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Com uma tese de atuação inovadora e ainda não aplicada de forma sistêmica no mercado, a gestora de recursos Siga está em busca de novos comercializadores e geradores de energia para identificar oportunidades de investimentos no mercado livre, de olho na análise dos contratos de venda com consumidores finais.
Em entrevista à Agência CanalEnergia, o diretor de gestão da companhia, Leonardo Ritzmann Loures, disse que a ideia é criar instrumentos para customizar o fluxo e focar na parte de crédito sem barreiras aos clientes, mirando subir para R$ 300 milhões as contrapartes no Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC).
“Trazemos uma tecnologia de análise capaz de customizar custos, com os recursos que sobram sendo utilizados pelas empresas para outros destinos”, resume o executivo, lembrando que operações de crédito na faixa de R$ 10 milhões chegam a levar até seis meses em um banco tradicional.
A empresa usa os dados públicos da CCEE para averiguar os volumes transacionados por cada player e avaliar os comportamentos entre os diferentes grupos, especialmente para entender qual a participação de venda para consumidores finais.
O direcionamento é para tomadores de decisão de 12 meses até 48 meses, sem limite de crédito, tanto inferior, quanto superior. Bancos de menor porte, entidades de previdência, outras gestoras, fundos de investimento, family offices e investidores estrangeiros são alvos, agentes que conhecem o setor elétrico mas ainda não tão a fundo a ponto de saírem sozinhos das suas zonas de conforto, no caso as ações e debêntures de empresas listadas na Bolsa.
No primeiro fundo, coordenado pela Rio Bravo Investimentos entre outubro do ano passado e março de 2022, a gestora captou R$ 61 milhões junto a 25 investidores profissionais, já que ainda não pode acessar o investidor comum, aguardando a abertura do mercado, que na visão do executivo irá reduzir o preço do crédito no país. “A energia só vai baratear quando tivermos tecnologia, concorrência e disponibilidade”, pontua Loures.
Ele também salientou que a Siga não tem pretensões de abrir uma comercializadora ou ter posição de trade de ações, curva de juros ou exposição no exterior, com os esforços recaindo na energia e no crédito para um segmento que não é totalmente compreendido pelos bancos e por boa parte do mercado de capitais.
“Não pegamos garantia de ativos, ações de SPE nem nada. É um processo simplificado com base nos contratos”, afirma, salientando que em maio passaram R$ 9 milhões no caixa do FIDC, sendo R$ 3 milhões de amortização e juros e os restantes devolvidos como excedentes.
Mono-tese
Autorizada pela CVM no final de 2020, a gestora de recursos começou a construir sua tese de atuação em 2016, quando ainda era uma consultoria. Loures reunia experiência de 16 anos no Bradesco, mas a instituição não se posicionava no setor elétrico, o que acontece até hoje, sendo o único banco que não montou comercializadora de energia, talvez pela “ética de acesso a informações de quem estava liquidando o quê e pagando para quem, por ser dono da conta da CCEE”.
Mas foi na área de Family Office que ele se deparou com um portfólio voltado a energia elétrica, tendo destacado que as partes mais rentáveis eram os segmentos de geração, comercialização e depois serviços ancilares, com medição e gestão de clientes na CCEE. “Existe um interesse dos investidores no setor, mas que não conhecem essas 400 e poucas comercializadoras e 1700 produtores independentes”, comenta.
Segundo Loures, outro insight do negócio veio a partir do BNDES não estar tão atuante no setor elétrico nos últimos anos, tendo subido apenas em 2020 e 2021 em função do Pronampe e das questões ligadas a pandemia, além de outros agentes de fomento restritos regionalmente e tendo suas limitações de crédito, e outros financiando apenas quando o ativo já está em operação.
“Talvez sejamos a única gestora mono-tese de energia, numa questão que a turma da Faria Lima começou a questionar nossa forma de atuação no começo, afirmando que só fazíamos essa parte e não o mercado financeiro em si”, recorda, chamando a atenção para a expansão desse tipo de atuação em diversos segmentos específicos da economia. A gestora fica localizada em Curitiba (PR), fora do eixo central do mercado, em São Paulo.
No road show do primeiro fundo, o executivo disse ter percebido investidores com potencial de milhões mas que não fazem ideia de como funcionam as premissas básicas da cadeia energética. “Existe uma demanda por crédito, interesse do investidor, o que se precisa fazer é juntar as pontas”, analisa.
Robustez no mercado
Um dos pontos de atenção da Siga é não operar com empresas novas, exigindo um mínimo de oito anos de histórico, citando fatores de robustez do negócio em suportar sucessivas crises, como o preço da energia em 2013-2014, impeachment da Dilma, o caso da JBS (que estavam subornando a térmica para ter o suprimento), quebra da Lynx, Vega, pandemia, greve de caminhoneiros e eleição de Bolsonaro.
“Não existe mais espaço para empresário meia boca ou aventureiros no setor elétrico. Quem ficou é parrudo e aguentou todas oscilações e mudanças de direção do mercado, vide o PLD”, pontua.
Na visão de Loures, a expansão do ACL vai trazer mais geradores e comercializadoras como a Ômega, Focus. “Outras empresas vão buscar o mercado de capitais, mas enquanto não buscam, por não ser tão simples assim, podemos atender com crédito, coisa que grandes bancos não fazem”.
Ele frisa que a redução de preços atraí por si só o consumidor e a expectativa de 70 mil novas unidades para entrar no novo ambiente e cerca de 56% de carga no ACL já em 2027 são perspectivas promissoras. Quando isso acontecer os maiores beneficiários serão as comercializadoras com capacidade de migração e atratividade de clientes, o que envolve o capital para construção dos parques, que é sempre o sonho de qualquer trader. “A oportunidade está no equity e no ponte para essas empresas que querem seu próprio parques de geração”, finaliza.