Será lançado ao mercado brasileiro da construção civil na próxima quarta-feira, 27 de abril, o Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção (Sidac), uma plataforma web que permitirá calcular a pegada de energia e de carbono de produtos de construção fabricados no Brasil.

“Pela primeira vez, teremos no Brasil um sistema que reúne dados de desempenho ambiental de produtos de construção que hoje se encontram dispersos em publicações científicas, relatórios e outros documentos. Os sistemas análogos que usam dados internacionais não representam a realidade brasileira e podem levar a decisões equivocadas”, disse o professor Vanderley John, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), diretor do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), responsável pelo desenvolvimento e coordenação do sistema.

Ao que tudo indica, o sistema permitirá ao usuário conhecer a demanda de energia primária e emissão de CO2, ou seja, desde a extração dos recursos naturais necessários para fabricar o material de construção até a porta da fábrica. O Sidac é baseado em uma abordagem simplificada da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), focada nas questões ambientais mais importantes para a cadeia de valor da construção.

“Ter uma ferramenta nacional confiável, desenvolvida com base na análise de ciclo de vida e nas normas internacionais e europeias será fundamental para trilhar um caminho de baixo carbono no setor da construção civil, dialogando diretamente com o Acordo de Paris. Acreditamos que o Brasil está dando um passo muito importante e servirá de exemplo para muitos outros países”, afirma o representante da União Europeia, Pedro Ballesteros Torres (Direção-Geral de Energia da Comissão Europeia).

Diante deste cenário, o Sidac terá funcionalidades que permitirão aos fabricantes cadastrar seus inventários de ciclo de vida, submeter seus dados à revisão de especialistas e publicar as declarações de desempenho ambiental de seus produtos. Tudo em uma única solução digital, amigável e acessível para pequenos e médios fabricantes.

Vale destacar que o sistema nasce do programa Strategic Partnerships for the Implementation of the Paris Agreement (SPIPA), coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), financiado pelo Instrumento de Parceria da União Europeia, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Segurança Nuclear e Defesa do Consumidor (BMUV, em alemão), e implementado pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ).

“Para enfrentar as mudanças climáticas, um dos pontos fundamentais para o setor da construção civil é reduzir a intensidade energética associada aos processos de fabricação, reduzindo a energia e o CO2 embutidos nesse processo. A ferramenta Sidac vai proporcionar o acesso a essas informações e o aprimoramento dos processos, contribuindo para orientar as políticas públicas, estimulando uma economia de baixo carbono”, ressalta o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do MME, Carlos Alexandre Pires.

Segundo o MME, o Sidac chega em um momento oportuno no mercado brasileiro da construção e será uma ferramenta essencial para se pensar uma economia mais sustentável e de baixo carbono.

Informe técnico

Nesta terça-feira, 26 de abril, o Ministério de Minas e Energia em conjunto com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgou o segundo informe técnico da série “O papel das cidades no uso da energia”.

De acordo com a EPE, o desafio de transição do sistema energético para uma economia de baixo carbono passa a adicionar aspectos muito presentes no ambiente urbano. Deve-se reconhecer que, em uma “cidade inteligente”, a adoção de tecnologia necessita tornar as cidades mais sustentáveis, melhorando a qualidade de vida de sua população.

O primeiro Informe aborda o tema: “O que são cidades inteligentes e sustentáveis?” Ele mostra que as cidades têm um papel relevante no consumo de energia e devem buscar estratégias de aumento de resiliência e de descarbonização que podem envolver investimento em eficiência energética, energias renováveis, soluções de mobilidade, entre outros, como forma de minimizar os impactos ambientais. Já sob a perspectiva energética ele aponta para alterações significativas nos sistemas energéticos, o que inclui a sua reconfiguração, e envolve a consideração dos principais usuários finais de energia, das edificações e dos setores de transporte e indústria.

Já o segundo Informe mostra uma análise para compreender determinadas tendências e iniciativas que se concretizam no ambiente das cidades inteligentes de forma particular e estão promovendo a reconfiguração do sistema energético com impactos potencialmente amplos no médio e no longo prazo.

Estas tendências ou iniciativas, se traduzem por exemplo, na implementação de novos modelos de negócio, inovação em design de produtos e engenharia de materiais que permitam a transição de uma economia linear para um modelo circular, promovendo a segurança do suprimento de energia, redução na dependência de importação de insumos e da geração de resíduos. É citado o aproveitamento de resíduos sólidos urbanos ou efluentes de estações de tratamento de esgoto em plantas de biogás para a geração de energia elétrica, energia térmica e biometano.

Além disso, a ampliação dos ganhos de eficiência energética do setor de edificações, a qual pode se dar desde a forma pontual na troca do sistema de iluminação até um formato mais amplo envolvendo a integração e otimização contínua da edificação com a rede elétrica, permite fornecer flexibilidade de demanda e ao mesmo tempo busca otimizar o custo de energia. Por outro lado, através da disseminação de recursos energéticos distribuídos nas cidades, tais como a geração distribuída e o armazenamento de energia, torna-se possível a postergação de investimentos nas redes de transmissão e distribuição.

A energia é uma componente fundamental nesse processo e se destaca pelas diferentes formas como as pessoas podem utilizá-la no dia a dia das cidades para diversas finalidades. No entanto, os desafios de adequação do seu uso têm sido colocados ao longo do tempo, seja pela escassez de fornecimento (via oferta) ou pelo crescimento paulatino da demanda nos núcleos urbanos.

Atualmente, o desafio de transição do sistema energético para uma economia de baixo carbono passa a adicionar diversos aspectos muito presentes no ambiente urbano. Dentre eles, a economia circular, a eficiência energética nas edificações, o uso de recursos energéticos distribuídos (RED) e a adaptação da mobilidade urbana despontam como algumas das principais formas de promoção da inteligência no uso da energia nas cidades. Deve-se reconhecer que em uma “cidade inteligente” a adoção de tecnologia deve tornar as cidades mais sustentáveis, melhorando a qualidade de vida de sua população.