O Brasil deveria aproveitar o momento de tranquilidade que a situação hídrica trouxe para discutir mecanismos que atribuam mais agilidade ao setor elétrico. Essa é a avaliação do diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Luiz Carlos Ciocchi. Em sua análise esse debate poderia ocorrer no âmbito do Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico (CMSE) ou até mesmo por meio da criação de um grupo específico para essa finalidade.

Ciocchi, que participou do painel de abertura do Enase 2022, evento híbrido realizado pelo Grupo CanalEnergia, by Informa Markets, nesta quarta-feira, 8 de junho, disse que o setor precisa tomar essa decisão de ter a agilidade para reagir de forma estruturada diante das mudanças que estão em curso no mundo. E defendeu que este momento de relativa tranquilidade operativa do SIN é o momento ideal para essa ação.

“Essa sem dúvida é uma janela de oportunidade que temos, numa crise buscamos agilidade para resolver os problemas e agora temos que buscar agilidade para pensar nos problemas que vierem no futuro”, afirmou ele. “Acho que não há um único lugar para isso, o CMSE está no dia a dia e podemos ter nesse ambiente essa discussão, é um bom fórum para esse debate, mas não é o único, há outros e inclusive porque não podemos até mesmo criar uma nova estrutura com poucas pessoas mas que detenham o conhecimento para aplicar ações e ainda, pensar em soluções?”, questionou-se.

Segundo o diretor, vários dos problemas que existem são recorrentes e que demanda a existência de mecanismos institucionais para atacar esses desafios. Ciocchi participou do painel que discutiu os desafios da governança setorial para o período de 2023 a 2026, tema central do Enase neste ano, que é realizado de forma híbrida.

O executivo ressaltou que entre os temas que podem ser debatidos estão os serviços ancilares, micro e mini geração distribuída, entre outros, incluindo nessa lista de assuntos os usos múltiplos das águas no país, tema que voltou aos holofotes com a crise hídrica de 2021.

Inflexibilidade alta
Um dos pontos que ganhou um destaque especial na análise do executivo é a contratação de energia inflexível de térmicas colocadas na lei 14.182, derivada da MP de privatização da Eletrobras. Segundo Ciocchi, o desejo do ONS não passa por essa contratação uma vez que a tendência do país é de ter cada vez mais inflexibilidade. Seja com as térmicas, eólica, solar e as UHEs decorrente da necessidade de usar as águas de forma mais diversa.

“Do ponto de vista do setor elétrico defendemos a flexibilidade das fontes e que seja parcial do ponto de vista temporal. A Inflexibilidade é importante mas, já temos muito alta no setor. E na hora de inflexibilidade maior que a carga o que teremos que fazer, jogar alguma das fontes fora”, alertou.

Apesar desse cenário, Ciocchi descartou que haja um aumento significativo do chamado constrained off, que trata de barrar a geração de energia de fontes que estejam com potencial de produzir energia mas que por gargalos de transmissão não injetam essa produção na rede. Segundo sua análise com o plano de expansão da transmissão para 2030, o Brasil poderá atender às geradoras. A questão que fica é se existirá demanda para consumir toda essa energia gerada.

“Isso implica em maior crescimento da economia e expansão do PIB e desenvolvimento do país, que é nossa esperança”, finalizou.