O setor elétrico brasileiro acostumou-se a ouvir que a operação do sistema do futuro seria mais complexo devido ao alto grau de incertezas que as renováveis não despacháveis traria ao país. Um outro ponto de destaque que deve ser adicionado à equação são os eventos extremos cada vez mais presentes. Para resolver essas questões a resiliência e flexibilidade são atributos que serão cada vez mais valorizados.

Essas características podem ser encontradas tanto em geração quanto em transmissão. Seja com as hidrelétricas e leilões de capacidade, que inclusive foi o tema de reportagem especial do Portal CanalEnergia há 10 dias, ou por meio de uso de dispositivos como baterias físicas em sistemas de transmissão tornando esses tradicionais ativos mais flexíveis para a garantia do suprimento.

Jairo Terra, consultor da PSR, lembra que fatores como maior demanda e a eletrificação das cidades são pontos que acrescentam mais incertezas. E para fazer frente a essa equação mais complexa, é necessária a inserção de recursos flexíveis para fazer frente ao desbalanço que pode ser causado.

Na avaliação do público do Workshop PSR/CanalEnergia, realizado nesta terça-feira, 19 de abril, a resposta da demanda e o uso de térmicas de ciclo aberto são os recursos de flexibilidade que deverão fazer parte do sistema em um menor espaço de tempo. O objetivo de atribuir maior flexibilidade é a de manter o balanço entre a geração e a demanda. Inclusive, a EPE vem sinalizando a necessidade de se ter um sistema com essa característica.

Nesse sentido, continuou Terra, a PSR vem trabalhando na viabilização de uma solução para a remuneração de novos investimentos para que as usinas possam prover recursos para o sistema. A consultoria destacou um projeto de P&D com a Isa Cteep, divulgado recentemente onde a transmissora passou a usar um banco de baterias em decorrência de atrasos nas obras de uma linha de transmissão para conseguir manter o suprimento de energia no litoral paulista.

“A flexibilidade é um conceito subjetivo e relacionado a uma série de serviços que fazem a garantia de equilíbrio entre carga e geração. A forma de contratar e remunerar depende de qual serviço falamos, se é reserva, é interessante termos como mercado, assim como outros países já fazem. As UHEs são um recurso valioso em provisão de reserva e a gente valora pouco no Brasil”, sugeriu o executivo.

A questão da remuneração é outro ponto que foi debatido no evento. Em geral é o consumidor quem paga. Na análise da PSR, quem causa é quem paga, e isso traz otimização do sistema. Agora, quando não é possível identificar um causador e o benefício é sistêmico, todos devem pagar pelo serviço.

No segmento de transmissão, lembrou Martha Carvalho, gerente da Área de Transmissão na PSR, a remuneração é um tema mais simples e claro, é feito por disponibilidade do equipamento assim como acontece atualmente. Segundo ela, esse modelo poderia ser aplicável aos ativos que trazem esse valor ao sistema.