidade total, o que aumenta significativamente a chance de isso acontecer. No entanto, outras usinas consideradas mais relevantes para o sistema, estão com um percentual de armazenamento menor do que Tucuruí. Furnas, por exemplo, possui atualmente 23% de capacidade. E Serra da Mesa, tem 26% de sua capacidade total.

O executivo adiantou ainda que o ano de 2022, promete mais volatilidade ao sistema elétrico brasileiro. Isto porque os reservatórios estão fechando a ano em cerca de 22% em média de armazenamento. Por sua vez, o PLD, que a poucos meses esteve próximo aos R$ 600 por MWh, hoje está abaixo de R$ 100 por MWh. Ele ressaltou que os preços têm apresentado redução por conta de chuvas substanciais no Sudeste do país. Mas apontou que não tem ocorrido muitas precipitações no Sul, o que pode significar um período mais seco para esta região. Disse ainda que, dadas as condições dos reservatórios, e a queda apresentada nas últimas semanas, os preços começarão a apresentar uma resistência para a queda. Essa situação só melhoraria com a confirmação de um mês de janeiro chuvoso.