Com um portfólio em transição voltado a substituir gás natural por uma matriz 100% renovável até 2030, a EDP quer duplicar em oito anos sua capacidade instalada global, por meio de € 4,8 bilhões em investimentos. A ideia é utilizar somente mecanismos para financiamentos verdes a partir de 2025, subindo uma taxa que hoje representa 75% das operações do grupo português.

“O essencial do financiamento para a expansão se dará pela rotatividade dos ativos, sobretudo pela fonte solar”, disse nessa quarta-feira, 25 de abril, o diretor Adjunto de Sustentabilidade da companhia, Eduardo Moura, no segundo dia do workshop patrocinado pela Eletrobras. O executivo afirmou que € 6,4 bilhões da dívida líquida de € 11,6 bilhões são de títulos verdes, com viabilidade próxima e efetuar mais € 1,2 bilhão.

“A guerra fez a Europa reforçar sua estratégia e objetivos com relação as renováveis e segurança energética, com um aporte brutal para criação de uma nova infraestrutura que irá sugar a atenção dos investidores”, completou Moura.

EDP aposta no crescimento da fonte solar, como no parque de 252 MW instalado ano passado em São Paulo (EDP Brasil)

Quanto a questões financeiras dos títulos, o especialista disse que uma dificuldade para a empresa no início foi a perda de flexibilidade na receita da tesouraria, com o dinheiro tendo que correr apenas em determinado projeto. “Era o principal custo mas hoje com as empresas orientadas para a descarbonização é possível dissolver o valor com taxas melhores”, pontuou, ressaltando que no futuro o mercado vai acentuar as diferenças entre taxas.

Transmissão e Distribuição verde

Em outra apresentação, o gerente de Tesouraria e Finanças Corporativas da Isa Cteep, Thiago Lopes da Silva, informou que a companhia captou quase R$ 4 bilhões em títulos verdes para a área de transmissão nos últimos dez anos e que está prestes a assinar um contrato para obtenção de um título reconhecido globalmente e com coordenação do BNDES.

“Temos conseguido classificar todas debentures de infraestrutura como green bonds, mudando o processo de 2018 para cá através de um framework, com toda e qualquer dívida ligada a ativo de transmissão sendo carimbados como investimento verde”, salientou, afirmando que o aspecto social e outros ESG são facilmente associados aos projetos.

Para ele, o desafio agora é fazer uma emissão social com outra conjunta em sustentabilidade, o que seria a primeira operação desse tipo no país. “Estamos próximos da definição de indicadores claros para avançar nesse processo”, comentou Lopes.

Já a Neoenergia informou uma totalidade de R$ 8 bilhões em dívidas verdes, sendo a última emissão um Green Finance Framework de R$ 1,3 bilhão junto ao BNDES e destacando a obtenção dos títulos também para seus quatro segmentos de atuação, incluindo as distribuidoras de energia sob alguns aspectos, como em clientes deixando de usar gás para usar energia renovável.

“A estratégia é financiar o máximo com o verde, explorando mercados que não tinham essa linha, como no caso do ângulo sustentável na distribuição ou transmissão focando na questão social de universalização da energia, como fizemos na Bahia”, disse em sua apresentação a chefe de Finanças Corporativas e Tesouraria da Neoenergia, Raphaela Yamamoto.

UHE São Salvador

Em sua fala, o diretor de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa da Engie, Gil Maranhão, ressaltou que últimas emissões em debentures de infraestrutura já tem um índice de auditoria de sustentabilidade que o próprio mercado financeiro exige, chamando atenção para os green bonds como uma tônica do grupo.

“Os títulos tem custos diferentes de emissão, com volumes por vezes impactantes, mas penso que a captação verde tem que fazer parte de algo maior, um framework de sustentabilidade que envolve a descarbonização e as políticas ESG, com essa opção passando a ser o melhor caminho”, ponderou.

Maranhão trouxe o case de alocação desse instrumento de dívida na hidrelétrica São Salvador, de 243 MW construídos em 2009 no Tocantins, e que passou por todo processo de certificação, obtendo o reconhecimento global na França. “Pré-pagamos o financiamento no ano passado e dentro dos critérios de alocação foi permitido um refinanciamento de parte do projeto, com a empresa percebendo nesse contexto a oportunidade de alavancar capital verde, testando as ferramentas endossadas no ano passado”, explicou.

Ademais o executivo reiterou a preferência da companhia pela emissão de títulos verdes globais, após uma discussão em 2020 sobre um risco de dupla contagem, na medida em que alocava o projeto no balanço da holding e em emissão no Brasil. “Decidimos pela centralização”, finaliza Gil.