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A Xavantes, empresa controlada pelo Grupo OnCorp, firmou uma parceria com Grupo Moura para a construção das duas primeiras usinas híbridas do extremo Norte do país, nos municípios de Amajari e Pacaraima, em Roraima.  O acordo vem após sair vencedora no Leilão de Sistemas Isolados nos lotes 2 e 5, em Amazonas e Roraima. A solução consorcia e otimiza a geração de energia das fontes térmica à diesel e fotovoltaica com dois sistemas de armazenamento a serem fornecidos pela fabricante até março de 2023, num contrato de cinco anos.

Em entrevista à Agência CanalEnergia, o gerente comercial do Battery Energy Storage Systems (BESS) do Grupo Moura, Adalberto Moreira, destacou os benefícios das baterias para uma inserção plena da energia solar em sistemas isolados. A tecnologia permite conexões entre as fontes, suprindo os vales de oscilação da produção solar, além de armazenar o excedente de geração quando a demanda estiver menor que a oferta. “Só a energia solar pode perturbar bastante aquela rede”, ressalta, referindo-se às regiões fora do Sistema Interligado Nacional (SIN).

O executivo detalhou que em Amajari será instalado um sistema de 500 kW de potência e 560 kWh de energia, composto por 348 baterias. Já Pacaraima irá receber um inversor bidirecional de 500kW e 696 kWh de energia, formado por 432 unidades. Destacou também os benefícios a cerca de 30 mil brasileiros que vivem e trabalham na região, citando contribuições econômicas e ambientais, como cerca de 6,7 milhões de litros de diesel que deixarão de ser consumidos, assim como 18 mil toneladas de CO2 que não serão lançadas à atmosfera.

Desde 2002 as empresas voltadas ao setor elétrico que compõe a OnCorp contribuem em cinco grandes projetos do SIN que somam mais de 500 MW distribuídos pelo território brasileiro. No ano passado o grupo inaugurou sua primeira planta de Geração Distribuída, sob a forma fotovoltaica, com capacidade de 2,5 MWp, no município de Ribeirão (PE).

Bateria carbonada

Um dos destaques do novo projeto, que deve entrar em operação a partir de abril do ano que vem, é a utilização dos BESS, também conhecidos como SAEB (Sistemas de Armazenamento de Energia em Baterias). Serão eles os responsáveis por permitir a consorciação com os recursos energéticos da usina. Para os dois ativos em questão a empresa irá entregar as chamadas baterias carbonadas, desenvolvidas no Brasil para esse tipo de aplicação, numa solução que o executivo classifica como ambientalmente adequada e 100% reciclável.

“Ela é dopada com estrutura de carbono, que ajuda na aceitação de carga dinâmica, como se a bateria fosse mais faminta, recebendo e entregando cargas mais rapidamente e tendo mais longevidade”, explica o especialista, afirmando que talvez seja a solução que possui a tecnologia de chumbo mais avançada no mundo, capaz de entregar mais de 3 mil ciclos.

Moreira também salientou que quando associada a equipamentos eletrônicos embarcados no sistema, é possível ter o pleno controle de supervisão para garantir que todas as baterias estejam operando em regime similar, controlando e monitorando carga e descarga, o que ajuda na longevidade dos equipamentos.

Perguntado sobre o valor da operação com a Xavantes, o diretor disse não poder revelar as cifras por conta de um pedido do cliente, ainda que ache importante que esses tipos de negócios comecem a divulgar os preços para desmistificar a ideia de que essas tecnologias ainda sejam economicamente inviáveis no país.

“O que podemos adiantar é que a solução FV + BESS tem custo nivelado significativamente inferior à geração térmica. Já é viável, não só pelo aspecto ambiental e social, mas financeiro”, pontuou, ressaltando que a EPE tem feito estudos com referenciais internacionais que não correspondem mais ao que se consegue ser praticado no Brasil. E cita ainda os esforços feitos nos últimos três anos para redução de custos com a nacionalização de peças e componentes.

Vale lembrar que a Moura nasceu em 1957 na cidade de Belo Jardim (PE).  Voltada inicialmente ao ramo automotivo, a empresa ampliou sua atuação para outros segmentos na última década. Hoje possui seis plantas industriais no Brasil e uma na Argentina focadas em baterias e sistemas de acumulação de energia para as mais diversas aplicações, como motos, barcos, empilhadeiras, nobreaks, metrôs, trens, estações de telefonia, entre outros.

Mercado incipiente

Atualmente o executivo divide as oportunidades de armazenamento em dois blocos: os sistemas instalados junto da carga ou denominados small scale, geralmente para comércios, indústrias e o agronegócio. E os projetos de larga escala vinculados a geração, distribuição e transmissão, como esse da OnCorp.

“O mercado de armazenamento de energia ainda é inicial no Brasil, mas começando com uma projeção interessante para o futuro. Temos muitas oportunidades de negócio sendo trabalhadas mas poucos sistemas em operação”, relata. Até o momento são três sistemas da companhia instalados e em operação no país, dois em Pernambuco, no laboratório de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e no escritório da Moura, além de um na Universidade de São Paulo (USP), num projeto piloto à tecnologia de lítio encomendada pela Enel.

A próxima implementação acontecerá na semana que vem, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Outra está prevista para agosto, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mais especificamente em redes de distribuição da Cemig para maior flexibilidade operativa, especialmente para a localidade do estádio do Mineirão. Por fim a distribuidora de águas do Pernambuco, a Compesa, também irá receber um sistema.

Segundo Moreira a fabricante vem desenvolvendo as tecnologias de armazenamento em diferentes tipos de baterias há 10 anos, com a solução integrada sendo oferecida desde 2018. A empresa investiu R$ 1,3 bilhão nos últimos seis anos, a maior parte destinada a esses sistemas.

Outro destaque é o instituto de tecnologia da companhia, que possui um demonstrador tecnológico que serve ao desenvolvimento das novas baterias e a “solução do futuro”, com possibilidades de inclusão de elementos como grafeno, nióbio e outros de terras raras.

“Temos debatido muito com o ministério (Minas e Energia), se seremos um mero observador, como no mercado fotovoltaico, ou se seremos protagonistas nesse mercado”, pondera. E lembra que há um trabalho do MME para que o BESS possa ser um equipamento elegível ao próximo leilão de energia nova. Ademais, ele entende e espera que o projeto em Roraima possa ser um marco para os próximos certames.