As movimentações do mercado de energia brasileiro em torno do hidrogênio, seguindo a tendência global, devem se intensificar a partir deste ano com a perspectiva de lançamento de uma chamada estratégica para projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), dentro do programa regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Isso, considerando que um dos eixos do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) é o fortalecimento das bases tecnológicas para o desenvolvimento da cadeia produtiva desse que vem sendo considerado o “combustível do futuro”.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido para se definir como será a participação do hidrogênio na matriz energética e também para regulamentar sua inserção. Fato é que o hidrogênio terá seu espaço garantido principalmente em razão dos compromissos globais de neutralização das emissões líquidas de carbono até 2050.
Segundo projeções da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a demanda por hidrogênio na América Latina pode aumentar 52% até 2030, considerando suas aplicações em refinarias e produção de amônia, por exemplo. Em um cenário de aceleração, o incremento pode chegar a 67%, impulsionado, também, por novos usos.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontou em seu estudo “Bases para consolidação da Estratégia Brasileira do Hidrogênio” que, além dos usos tradicionais na indústria, novos mercados para o hidrogênio poderão ser desenvolvidos nos segmentos de transporte, geração elétrica, armazenamento de energia e novos processos industriais.
Para o diretor comercial do Lactec, engenheiro eletricista Carlos Eduardo Ribas, no caso do setor elétrico brasileiro, o desenvolvimento da cadeia do hidrogênio deve contribuir para ampliar a participação de fontes renováveis variáveis, como a eólica e a solar, já que pode ser usado como vetor para armazenamento de energia. “Os ganhos são bem representativos principalmente em dois aspectos: despacho e modularidade. A inserção do hidrogênio na matriz poderá assegurar – especialmente em períodos de escassez hídrica – um melhor equilíbrio para o sistema elétrico nacional, que tem a grande vantagem de ser quase que integralmente interligado”, acrescentou.
O Lactec, como um centro de referência em projetos de P&D para o setor elétrico, vem se antecipando às demandas tecnológicas para a inserção do hidrogênio na matriz brasileira que, ao que tudo indica, deve estar associada ao desenvolvimento de outras fontes como a eólica offshore e térmicas a gás natural com captura, utilização e armazenamento de carbono (CCSU, na sigla em inglês). “Além do desenvolvimento tecnológico, podemos contribuir com subsídios técnicos para a regulação da inserção do hidrogênio como um ativo também do setor de energia”, apontou o executivo, lembrando que a empresa já trabalha na estruturação de uma carteira de projetos na área.
Visão de futuro
Algumas empresas do setor elétrico já largaram na frente na corrida pelo desenvolvimento da cadeia de hidrogênio. Esse é o caso da Neonergia – um dos maiores players de fontes renováveis do país para o qual o Lactec tem executado projetos de P&D em diversas frentes. Segundo informações passadas pela assessoria de imprensa do grupo, a Neoenergia está atenta às oportunidades que estão surgindo com o movimento de transição energética, inclusive, em relação ao hidrogênio, levando em conta que o Brasil estará entre os menores custos globais de geração de hidrogênio verde em 2050, segundo estudo da BloombergNEF (BNEF).
Um dos primeiros passos do grupo foi estabelecer uma cooperação com o Governo de Pernambuco para preparar o Porto de Suape, na região metropolitana de Recife, para ser um hub de produção de hidrogênio verde no futuro. “A parceria firmada é de extrema relevância para o país, visto que Suape possui um polo petroquímico, com localização estratégica para áreas destinadas a terminais, logística, serviços e indústrias, em especial, aos mercados europeus e americanos”, justificou a empresa, que enxerga os investimentos em energia verde como estratégicos para a recuperação da economia.
Diversificação das fontes
A aposta da Neoenergia em energia limpa e sustentável envolve o desenvolvimento de outras fontes. “Descobrimos um grande potencial na eólica marinha, assim como no hidrogênio verde, importante vetor para acelerar a descarbonização industrial e para contribuir para eletrificação dos processos. Ambos estão em fase de estruturação regulatória justamente para que possam ser incorporados no movimento da transformação energética”, informou a empresa.
Para o grupo, a modernização da matriz elétrica brasileira inclui a incorporação de novas tecnologias. “Somos diariamente incentivados a realizar investimentos tecnológicos, requerendo inovação na medida em que avançamos. Há um processo até que as novas tecnologias se tornem disponíveis para grande parte da população e estamos contribuindo com esse avanço.”
Os estudos de aproveitamento de eólicas offshore também já fazem parte do portfólio de projetos de P&D do Lactec. Além do aspecto construtivo para “tropicalização” dessa tecnologia, que já é empregada em grande escala no Reino Unido, Europa e Ásia, são estudados aspectos ambientais.
A vez das eólicas offshore
Para o diretor da Associação Brasileira de Eólicas Marítimas (Abemar), engenheiro eletricista Acácio Wey, a expansão da geração de energia elétrica no Brasil, no médio prazo, deverá incluir as eólicas offshore de grande porte, que contribuirão majoritariamente para viabilizar a produção em larga escala de hidrogênio verde. “Isso porque com as centrais eólicas offshore não ocorrem certas limitações características das demais fontes primárias renováveis, o que faz com que a maioria delas só possa contribuir com uma parcela menor na energia elétrica demandada pela produção tão eletrointensiva do hidrogênio verde”, esclareceu.
Wey defende que as eólicas offshore de grande porte, maiores que 1 gigawatt (GW) de potência instalada, serão necessárias, ainda nesta década, não só para manter a matriz elétrica brasileira tradicionalmente entre as mais limpas em âmbito mundial, como também serão decisivas para manter a segurança operacional do Sistema Interligado Nacional (SIN), papel esse desempenhado até então pelas hidrelétricas com grandes reservatórios.
De acordo com o representante da Abemar, estudos sistêmicos com simulação, incluindo-se grandes centrais eólicas offshore de potência superior a 1 GW, implantadas na costa do Nordeste, indicam que cada GW instalado pode operar na base com cerca de 275 MW firmes/ano, ou seja, mantendo essa energia primária constante injetada no SIN ao longo do ano. “A produção de energia secundária, que é variável com a velocidade dos ventos, entre 275 MW e 1 GW, pode ser totalmente aproveitada localmente para a produção e armazenamento de hidrogênio verde ou para a dessalinização da água do mar”, afirmou Wey.
O engenheiro explicou ainda que, como essas cargas são flexíveis, elas podem ser moduladas controladamente ou mesmo interrompidas, e a energia correspondente passa a ser transferida instantaneamente para o SIN para restabelecer a normalidade operativa.
Há uma grande expectativa de que as eólicas offshore sejam incluídas nos leilões de energia já a partir de 2022, conforme sinalizou o Ministério de Minas e Energia (MME).
(Nota da Redação: Conteúdo patrocinado produzido pela empresa)