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Com pouco mais de 14 GW entre 21 milhões de m² em instalações de coletores e placas atingidas no final do ano passado, o Brasil incluirá a energia solar térmica no planejamento e operação do setor, devendo constar na próxima edição do Balanço Energético Nacional de maio com representatividade de 4%, disse em entrevista à Agência CanalEnergia o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Térmica (Abrasol), Luiz Antonio dos Santos Pinto.
“Tivemos várias reuniões com o governo e a EPE nos últimos meses e agora existe um compromisso da fonte entrando como participante da matriz entre as renováveis”, destaca o executivo, afirmando que o boom da tecnologia aconteceu em 2001, ano da primeira crise hídrica, quando cresceu mais de 300%, estabilizando nos anos seguintes em taxas médias de 10%. Já em 2021 surpreendeu, com alta de 28%.
A ideia é que o aquecimento solar térmico seja tratado pelo governo da mesma forma que outros recursos energéticos. Os equipamentos geram energia térmica durante o dia e a armazenam para ser consumida à noite, funcionando como uma bateria. Proporcionam água quente nas torneiras e banhos mesmo em casos de apagões, ao contrário de qualquer tipo de processo gerado a partir da rede elétrica.
Para o novo presidente da Abrasol o driver de expansão no último ano foi a junção dos efeitos da pandemia e alta nos preços da energia. Na medida em que o home-office foi efetivado e mais pessoas permaneceram em suas residências também por outros motivos, aumentaram a tendência de investimentos em conforto em termos de banho, piscina ou outros equipamentos e atividades que envolvam aquecimento e eletricidade.
Tecnologia pode ser solução para economia de consumo e aliviar conta de luz dos brasileiros (Abrasol)
“Essa crise energética vai permanecer por algum tempo pelo Brasil ter deixado de investir em geração nas últimas décadas. Se houver alta na carga, o que acreditamos, vamos voltar a necessidade de alternativas”, salienta Luiz Antônio dos Santos Pinto, prevendo um aumento superior a 30% nesse ano para a fonte e pontuando que sua adoção para aquecimento de água nos chuveiros é uma solução que pode representar economia de até 7% no consumo do país, equivalente a 500 TWh em 2021, aliviando ainda em 37% a conta de luz das famílias, segundo dados da EPE.
Segundo ele, o setor tem muito potencial de crescimento em 2022, visto estar com capacidade ociosa de 45% em sua estrutura de produção preparada em 2014 para o programa Minha Casa Minha Vida, mas que depois teve a demanda estagnada. Assim, acentua a necessidade de estimular a atividade por parte do governo, com a inclusão do aquecimento solar térmico nos programas habitacionais, como agora no Minha Casa Verde e Amarela.
“Compraremos muito mais matérias-primas nacionais, as únicas que usamos, além de criar mais empregos e investiremos, ampliando nossa contribuição para o crescimento do PIB”, ressalta. Ele também aponta que para aumentar o efetivo termossolar será rápido, vide os gargalos de máquinas e ferramentas, com condição de até quadruplicar a fabricação para esse tipo de geração que dispensa o uso da rede.
Triplicar aquecimento
De acordo com o executivo e engenheiro por formação, para atender essa próxima demanda seria precisa triplicar a quantidade de aquecedores instalados, passando de 21 milhões de m² para mais de 41 milhões, sem falar em outros processos industriais que tem potenciais para uso dos aquecedores. “Cerca de 30% desses 21 milhões de m² são destinados ao aquecimento de piscinas, então podemos colocar que só para banho seriam necessários 15 milhões de m² ”, avalia.
O sistema é composto por dois elementos: um coletor ou placa em cima do telhado ou terreno, transferindo o calor para a água, armazenada posteriormente em um reservatório térmico por até dez dias, sem perder calor praticamente. “Normalmente são dimensionados sempre maiores do que a necessidade diária, para ter uma reserva em caso de insolação insuficiente”, complementa Luiz.
O preço atualmente varia de R$ 2 mil a R$ 4 mil, em casos de famílias ou desejos maiores, com circuitos em residências que podem atender a toda parte hidráulica, como na cozinha ou lavanderia, sem limites de instalação. “Teve casos em mais de R$ 100 mil, o que depende do grau de sofisticação e conforto desejado”, pondera, reforçando a fabricação nacional com apenas alguns componentes da China, e payback normalmente indo de um ano há três anos.
Esquema básico de uma usina heliotérmica para licenciamento, com armazenamento de fluido (MMA)
E nem sempre as iniciativas referem-se ao aquecimento hídrico. Entre os projetos de maior magnitude no país está a usina da Cesp inaugurada nesse ano no terreno da hidrelétrica Porto Primavera (SP), destinada ao aquecimento de óleo para produção de vapor para funcionamento de uma turbina termelétrica. Outra iniciativa é uma planta da Pepsico em Sete Lagoas (MG) para processos industriais, com uma tecnologia ainda não fabricada no Brasil, denominada Coletor de Plano Evacuado.
Como desafio para crescimento da termossolar no Brasil, Santos Pinto entende ser preciso seguir realizando a divulgação e fazer com que o governo apoie essa solução que pode durar mais de 30 anos, sem gasto nenhum por ter a eletricidade vinda do sol e ainda com índices de eficiência de aproximadamente 65%. “É uma omissão inexplicável, pois se trata de uma tecnologia totalmente nacional, extremamente eficiente e capaz de ajudar o Brasil a evitar blecautes, diminuindo o consumo de eletricidade principalmente no horário de ponta”, pontua.
O presidente da Abrasol finalizou a conversa lembrando que o país está na 23ª posição em um ranking que avalia a utilização de aquecedor solar em proporção com a população, contando com a solução em pouco mais de 5% dos domicílios contra 90% de representação do Chipre, por exemplo, sendo considerado um dos territórios mais propício para desenvolvimento da tecnologia.
“A China em 2001 praticamente não tinha nada e hoje possui 500 milhões de m² contra 750 milhões de m² em todo mundo”, reforça, concluindo que o aquecimento solar térmico e a geração de energia por painéis FV são recursos complementares em uma residência, gastando 20% a menos de área e de recursos no projeto para o mesmo benefício.