Os investimentos sustentáveis ligados a emissão de títulos verdes cresceram de forma mais acelerada no Brasil nos últimos dois anos do que na média global, tendo atingido R$ 100 bilhões em 2021, disse nessa terça-feira, 24 de maio, o diretor de Pesquisa e Avaliação ASG da consultoria Natural Intelligence (Nint), Cristovão Alves, durante evento patrocinado pela Eletrobras.

“Nosso mercado demorou mais a pegar no tranco, começando em 2020, enquanto Chile e Colômbia tomaram a frente”, comentou o executivo, afirmando que o gap foi reduzido e vendo perspectivas mais positivas para esse ano.

Em sua apresentação, Alves destacou que diferentemente dos mercados globais há uma predominância das emissões vinculadas a metas de sustentabilidade no Brasil, assim como a pandemia foi um driver de crescimento dos títulos sociais em todo mundo, mas de forma pouco representativa por aqui.

Perguntado sobre a possibilidade de taxas diferentes para investimentos ESG, o especialista afirmou que não existe evidência dessa redução pelo seguimento de uma condição de dívidas com o título verde em relação ao tradicional.

“Os juros cobrados são os mesmos. O benefício é reputacional e de acessar novos bolsos, chamando a visibilidade de outros investidores que não comprariam a dívida antes”, pontuou, citando uma emissão no ano passado que não obteve êxito nesse quesito junto ao mercado.

Julia Ambrosano, consultora em Desenvolvimento Sustentável do Climate Bonds Initiative (CBI), ressaltou no evento que o mercado vem se conscientizando do que é verde ou um negócio que não será factível em 2050, vendo uma demanda maior do que oferta desse ambiente no Brasil, que deve incentivar novos projetos renováveis e ligados a sustentabilidade.

Ela discorreu quanto a atuação da instituição em lançar uma taxonomia de categorização para o gargalo de certificação e definição do que é considerado verde, atuando em três frentes: fomento de mercado com assistência técnica, definição de critérios para elegibilidade de ativos e produzir análises e inteligência de mercado, sendo responsável pelo rastreamento dos títulos verdes e outros.

“Uma linguagem comum para que o fluxo financeiro não seja interrompido entre os países”, resumiu, citando que o mercado representa atualmente mais de 16 mil instrumento de dívidas num volume de U$S 2,8 trilhões e uma tendência dessas finanças se tornarem mainstream.

Sobre os passos para a obtenção dos instrumentos de dívida, a consultora aponta que o primeiro é realizar o framework, documento que pode ser utilizado até em road shows por investidores, citando o uso de recursos, como é a seleção dos ativos e projetos, o gerenciamento dos recursos financeiros e a características de report, com engajamento de um verificador independente ou agente externo. “Avalia, emite relatório e a CBI chancela a rotulagem e certificação do título para venda”, finaliza.