O Banco Mundial avalia que os atuais planos de expansão termelétrica no Brasil, a partir de novas usinas a gás, vão trazer custos financeiros e econômicos significativos para o sistema elétrico e a economia. A conclusão foi apresentada pelo economista da instituição Luis Andres, durante webinário do Tribunal de Contas da União sobre os impactos das mudanças climáticas e as adaptações necessárias na infraestrutura.
Para a Bird, embora existam desafios reais a serem superados, o Brasil tem “uma oportunidade extraordinária de construir um futuro próspero”, podendo se tornar um dos maiores produtores de hidrogênio verde do mundo, e acelerar a transição energética. O cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável com a descarbonização da economia exigirá grandes investimentos anuais em infraestrutura, equivalentes a 3,7% do Produto Interno Bruto.
Além do representante do banco, outros participantes do evento destacaram que os esforços de mitigação dos impactos das mudanças do clima passam por investimentos em energia limpa, mas considerando diferentes opções. “Uma matriz diversificada como a nossa facilita o combate aos efeitos climáticos”, afirmou o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Hailton Madureira. Ele destacou novos potenciais como hidrogênio e eólica offshore, além do gás, energia solar a eólica em terra.
O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Felipe Melo, também vê o país como protagonista na solução global para mitigar os impactos das mudanças em curso, com a aceleração da política de redução das emissões de carbono e de metano.
Com a participação significativa da fonte hidrelétrica na matriz brasileira, a incerteza climática sempre foi um elemento central no planejamento da expansão e da operação, assim como no desenho de mercado e na formação de preços, destacou o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Thiago Barral.
“A tarifa de energia elétrica é extremamente sensível às mudanças climáticas. Variabilidade implica que a gente vai precisar compor diferentes recursos, e, em alguns casos, usando as fontes fosseis. E isso dá volatilidade aos preços. A grande proteção a isso é a diversificação. Não apostar em uma fonte específica, mas em diferentes recursos”, disse Barral.
No contexto atual, não é possível dissociar a discussão de mudança climática com a variabilidade climática. O planejamento tem que trabalhar com critérios de segurança de suprimento alinhados às transformações em curso. As decisões são baseadas em um nível de aversão ao risco também aderente aos cenários de escassez hídrica que tem se delineado nos últimos anos.
Segundo Barral, em função de todos os conflitos que surgiram na crise de escassez hídrica do ano passado, as restrições associadas ao uso da água foram internalizadas no Plano Decenal de Energia. O PDE também já reflete as percepção em relação às mudanças do clima.
Na semana passada, o governo aprovou um novo plano de recuperação de reservatórios, previsto na lei 14.182. Trata-se de um plano de ação de dez anos para aprimorar a coordenação e evitar conflitos, que inclui uma proposta da EPE de desenvolvimento de um roadmap de resiliência climática.
Monitoramento
O Brasil deve lançar no horizonte de dois a três anos o primeiro de uma família de satélites que terá como foco o monitoramento dos recursos hídricos no país. O Amazônia 1B será o pioneiro da chamada Missão Aqua, um projeto de 30 anos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais que vai utilizar satélites de diversos tamanhos e tipos, direcionado exclusivamente a essa finalidade.
O coordenador geral de Ciências da Terra do INPE, Gilvan Sampaio de Oliveira, lembra que o relatório do IPCC já mostra redução do volume de chuvas em boa parte do país. Qualquer que seja o cenário, há uma diminuição da umidade do solo, e isso tem impacto muito grande não só na agricultura, como nos recursos hídricos.
Para o pesquisador, há boas iniciativas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, mas é preciso pensar em outras ações para preservar um recurso que vai se tornar cada vez mais escasso.
Na visão do coordenador do INPE o país deve principalmente descarbonizar a geração de energia, usando cada vez mais fontes renováveis, e menos recursos fosseis. Ele considera a ocupação da floresta com barragens e grandes obras um erro estratégico. “Tem outras mudanças que podemos fazer no estilo de vida. Vivemos em uma sociedade de alto consumo e temos que repensar esse consumo. Mas, sem dúvida, a maior mudança e no setor de energia.”