O setor elétrico brasileiro computou quase 5 mil desligamentos forçados em sua rede no biênio 2020-2021, sendo mais de 3 mil entre a malha de 170 mil km de transmissão e 410.881 MVA de transformação no país. A afirmação deriva da apresentação do especialista em regulação da Superintendência de Fiscalização dos Serviços de Eletricidade (SFE) da Aneel, Esilvan Cardoso dos Santos, durante a quinta edição do Seminário dedicado ao Sistema Gestão Geoespacializada da Transmissão (GGT) e outras implementações na área de monitoramento e inspeção do regulador.
O levantamento, que usa dados do ONS junto ao GGT, mostra que o montante acima reduziu perante os aproximadamente 12 mil desligamentos totais em 2020. A predominância das ocorrências no entanto seguem pelas queimadas, sobretudo no período crítico de julho a outubro e que podem atrapalhar a rede elétrica tanto pelo fogo quanto pela fumaça. O próprio programa de dados para a gestão começou em 2013 por conta de um blecaute provocado por uma queimada em dois circuitos que afetaram toda região Norte e Nordeste, intensificando as ações da SFE na época.
Para o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, o principal problema no passado era a falta da confiabilidade no período seco. A partir de 2017 um número considerável de linhas passou a ser monitorado, com o crescimento dos desligamentos sendo mais discreto ao mesmo tempo em que a rede seguiu sua expansão. Soma-se a isso as tecnologias de redundância e os investimentos que asseguraram os principais troncos de transmissão no país.
“O sistema passou a ter resiliência, sendo possível no ano passado elevar os limites de intercambio do Norte e Nordeste para o Centro e Sul, o que permitiu reduzir o efeito na tarifa do consumidor. Sem nenhum evento de grande impacto, a transmissão passou incólume sobre a crise hídrica”, comentou o diretor.
O GGT tem por finalidade fornecer de forma automática as informações gerenciais acerca da situação das manutenções das faixas de segurança das linhas de transmissão consideradas mais críticas com relação à incidência de ocorrências provocados por queimadas e incêndios florestais.
A solução, que será integrada a novos projetos da Aneel para melhor assertividade e composição dos dados, realiza os cruzamentos de informações obtidas a partir do processamento digital de imagens de satélites com as fornecidas mensalmente pelas próprias concessionárias, além de evidências fotográficas produzidas por meio do aplicativo mobile.
O especialista em regulação da SFE, Paschoal Guido, atribuiu a redução de 25% na taxa de desligamentos e 50% no corte de carga a intensificação do monitoramento e fiscalização nos últimos cinco anos, citando também o aprimoramento das transmissoras nas faixas de operação e maiores interações com proprietários de terras por onde passam as linhas, como no caso dos canavieiros. Por outro lado entende que as empresas devem melhorar a qualidade dos dados passados ao ONS, principalmente os relacionados a inspeções em vãos.
Integração de dados
A ideia agora do regulador é congregar os dados georreferenciados de todas as linhas da rede básica e outros para melhorar a assertividade das providências e acompanhamento mais confiável da rede, concentrando em uma única plataforma as principais informações dos ativos de transmissão dispersos em diferentes bases de dados da Aneel e em outras instituições. Até o momento a Base de Dados das Instalações de Transmissão (BDIT) possui 82 LTs controladas entre 17 transmissoras e 33 mil km de linha importantes para o sistema e também suscetíveis a ocorrências.
“Tivemos nesse tempo a incorporação do bipolo Xingu-Estreito e agora está em vias de implementação do terminal da XRTE, fora o seccionamento de algumas linhas que já eram monitoradas, num trabalho complexo para validação dos dados e coordenadas exatas”, destacou Paschoal, lembrando que a maioria das linhas nesse sistema estão localizadas no Norte e Nordeste e não estavam georreferenciadas na base do ONS, sendo necessário o contato direto e validação com as transmissoras.
O especialista admitiu a atual grande dificuldade de consumir os dados das muitas torres de transmissão e que é complicado expandir o sistema, mas que o projeto BDIT trará a oportunidade de ter uma base confiável para definir as prioridades entre interligações regionais e aquelas linhas cujo histórico indicam a incidência de queimadas.
Ademais os presentes no evento destacaram a visão do projeto de um futuro digital se intercalando com o mundo físico, ressaltando evoluções incrementais como a resolução espacial das imagens sendo melhorada em três vezes, com atuais 10 metros por pixel e a resolução temporal passando de 15 dias para uma frequência de 5 ou 6 dias.
Outras funcionalidades também estão no radar, vide usos de aplicativo e integração de imagens e outras plataformas, além de Inteligência Artificial para apoiar os processos e todas as melhorias na qualidade do monitoramento e limpeza de faixas e atuação dos agentes. “A ideia é que o planejamento do setor use a base desse sistema para definir aqueles projetos considerados ideais”, finalizou o representante da SFE, Eduardo Martins.