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As chamadas hidrelétricas reversíveis ainda não existem no Brasil, mas o tema já está recebendo atenção do setor. Artigo escrito pelo aluno do Mestrado em Metrologia do CTC/PUC-Rio Guilherme Cosentino, foi premiado na última edição do SNPTEE e mostra que as reversíveis podem ser uma importante fonte de benefícios para regiões com demanda de água e energia, criando empregos, melhoria de vida e valorização econômica dos locais que receberem as plantas. O artigo trata dos desafios regulatórios para a inserção no Brasil.

Esse tipo de usina complexa é responsável por mais de 90% do armazenamento de energia no mundo. A reversível proporciona um aumento no nível de potência em sistemas maiores, ao contrário das baterias, que hoje estão restritas aos sistemas menores e distribuídos. O deslanche desse tipo de UHE esbarra na remuneração dos serviços ancilares, que atingem não só o armazenamento hídrico, mas também alcança o de baterias. Essa hídrica é vista como uma UHE ‘ruim’, por ser mais ineficiente que as tradicionais. Porém a sua capacidade de atuar no armazenamento como bateria supera a ineficiência.

O artigo identifica que esse tipo de usina pode contribuir com o sistema através de serviços de flexibilidade, reserva operativa, auto restabelecimento e controle de frequência. A sugestão é que a regulação crie produtos capazes de fazer a remuneração para as reversíveis, como leilões de capacidade e multiatributos, além de mercados de capacidade e de flexibilidade. Esse último, elaborado após a publicação do artigo, seria capaz de permitir a introdução de novos serviços, inclusive os ancilares. O professor Rodrigo Calili, orientador do artigo, salienta a relevância da reserva operativa. “Esse é um atributo importante e que hoje a gente precisa remunerar de alguma forma”, avisa.

No leilão de capacidade com a participação de sistemas de armazenamento, a inflexibilidade ficaria limitada a 10%. Os empreendedores consideraria o armazenamento para aumentar a inflexibilidade, com a tendência de projetos híbridos de renováveis intermitentes com baterias e UHEs reversíveis. Já o leilão multiatributo avalia os serviços ancilares como atributos e baseia-se em estudos prévios sobre serviços remuneráveis para sistemas de armazenamento e UHEs reversíveis.

Para o mercado livre, o mercado de capacidade aparece como boa opção. O ONS, com o ministério ou regulador, determinaria o preço da capacidade. Em um cenário futuro, quando o mercado estivesse mais maduro, um mecanismo de remuneração seria proposto com obrigações de capacidade descentralizada, em que os fornecedores são obrigados a contratar capacidade suficiente para atender com segurança. Já em um outro cenário ainda mais futurista, com o mercado mais aberto no Brasil, poderia ser adotado uma remuneração de capacidade com base no mercado, com grande abrangência e baseada no preço.

Já o mercado de flexibilidade, teria bastante adequação a abertura de mercado prevista no PL 414, como a entrega de serviços ponto a ponto (P2P), como blockchain. Calili ainda vê esse cenário distante, mas identifica que o ambiente permite a introdução de novos serviços e os ancilares, como entrega de capacidade. “Você vende potência e capacidade”, explica. As opções foram enviadas a mais de uma dezena de especialistas e a partir das respostas será montada uma proposta de análise de impacto regulatório para essas usinas. Segundo Calili, o resultado deverá direcionar para o pagamento dos serviços ancilares.

O autor do artigo, Guilherme Cosentino, reforçou a questão da remuneração dos serviços ancilares. Segundo ele, dos sete que são reconhecidos pela agência reguladora, apenas um serviço é remunerado, o de suportes reativos, com uma remuneração muito baixa. Há serviços que podem ser remunerados em prol do desenvolvimento das reversíveis. “Essas usinas podem gerar uma gama de serviços novos também, além dos que são reconhecidos”, observa.

Um projeto de P&D analisando as UHEs reversíveis está em curso. Tarcísio de Castro, coordenador da área de estudos ambientais da PSR, conta que o projeto desenvolve uma ferramenta que busca os locais apropriados. O modelo busca na região escolhida o escoamento da transmissão, o local sob o ponto de vista técnico e econômica, além da queda. “Quanto maior a queda menor custo do empreendimento” explica. CTG Brasil, EDF, Elera e Light estão envolvidas. O custo dessa modalidade de geração é alto, assim como o de uma hidrelétrica tradicional, porém se mostra imbatível do ponto de vista de escala e com remuneração adequada, tem resultado tão satisfatório quanto o de uma tradicional.

Segundo ele, há muitas possibilidades de UHEs reversíveis no país, reunindo condições topográficas e um sistema de transmissão organizado, com pontos de conexões próximos. A Serra do Mar (RJ) e Sobradinho (PE) aparecem como possibilidades. “Não vejo dificuldade técnica, econômica ou ambiental. A gente tem muitas possibilidades no Brasil de instalar reversível”, comenta. Castro vê essas usinas como necessárias, carentes de criação de uma regulação adequada nos próximos anos.

As atenções não estão restritas ao setor elétrico. Cogita-se que o Banco Mundial, que não vinha financiando projetos dessa categoria, já estaria disposto a rever a decisão. A Empresa de Pesquisa Energética também vem demonstrando disposição em avançar com os estudos. Pelo lado das empresas, o interesse também aparece. Há falta de literatura sobre as usinas, o que facilitaria as adequações para o modelo brasileiro.