Os gastos dos brasileiros com o setor energético ocupam a segunda colocação entre as maiores preocupações dos consumidores em relação às contas. Essa é uma das constatações de uma pesquisa da Abrace e Ipespe. Fica atrás apenas de gastos com a alimentação. Para 90% a conta de energia está pesando mais no bolso agora do que há 5 anos. De acordo com a pesquisa, para 94% dos entrevistados os preços dos produtos estão impactando mais o orçamento neste início do segundo semestre quando comparado ao início do ano.
É a primeira vez que uma pesquisa avalia a percepção dos brasileiros em relação a temas do setor de energia. E a conta de luz mereceu críticas e a desconfiança da maioria. Para 47% dos entrevistados, o preço da conta é ruim ou péssimo. E mais de 60% dos consumidores admitiram desconhecer o que está sendo lançado na conta, embora acreditem que impostos e encargos façam parte dessa equação.
Para os que responderam que a conta de energia está muito cara ou cara, o principal motivo são os impostos, encargos e taxas embutidos. A falta de gerenciamento dos reservatórios de água e o domínio do setor por poucas empresas também são fatores citados pelos consumidores, mais ainda que a falta de concorrência e escassez de chuvas.
A afirmação com maior nível de conhecimento entre os consumidores de energia é a de que “o Brasil tem muito vento, sol e rios, e por isso deveria ter a energia mais limpa e barata do mundo”. Em segundo lugar em conhecimento está a frase “a energia é cara porque mais da metade do custo são impostos, taxas, encargos e subsídios”, também com elevado grau de concordância.
Apesar da relevância do tema, a grande maioria acredita que as opiniões e necessidades da população com relação à energia elétrica não são levadas em consideração nas decisões sobre esse setor.
A pesquisa também avaliou a percepção dos brasileiros em relação às questões de sustentabilidade e energia limpa. Nesse quesito, a concordância dos respondentes alcança 70%. Para esta parcela a proteção do meio ambiente deve ser priorizada, mesmo correndo o risco de limitar a quantidade de suprimentos de energia que o Brasil produz, em detrimento da ideia contrária de que os suprimentos devem ser prioridade, mesmo que decorram danos ao meio ambiente.
Mas instados a se posicionar diante da possibilidade de pagar mais caro para usar uma energia mais limpa e sustentável, prevalece uma predisposição negativa (seis em cada dez não aceitariam pagar mais caro).
Segundo a análise da entidade e do instituto de pesquisa, essa resistência é corroborada pela opinião preponderante de que, em geral, no Brasil as pessoas estão, nesse momento, se preocupando mais com o custo da energia, e não se o insumo é limpo ou poluente.
São definidos, sob estímulo, como temas mais importantes associados ao setor de energia elétrica o preço da conta de luz, e em segundo lugar o impacto no meio ambiente e a geração de empregos. O uso de energia limpa e sustentável vem em quinto lugar. No agregado, as questões de ordem econômica somam metade das respostas; e os itens associados ao meio ambiente e uso de energia limpa chegam a um quarto.
Embora no ranking de temas importantes do setor a crise energética apareça em último lugar, sob estímulo, predomina a percepção sobre a existência ou risco de crise. Apenas um quarto dos brasileiros descarta por completo, atual ou futuramente, a hipótese de crise energética no Brasil. E quatro em cada dez pessoas avaliam como pequeno ou muito pequeno o risco de apagão nos próximos seis meses.
A principal causa apontada para uma atual ou eventual crise energética seria a ausência de políticas de investimentos para o setor.