Questionado sobre qual a devida racionalidade para as decisões e caminhos pertinentes ao futuro do setor elétrico, o diretor-presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, disse que um tema tão complexo não admite apenas um ponto de atenção ou solução, afirmando que a racionalidade terá que vir pela eficiência energética e os recursos de geração e tecnológicos que o Brasil dispõe.
“A intermitência das fontes é um mito pois temos soluções de gerenciamento. Backup térmico é uma velha solução para um velho problema e há outras formas para trabalhar essa necessidade, como investir para dar mais capacidade ao sistema”, pontuou o executivo em sua fala inicial no painel dos CEOs, o primeiro nessa manhã de segundo dia do Enase 2022, evento organizado pelo Grupo CanalEnergia/Informa Markets em formato híbrido no Rio de Janeiro.
Como ação prática, Cotugno aponta a entrada das baterias como uma realidade em muitos mercados, citando leilões de capacidade de reserva que estão sendo feitos pelo mundo sem discriminação entre tecnologias, como em um caso recente na Itália, que fechou 1.600 MW de potência com as baterias ganhando o certame. “Resposta da demanda é algo poderoso, uma grande ferramenta para modular o consumo mas que não funcionou tão bem no Brasil”, complementa.
Diretor-presidente da Enel Brasil participou de painel junto a lideranças da CPFL, CTG Brasil e 2W Energia (CanalEnergia)
Entre os focos da empresa por aqui está a busca pela efetivação de novos serviços que melhorem a experiência dos clientes, como na eficientização de processos, consumo, iluminação e na eletrificação das indústrias e do agronegócio. A companhia tem como meta global não usar mais carvão em suas operações até 2027 e eliminar todas as usinas térmicas até 2040. No Brasil conta com apenas a UTE Fortaleza, de 344 MW.
Para chegar nos próximos 18 anos ao chamado Net Zero, a empresa pretende triplicar sua capacidade instalada de renováveis, passando de 50 GW para 150 GW focando em eólica e solar, com um pipeline superior a 1 GW em construção nesse ano. “Temos 4.700 MW de solar, eólica e hídrico no Brasil e estamos focados só em renováveis”, completa Cotugno.
Novos gasodutos é coisa do passado
Sobre o desenvolvimento do mercado de gás natural, o CEO diz acreditar num país de sol e vento como recursos mais baratos, afirmando que aqueles que falam na importância da criação de mais infraestrutura para o gás no Brasil estão equivocados, visto essa janela de oportunidades ter existido há 20 anos atrás. “Investir pesado nesse setor não irá ter um retorno importante para o país e os clientes, afinal são custos que podem ser direcionados a outras frentes”, pondera o executivo.
Já na área de distribuição, Cotugno resumiu que a empresa está antenada com as questões dos aprimoramentos dos serviços, qualidade e custos, além de entrar mais fortemente em outros novos temas como a mobilidade elétrica, a partir de uma nova sociedade criada nesse ano, a Enel X Way. “Em 10 ou 15 anos teremos um parque de veículos elétricos e podemos enfrentar todas transformações sem aumento de custos, pois temos muitas tecnologias em nossas mãos além do H2 que vai chegar em cinco ou dez anos”, prevê.
Termelétrica Fortaleza funciona em ciclo combinado e é a única que a empresa opera no Brasil (Enel)
Rapidez no 414
Perguntado sobre o principal assunto do evento, o PL 414, o dirigente salientou que o caminho está trilhado mas que é preciso evoluir mais rápido na aprovação de leis e normas específicas que permitam ao mercado se desenvolver não apenas pelo lado das empresas, mas também dos clientes. “Um mercado livre e com novos recursos integrados trará grandes benefícios aos consumidores e já vivenciamos isso em outros países e efetivamente a entrega é de melhorias com tarifas diferenciadas e melhores custos”, analisa.
Ademais o executivo reforçou que para a obtenção de investimentos e financiamentos brasileiros e estrangeiros é preciso que o setor confirme a segurança jurídica como um item a ser sempre respeitado por todos agentes e players, finalizando com uma provocação sobre as mudanças globais nas cadeias de suprimento com a pandemia e a guerra na Ucrânia, o que pode abrir novas oportunidades, como o Brasil se tornar um hub para a produção de painéis e componentes fotovoltaicos para a América Latina.