A Cesp colocou em atividade a segunda usina termossolar do Brasil. Localizada em Rosana (SP), a planta piloto é capaz de demonstrar que a tecnologia heliotérmica é tecnicamente aplicável no contexto nacional e traz a vantagem de uma produção de energia controlável e menos suscetível aos impactos da intermitência da luz solar. O projeto é fruto da chamada estratégica de P&D de 2015 e teve como parceiros os Institutos Lactec, Eudora Energia, e a MRTS Consultoria e MFAP Consultoria.
A iniciativa recebeu R$ 57 milhões em investimento regulado pela Aneel desde 2017 para a construção e integração de uma usina de 0,5 MW junto ao complexo da hidrelétrica Porto Primavera, que conta também com estruturas experimentais de tecnologia solar fotovoltaica e sistemas de armazenamento de energia. A planta poderá atender a 360 residências de consumo médio em torno de 180 kWh/mês, informa a empresa.
Conhecido também como CSP (concentrating solar power), o tipo de tecnologia escolhido para o empreendimento parte de um processo semelhante ao das termelétricas, porém utilizando o calor do sol como fonte ao invés de combustíveis fósseis e poluentes. O ativo foi implementado com as chamadas calhas parabólicas, formadas por painéis compostos por espelhos côncavos que seguem a posição do sol. O calor capturado aquece um fluido de transferência que circula por tubos posicionados na linha de foco dessas calhas, produzindo vapor que movimenta turbinas para, enfim, gerar eletricidade.
Geração heliotérmica permite maior controle da produção e traz outros atributos a gestão do SIN (Cesp)
Armazenamento
Segundo a Cesp, a principal vantagem da geração heliotérmica em relação às outras fontes renováveis intermitentes é a possibilidade de armazenamento de calor e utilização em momentos de maior interesse para o sistema elétrico. O fluido aquecido pode continuar fornecendo energia térmica para as turbinas mesmo após o pôr do sol.
“Em unidades de grande porte essa geração se estende por até 18 horas, conferindo à usina capacidade de gerar energia mesmo sem a presença da fonte e proporcionando maior controle sobre os processos”, afirma o gerente de Engenharia de Operação e Manutenção da Cesp, Luis Paschoalotto.
Outra particularidade é que os painéis são constituídos de espelhos de alumínio com filme refletivo, material com maior vida útil do que o vidro, utilizado na maioria das estruturas comerciais fotovoltaicas. “A fonte mostra atributos importantes para a gestão do SIN, como a capacidade de controle da produção e a inércia associada às máquinas rotativas”, complementa, afirmando que o calor produzido também pode ser aproveitado em outros processos industriais, como os de cogeração ou para usinas híbridas.
No entanto, Paschoalotto pondera que para a tecnologia ganhar escala e competitividade na matriz elétrica brasileira é necessário haver incentivo, visto a demanda de investimento para implantação, operação e manutenção ainda ser significativamente superior à das fontes eólica e solar.
Hidrogênio verde
O complexo da UHE Porto Primavera também abriga um projeto de P&D que pesquisou o armazenamento de energia através do hidrogênio verde, considerado o combustível do futuro. A geração do vetor energético ocorre pela eletrólise da água, ou seja, quando uma corrente elétrica passa pela molécula da água e a divide em oxigênio e hidrogênio, consumindo energia elétrica e produzindo o H2, que é armazenado sem resíduo poluente.
As demais iniciativas de diferentes tecnologias desenvolvidas atualmente no complexo somam pouco mais de 1 MW. Há, ainda, uma estação solarimétrica que mensura, principalmente, parâmetros de radiação solar e dados meteorológicos.