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A CGT Eletrosul e a Engie registraram as duas maiores taxas de emissão de CO2 equivalente emitido por eletricidade gerada entre as proprietárias de termelétricas conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) em 2020. A informação deriva do Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétricas, presente no estudo inédito publicado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) nessa quinta-feira, 30 de junho.
A lista decrescente com as maiores taxas de lançamento de GEE à atmosfera é respectivamente completada pela EDP Brasil, Brentech Energia, CPFL Geração, Aruana Energia, Usina Xavantes, Centrais Elétricas de Pernambuco, OZ&M Incorporação Participação LTDA e Savana SPE Incorporação LTDA.
Detentora de 100% do controle acionário da UTE Candiota III (RS), usina a carvão mineral com a maior taxa de emissão no estudo, a CGT Eletrosul foi responsável por 1.327 toneladas de CO2 equivalente por GWh – mais que o dobro da média observada para o conjunto de empresas proprietárias de térmicas fósseis de serviço público do SIN, de 608 tCO2e/GWh. Já a Engie alcançou a também elevada taxa de 1.088 tCO2/GWh, uma vez que é proprietária de quatro das oito usinas a carvão mineral do parque brasileiro: a Pampa Sul (RS) e as plantas que compõem o conjunto Jorge Lacerda (SC).
No entanto no próximo estudo a empresa de origem francesa deve ter menores emissões, visto ter vendido Jorge Lacerda para o FRAM Capital no ano passado e ter a intenção de alienar Pampa Sul até o final de 2022. Em nota à Agência CanalEnergia, a companhia afirmou que está direcionada a acelerar a transição energética e que cresceu 34% em geração renovável desde 2017, aumentando em 17% sua capacidade instalada própria. Seu parque gerador admite 8.440,9 MW, com a participação das fontes limpas subindo de 86,2% em 2020 para 96% no ano seguinte.
No que tange à pesquisa divulgada pelo IEMA a companhia disse dar total transparência aos dados de emissões de GEE e eficiência de suas usinas ao mercado anualmente em seu Relatório de Sustentabilidade. Em 2020 foram 30,8% de eficiência média no Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, com consumo específico de 0,62 ton carvão/MW.
Em Pampa Sul a eficiência média chegou a 35,2%, com consumo específico de 0,89 ton carvão/MW, valor que subiu 0,2 p.p em 2021. Os dados divergem da pesquisa do IEMA. “Parece necessário uma análise mais aprofundada do estudo para entender qual metodologia matemática foi utilizada para se chegar aos dados relatados, que não condizem com o apurado pela empresa”, diz a nota.
A empresa reforça ainda que a decisão da saída dos ativos a carvão segue como um pilar importante e continua no foco do trabalho em 2022. Os negócios são conduzidos de forma a possibilitar uma transição gradual e justa para a economia das regiões envolvidas – reduzindo impactos socioeconômicos locais que poderiam ser gerados pela descontinuidade abrupta dessas operações. Ademais a venda das usinas é positiva para os planos da companhia de direcionar operações e investimentos aos projetos renováveis e infraestrutura de transmissão.
Já a CGT Eletrosul disse desconhecer o método de cálculo utilizado para as estimativas de emissões pela plataforma SEEG. A empresa ressalta ainda que a usina Candiota III utiliza prioritariamente carvão beneficiado, com significativos ganhos ambientais e de desempenho. No ano de 2020 as emissões totais da termelétrica foram de 1.278.445 TCO2e. Além disso, a usina é equipada com queimadores de baixo NOx, atendendo o limite de emissão estabelecido em sua licença ambiental.
Adicionalmente a empresa informou que a eficiência da usina, conforme relatório preliminar da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em 2020, foi de 34,69%, validada pela Aneel nos termos da Resolução Normativa 801/2017, e não de 27,4% como aparece no inventário do IEMA. “A partir de março de 2020 foi iniciada a operação da Planta de Beneficiamento de Carvão Mineral a Seco, com o objetivo melhorar a qualidade do combustível principal, obtendo ganho de desempenho e eficiência, e com menores emissões de GEEs”, refere a companhia.
Outro ponto de atenção ressaltado é que a Eletrobras publica anualmente o Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa, disponível em seu site, com valores correspondentes a cada empresa subsidiária, incluindo informações sobre as UTEs próprias. O inventário segue a metodologia do IPCC (2006) e as diretrizes do Greenhouse Gas Protocol – GHG Protocol (WRI, 2004), sendo ainda auditado pela PricewaterhouseCoopers, empresa independente de auditoria.
Metodologia do IEMA
O critério adotado pelos pesquisadores do IEMA no estudo foi a participação acionária de cada proprietária nas termelétricas inventariadas, informação obtida em três plataformas da Aneel: o sistema Polímero, o Sistema de Informações Geográficas do Setor Elétrico (Sigel) e o Sistema de Informações de Geração da Aneel (Siga). “Também foram realizadas buscas nos sites institucionais de empresas e/ou de usinas com o intuito de preencher algumas lacunas encontradas nas bases de dados”, observa a pesquisadora do IEMA e coautora do estudo, Raissa Gomes.
A taxa de emissão é determinada pela divisão entre as emissões e a eletricidade gerada por uma usina. Via de regra, para atribuir esse indicador a uma empresa, considera-se tudo que foi emitido e gerado em todo o seu portfólio de usinas, incluindo diferentes fontes energéticas. No entanto o escopo do levantamento em questão leva em conta apenas o universo das térmicas conectadas ao SIN.
Quanto a colocação da EDP Brasil entre as três empresas que mais emitiram carbono por eletricidade gerada, a explicação está no controle acionário de 100% de Porto do Pecém I, um ativo de 720 MW a carvão. Caso tivesse outras térmicas com níveis mais baixos de emissão, a média acabaria caindo. Procurada pela Agência CanalEnergia, a empresa preferiu não se manifestar.
A Eneva não entrou nesse pódio porque tem outros sócios em Porto Pecém II, além de possuir outras usinas de ciclo combinado a gás natural e menos poluidoras. No entanto o diretor-presidente do IEMA, André Ferreira, alerta que a companhia deve subir sua colocação nos próximos inventários, visto ter adquirido a maior térmica brasileira, Porto do Sergipe, e a Termopernambuco, que aparece no estudo como a UTE mais eficiente no país. “Já a Petrobras é uma incógnita sobre quais movimentos fará”, complementa.
Outro critério adotado foi desconsiderar as usinas que operam em regime de cogeração de eletricidade e vapor, como Termorio, Cubatão, Vale do Açú, Termobahia e Termocamaçari, todas pertencentes à Petrobras, no intuito de evitar que as taxas de emissão fossem superestimadas.
“Essas cinco usinas podem produzir vapor para processos industriais e a eletricidade é apenas uma saída parcial da planta. Como não foi possível obter os consumos de combustíveis exclusivamente para geração de eletricidade, optou-se por excluir da taxa de emissão as usinas que possuem cogeração”, salienta Raissa Gomes.
Geração e emissões concentradas
Um dado interessante é que 72,3% de toda emissão de GEE inventariada foi de responsabilidade de apenas cinco empresas: Petrobras (28,7%), Eneva (14,7%), Engie Brasil (10,5%), Électricité de France – EDF (9,4%) e Eletronorte (9,0%). Ou seja, apesar de haver uma quantidade grande de empresas geradoras (41 diferentes), a eletricidade fóssil gerada em 2020 se revelou bastante concentrada.
As emissões totais de CO2e no ano retrasado também estiveram concentradas em poucas corporações. Das dez maiores emissoras, apenas três – Petrobras (24,9%), Engie (19,0%) e Eneva (15,2%) – responderam por 59,1% das emissões. Na sequência da lista decrescente de emissões absolutas aparecem Eletronorte (6,7%), Électricité de France – EDF (6,1%), Eletrosul (5,0%), EDP Brasil (4,6%), Neoenergia (2,9%), Rio Doce Energia (2,5%) e J&F Investimentos (1,8%). Dentre as 41, somente essas dez empresas são responsáveis por 88,8% das emissões, o que equivale a mais de 29 milhões de toneladas de gases de efeito estufa emitidas no ano de 2020.
A Petrobras figura como a maior emissora em termos absolutos (tCO2e), porém apresentou uma taxa de emissão (483 tCO2e/GWh) bem inferior à média das termelétricas a combustíveis fósseis de serviço público do SIN. “Isso porque grande parte das usinas por ela controladas utilizam tecnologias que alcançam menores intensidades de carbono”, explica Ferreira, citando também que uma preocupação do instituto se dá pelo uso de água para o resfriamento dos sistemas térmicos, que pode gerar conflitos nas bacias hidrográficas em que estão situadas.
Desafios
Um desafio importante para a elaboração da pesquisa foi a dificuldade de obtenção de informações de boa qualidade e acessíveis ao público, especialmente no que se refere a indicadores ambientais das termelétricas e das empresas proprietárias.
“Esse estudo evidenciou que há uma longa distância a percorrer no Brasil”, avalia o diretor-presidente do IEMA, referindo-se à ampla divulgação de informações necessárias para uma efetiva gestão pública do meio ambiente, assim como para a implementação transparente e consistente das recentes práticas manifestas de ESG por parte das empresas do setor elétrico.
Com o inventário lançado, o IEMA afirma consolidar uma base de dados com parâmetros técnicos e ambientais das usinas, tais como combustíveis utilizados, tecnologias adotadas e potencial de emissões atmosféricas. De acordo com os pesquisadores, desenvolveu-se uma metodologia de consolidação de dados, incluindo critérios para casos de informações ausentes ou pouco consistentes.