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Impulsionada pelo crescimento de pedidos e cotações do setor privado nos últimos meses, a BYD anunciou novos planos de desenvolvimento e comercialização de módulos fotovoltaicos e veículos elétricos no Brasil, onde comemora cinco anos de atuação. O diretor de marketing e sustentabilidade da companhia, Adalberto Maluf, falou à Agência CanalEnergia sobre as perspectivas dos negócios, citando um contexto favorável para os produtos de baixo carbono a partir de motivações vindas da agenda ESG e pelos processos de reconstrução da economia pós-covid.

“Acreditamos que finalmente o mercado brasileiro entra num momento de ampliar os projetos pilotos iniciados há quatro ou cinco anos em iniciativas lideradas pelo governo e prefeituras”, disse o executivo, que viu um bom ano para ambos os segmentos apesar da pandemia, relatando a ampliação na base de clientes e a capilaridade dos distribuidores solares, além da efetivação da logística verde por meio de furgões e outros veículos mais pesados.

A multinacional pretende expandir de 1,5 GW para 2 GW a comercialização de módulos FV até o fim do ano no país, apostando em uma nova linha de produção entre 525 Watts (W) a 670 W na sua primeira fábrica em Campinas (SP), cuja reinauguração está planejada para abril. “Foram cinco anos utilizando uma tecnologia que ficou ultrapassada pelo avanço tecnológico dos supermódulos”, comenta Maluf, informando que vários contratos já foram traçados para os parceiros comerciais receberem os produtos no segundo semestre.

Nessa nova fase e com o arrefecimento da pandemia a BYD irá ampliar novamente sua produção em três turnos e para 500 MW de capacidade ao ano, com a meta de seguir aumentando a produção e os lucros. Globalmente o executivo refere a fabricante como a primeira do mercado nos módulos policristalinos, apresentando um market share de 20%, numa relação de 2 GW entre 8 GW comercializados no mundo.

Nova família de supermódulos será montada em Campinas com potências de 525 a 670 Watts (BYD)

Mais eficiência

Além de novos equipamentos de última geração, que elevam o nível de automação e tecnologia nos processos de fabricação, foram agregadas diversas tecnologias como multi-busbar, half-cell, 1/3 cut cell, micro-gap e negative-gap. As novas instalações também admitem que a produção fique compatível com todas as dimensões de células atualmente disponíveis no mercado. Assim é possível realizar a laminação e o encapsulamento de módulos convencionais ou double-glass.

Com eficiência próxima aos 21%, os módulos são indicados para utilização em sistemas residenciais, agronegócio ou ainda em comércios, indústrias e sistemas isolados off grid. “Aos poucos vamos entrar em alguns projetos ajudando a viabilizar a equação financeira para construção das primeiras usinas em 2022”, relata Adalberto, ressaltando que a montagem poderá acontecer também na fábrica de Manaus, no intuito de atender aos mercados dos sistemas isolados, do Programa Luz para Todos, entre outros.

A unidade amazonense é a última instalada pela companhia no país e é destinada a fabricação de baterias de lítio, focada ainda nos veículos mas que terá uma gama de produtos para outros tipos de sistemas de armazenamento no futuro. Depois de produzida a solução é montada em Campinas, onde também passa por testes em laboratório.

Para evoluir tecnologicamente a empresa já investiu R$ 47 milhões desde 2017 na sua área de Pesquisa & Desenvolvimento, através principalmente de parcerias com a Unicamp e os Institutos Eldorado e mais recentemente o CTI Renato Archer. Esse último consiste num projeto que busca eficiência superior a 30% nos painéis através da junção dupla entre células individuais de silício cristalino e materiais perovskita, um dos semicondutores sintéticos mais promissores para a geração solar.

Outro destaque foi a criação do laboratório para P&D de armazenamento no ano passado, um projeto interno chamado Fênix, assim como outros nas chamadas da Aneel em parceria com a CPFL Energia e o CPQD, sobre segunda vida de baterias de veículos elétricos após oito ou dez anos para reaproveitá-las nos sistemas estacionários de energia.

Fábrica de módulos em Campinas irá aumentar capacidade de produção para 500 MW ao ano (BYD)

Produção nacional

Questionado sobre quais insumos a subsidiária brasileira ainda compra da China, Adalberto Maluf salientou que a meta é nacionalizar ao máximo a produção para depender cada vez menos de importações, citando que as células fotovoltaicas são trazidas do oriente para o corte e tratamento feitos aqui, assim como a linha de montagem, que conta com todos os componentes nacionais.

Para o executivo, o Brasil reúne condições de prover quase todas as cadeias produtivas, inclusive a do Silício, sendo hoje um grande exportador para depois importar as células. Ele inclusive acredita num potencial de beneficiamento e desenvolvimento para produção das células no futuro, estando no plano da empresa a ampliação da fábrica de módulos em Campinas para viabilizar, por investimento próprio ou parceiros, essa produção de células brasileiras.

Já na mobilidade elétrica o diretor aponta que os chassis de ônibus atualmente possuem uma nacionalização de 30% na outra fábrica em Campinas, taxa que sobe para 100% em relação a carroceria dos veículos elétricos (VEs), estes já elegíveis ao Programa Produtivo Básico do BNDES, para financiamento via Finame.

Com 73% do market share de ônibus elétricos vendidos na América Latina, representando 1.286, a empresa conta com mais de 600 diferentes VEs em circulação no Brasil, entre pesados e leves, sendo 70 ônibus rodando a partir de contratos com as prefeituras. O crescimento deve vir pelas renovações das frotas públicas, como na próxima entrega em São José dos Campos e no caso de São Paulo, que impulsionado pela lei do clima prevê eletrificar sua frota com 2 mil ônibus nos próximos anos.

Furgão T3 foi o mais emplacado no Brasil em 2021 e mostra potencial para logística verde no país (BYD)

Estratégia para os leves

Outra frente de destaque é a chamada logística verde, visto o modelo T3 ter sido o furgão mais emplacado no mercado nacional em 2021, com 51% do market share e muito utilizado por locadoras que alugam para frotistas. Vale lembrar que numa conta prática os VEs já valem a pena para quem roda mais de 180 km por dia, segundo a Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos (Abravei).

“Dois dos dez elétricos mais vendidos foram comerciais leves como furgões, o que mostra um crescimento importante da logística verde e o Brasil se inserindo nessas matrizes globais, como no caso do caminhão elétrico, que saltou 1100%, saindo de 30 para 300”, destaca Maluf.

O modelo T3 possui autonomia para até 300 km e possibilidade de recarga rápida de 20% a 80% da bateria em apenas 30 minutos, o que garante até 180 km a mais de viagem. Também apresenta limitação da velocidade para até 100km/h, trazendo mais segurança e autonomia, além de novos packs de baterias elétricas para uma recarga mais rápida e estável.

A BYD também entra em 2022 em uma nova fase no que tange a venda de carros elétricos leves para pessoa física. O plano é abrir 45 concessionárias até o fim do ano em parceria para alavancar o mercado, com definições já em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Uberlândia, Juiz de Fora, Maringá, Caxias do Sul, Vitória e Vila Velha (ES).

Sedan esportivo Han estará disponível para venda em 45 concessionárias em parceria pelo Brasil (BYD)

As concessionárias farão a revenda de três veículos 100% elétricos a partir de abril: o T3, a SUV Tan de sete lugares e o Han, um sedan mais esportivo. “No segundo semestre serão lançados dois modelos híbridos plug-in, assim como um sistema fotovoltaico para ter um ciclo de emissão zero”, resume Maluf, afirmando que foram trazidos cerca de 250 veículos numa primeira tranche.

Na visão do executivo o fator guerra acabou acelerando a percepção dos governos e das empresas sobre a necessidade de investimentos e em dar escala a transição energética para as fontes renováveis e a mobilidade elétrica, fazendo com que os preços dos combustíveis fósseis aumentassem. As cadeia produtivas sofrerão impactos, que afetarão direta ou indiretamente aos agentes, mas não tanto a multinacional.

“Claro que vivemos uma crise das cadeias produtivas, como a de semicondutores, além do aumento dos fretes e dificuldades de disponibilidade, mas temos muitas relações de parceria e os fretes e fornecedores em dia e em ampliação, inclusive com uma unidade de semicondutores”, destaca.

Em fevereiro a holding registrou 93 mil VEs vendidos, aumento de quase 150% na relação anual, além de ter cinco entre os dez elétricos mais emplacados no mundo em 2021, chegando a quase 600 mil veículos totalmente elétricos e híbridos plug-in comercializados na China, um salto de 232% em relação ao ano anterior, o que colocou a empresa como uma das 100 mais influentes companhias do mundo pelo segundo ano consecutivo na lista elaborada pela revista Time. Em 2022 mantém-se como a segunda maior em vendas globais, atrás da Tesla.

Perspectivas

Para a realidade brasileira Adalberto crava que tanto eletromobilidade quanto energia solar devem dividir o faturamento da companhia em 2022, o que anteriormente acontecia majoritariamente pelo segmento fotovoltaico. A ressalva é que para a mobilidade não é esperado um grande volume de vendas, visto ser o primeiro ano de expansão da operação nas concessionárias, dedicando-se muito mais nesse momento a ampliação dessa estrutura.

“2022 é o ano de colher muitos desses projetos que estão maturando a algum tempo e alguns represados pela pandemia. Por um lado temos o copo meio cheio e por outro vazio no sentido de que nada mudou em relação a falta de uma política nacional e industrial, sobretudo para os veículos elétricos”, atenta o executivo.

Reeleito recentemente na presidência da Associação Brasileira dos Veículos Elétricos (ABVE), Maluf ressalta que o último marco no setor foi a criação da Frente Parlamentar em Defesa da Eletromobilidade, que na sua opinião será um catalisador para estudar a linha de base, desafios e oportunidades visando sensibilizar o governo federal.

“Não há como uma política de transformação tecnológica acontecer sem o governo, que tem de ser o líder e o que não acontece no Brasil tanto nesse mercado quanto para as energias renováveis”, aponta, rogando que esse ano seja o da consolidação dessas informações e da união dos esforços junto a Plataforma Nacional da Mobilidade Elétrica, criada no ano passado envolvendo a sociedade civil, governo e outros atores.