A modernização de hidrelétricas poderia resultar em 4,7 GW de energia adicional ao sistema elétrico brasileiro. A estimativa do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID) é uma das principais propostas que derivam de um trabalho feito nos últimos oito meses em parceria com a Empresa de Pesquisa Energética e o Fórum Econômico Mundial (WEF), que criaram um grupo de trabalho para identificar as oportunidades de aportes estratégicos em energia sustentável no Brasil.

O levantamento levou em consideração a participação de 50 partes interessadas entre os setores público e privado, com a concepção de ações que poderão servir de base para futuras iniciativas de política, planejamento e regulação.

O documento intitulado Mobilizing Investment for Clean Energy in Brazil  Country Deep Dive apresenta três áreas prioritárias: financiamento para Geração Distribuída, acesso à energia limpa pelos sistemas isolados e a já referida modernização das UHEs, que segundo o BID requereria US$ 15 bilhões em investimentos nos próximos oito anos. Ao mesmo tempo, traria a redução de 57 milhões de toneladas de CO2, por conta do deslocamento de térmicas a gás natural.

Itaipu assinou contrato de R$ 3,7 bi para modernização de 20 turbinas que operam há 37 anos (Itaipu Binacional)

“Com grandes e muitas hidrelétricas brasileiras em operação há mais de 30 anos, modernizar a infraestrutura existente apresentaria vantagens como aumentar a produção de energia, eficiência, disponibilidade, segurança e capacidade de reserva, além de reduzir interrupções não planejadas e os impactos socioambientais negativos”, refere o estudo.

Hoje o país possui cerca de 110 GW de capacidade instalada hidrelétrica e um adicional de 30 MW de armazenamento bombeado para suprir o sistema energético. A ideia é propor uma coleção de mudanças regulatórias necessárias para remover barreiras a comercialização de novos serviços nesses ativos pós-modernização, reforma ou repotenciação, aumentando assim o apetite do operador da planta e do investidor para realizar ou financiar as obras.

Entre elas estão incluir as UHES nos leilões de reserva; esclarecer os conceitos de “Ampliação” e “Melhorias” utilizadas em contratos de concessão; Alocar garantia física decorrente de melhorias e expansão para descarte gratuito do gerador; prorrogação do prazo de concessão em até 20 anos para amortizar os aportes e uma remuneração adequada para a prestação de serviços auxiliares e o atributo “flexibilidade” fornecidos ao sistema.

A análise do contexto brasileiro indica que os principais riscos que afetam a modernização dessa infraestrutura são design de mercado e riscos regulatórios, assim como os riscos climáticos tais como inundações, secas e chuvas extremas. Já a aceitação social e riscos de reputação foram classificados como de baixo impacto para os projetos de modernização.

Geração Distribuída precisará de US$ 36,6 bilhões

Além das hidrelétricas, o estudo também aponta diretrizes para o desenvolvimento das renováveis complementares, sobretudo para o escalonamento da Geração Distribuída solar, que precisará de US$ 36,6 bilhões em investimentos até 2030. O objetivo é apoiar desenvolvedores, bancos e financiadores de ações enquanto se acelera a padronização e dimensionamento das boas práticas existentes nos modelos de financiamento bem-sucedidos.

“Esse é um mercado relativamente jovem no Brasil e que se beneficiaria desse arcabouço para melhorar a confiança e a familiaridade dos investidores nos diversos tipos de projetos que a modalidade oferece”, diz o levantamento. O assunto ficará à cargo do Grupo de Trabalho Financeiro da Absolar, do Laboratório de Inovação Financeira e a FEBRABAN.

Sistemas Isolados

Por fim o documento propõe a criação de uma plataforma para produtores independentes de energia (IPPs) existentes (pós-leilão) para encontrar desenvolvedores, suporte técnico, de marketing e financeiro para integrar as energias renováveis e criar modelos de geração híbrida em sistemas isolados. A solução deverá ser perseguida pela EPE, com o objetivo de alcançar um projeto piloto até 2023, incentivando o desenho de linhas de crédito específicas para projetos nesses ambientes.

Atualmente são 257 regiões não integradas e com capacidade de 1.218 MW na Amazônia, sendo mais de 90% desta capacidade à base de diesel, que não se justifica nem do ponto de vista econômico. Para resolver a questão o Ministério de Minas e Energia estima que cerca de US$ 1,9 bilhão em investimentos seriam necessários nos próximos seis a oito anos.