Furnas desenvolveu uma plataforma que utiliza a tecnologia blockchain para a emissão e comercialização de certificados de energia renovável. A iniciativa da controlada da Eletrobras vislumbra um mercado em expansão e que tem acontecido mais rapidamente em outros países por conta das matrizes ainda dependentes do petróleo e carvão, a elétrica. No ano passado a soma de negociações foi da ordem de R$ 1 milhão.

Para 2022 o RECFY está cadastrado como opção no segundo leilão da companhia para venda de títulos que comprovam a origem da energia utilizada por empresas e corporações, referente nesse caso a verificação de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) por aquisição de energia elétrica da UHE Mascarenhas de Moraes (476 MW,RJ/MG).

Em entrevista à Agência CanalEnergia, a Superintendente de Estudos de Mercado e Inovações na companhia, Fabiana Teixeira, destacou um mercado incipiente e totalmente bilateral em desenvolvimento, e que o objetivo não é concorrer com o I-REC, principal instrumento no país nessa área, mas sim estabelecer como uma alternativa mais em conta e com os mesmos parâmetros dos certificados laureados pelo Instituto Totum.

“É uma forma de diversificação de negócios. A ideia é ser um grande player na área de descarbonização, que dialoga diretamente com o desenvolvimento da plataforma interna para as certificações”, comentou Fabiana, afirmando que o preço varia entre R$ 1 a R$ 2,50 o MWh a depender da fonte, prazo e quantidade. Como é um produto nacional o valor é inferior ao I-REC, visto a parcela ser pago em Euro.

RECFY vai comprovar energia vinda da UHE Mascarenhas de Moraes em leilão de certificados (Furnas)

A executiva explica que seguindo os requisitos do Programa Brasileiro GHG Protocol e da norma NBR ISSO 14.064-2:2007 da Bureau Veritas, a plataforma tem como diferencial o uso do blockchain em todos seus cursos, desde a geração e emissão até a aposentadoria do certificado, gerando códigos imutáveis e intransferíveis, com toda rastreabilidade necessária.

“O que nos foi dito é que precisávamos cumprir certos critérios, como não haver dupla contagem, necessidade de interligação ao SIN, entre outros requisitos”, lembra a superintendente. E explica que esse mercado ainda é voluntário no Brasil mas tem crescido “absurdamente” mesmo com a pandemia, apresentando tanto demanda quanto oferta de empresas procurando seguir a pauta ESG para as questões de marca, imagem e sustentabilidade para relatórios e resultados corporativos.

Reconhecimento e potenciais

Além dos consumidores finais e comercializadoras que vendem os certificados junto à sua energia, geralmente em um pacote premium, Fabiana Teixeira afirma que muitos bancos têm procurado a empresa, formando um grande potencial a ser explorado.

Vale lembrar que recentemente o RECFY colocou Furnas entre as 100+ Inovadoras no Uso de Tecnologia da Informação em 2021, em uma lista desenvolvida há 21 na pela empresa IT Mídia. A seleção, feita por um comitê de especialistas e jornalistas, considerou 255 projetos, analisando os resultados obtidos pelos negócios, a cultura e os processos de inovação adotados.

Furnas pode testar uso do blockchain em plataformas de comercialização no mercado livre 

Na avaliação de Fabiana Teixeira o blockchain foi muito testado e veio para ‘disruptar’ vários segmentos da sociedade, ainda que o setor elétrico seja um pouco mais resistente, até pela segurança que tem de haver ao lidar com vidas. “Garantir que uma transação seja imutável é fantástico”, assente.

Ela afirma também que a empresa tem enxergado outras oportunidades para a tecnologia na área de trading e soluções em geração e transmissão, destacando que a plataforma foi o primeiro desenvolvimento em um sandbox construído e que abrigará outras soluções no futuro, provavelmente na área de comercialização no mercado livre.

Leilão

Para esse próximo leilão do dia 17 de fevereiro, a dirigente disse que o preço deve alterar e que a expectativa é para um certame “muito bom”, com aumento na procura por empresas que querem se mostrar para o mercado durante o leilão mas também nas negociações após o evento. “De janeiro a abril é a época mais favorável e de mais movimentação nesse mercado, embora vendemos certificados o ano inteiro”, complementa.

Além do RECFY o certame também contará com o I-REC, a partir da comprovação vindas das produções das hidrelétricas Itumbiara (2.000 MW, GO), Serra da Mesa (1.200 MW, GO) e do Compelxo Eólico de Fortim (123 MW, CE). Futuramente Furnas estuda adicionar mais usinas de fontes hídricas e eólicas.