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Com a chegada do mês de setembro e o tempo permanecendo mais seco, perdendo historicamente apenas para agosto, uma das preocupações das distribuidoras de energia no Brasil recaem nas queimadas e demais ocorrências que possam perturbar o fluxo da rede, interrompendo o serviço essencial aos consumidores e ocasionado perdas financeiras pelas compensações e multas.
Segundo relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), 37% das perturbações registradas no Sistema Interligado Nacional (SIN) foram ocasionadas por esses fenômenos, considerando apenas em julho de 2021. Em agosto o número subiu para 61% e em setembro ficou na casa dos 60%. Somente no mês de outubro houve queda para 21%.
Para lidar com essa problemática, a Concert Technologies desenvolveu uma solução que une sensoriamento remoto e inteligência artificial para mapear e gerenciar toda vegetação como um ativo, utilizando múltiplas fontes de imagens (via satélite, drone, veículos e smartphones) para fotografar os ambientes e extrair informações úteis para gestão.
“Alguns algoritmos apontam quais as regiões prioritárias para poda, selecionando os alvos de manejo de forma ótima, calculando distâncias, riscos de contato e para as queimadas, diante de um orçamento conhecido”, definiu à Agência CanalEnergia o Head de Inovação e Produto da Concert, Felipe Sant’anna.
Toda análise vai para uma plataforma chamada Imagery. Assim é possível tratar vegetações presentes tanto no meio urbano quanto no meio rural, lançando mão do mapeamento e priorização mediante os interesses da concessionária, o que possibilita otimizar os gastos com o manejo e fiscalização dos serviços executados.
O executivo vê dois riscos principais associados ao crescimento da flora sob os ativos do setor elétrico: contato ou queda de galhos e biomassa sobre cabos condutores, responsável por 50% dos casos de desligamentos na distribuição de energia em ambiente urbano. O outro é no campo, um ambiente mais propício a propagação das queimadas e que registraram recorde em 2022.
“As queimadas têm diversas origens e os seus impactos no fornecimento de energia estão fortemente ligados à execução do manejo criterioso da vegetação, observando o risco associado de eventos climáticos e as características de cada tipo de bioma”, destaca Sant’anna, ressaltando a importância de planejar o orçamento de forma holística e com base em dados históricos e preditivos, principalmente em grandes áreas de concessão.
Fruto do P&D
Com mais de 40 anos no mercado e um portfólio diverso para sistemas críticos de utilities e ao segmento aeroespacial, a Concert é uma holding formada pela unidade Lab e a de Serviços, com atendimento para terceirização de processos que usam intensamente tecnologia da informação, Sistema de Proteção, Controle e Supervisão para ativos, entre outros. Possui também uma spin-off, a Thingable!, focada em soluções IoT.
Até então são mais de 20 clientes e 40 contratos ativos entre grandes concessionárias de distribuição, geração e transmissão. Pelo Imagery monitora 42 mil km de redes, afirmando estar envolvida no fornecimento de energia para cerca de 40% dos brasileiros e com o setor elétrico representando 90% do seu faturamento.
O projeto para concepção da ferramenta foi desenvolvido a partir de 2015, dentro do programa de Pesquisa & Desenvolvimento da Aneel, com investimentos de aproximadamente R$ 9 milhões. A primeira etapa aconteceu com o Grupo Energisa, que implementou a solução em Sergipe no ano de 2017 e que tem pretensões de expansão para suas outras concessionárias pelo Brasil.
“É um kit de tecnologias para apoiar as áreas operacionais a melhorar a eficiência dos processos, evitando desligamentos e queimadas”, resume Felipe, lembrando que o projeto evoluiu depois para a segunda fase, com a nova versão sendo disponibilizada para a Cemig em 2020.
Evitando perdas
O especialista ressaltou que o momento é de mensurar os ganhos junto aos clientes, o que não é tão fácil por uma rotina de poda ou manejo ser costumeiramente semestral ou anual, demorando mais assim para avaliar a magnitude e otimização com os ganhos.
No entanto ele adianta que o valor que as corporações enxergam na ferramenta é na redução dos desligamentos e deixando de compensar financeiramente os clientes lesados, o que para a Energisa pode ser acima de R$ 70 milhões por ano para todas as distribuidoras.
“É dinheiro de multa que se deixa de pagar, que iria para o ralo, o que vale também para a parcela variável das transmissoras”, analisa.
Agora o foco é ampliar a solução para transmissoras e prefeituras, ferrovias e grandes indústrias, fornecendo uma visão bem integrada de inventário, inspeção, execução e gestão. “Faz sentido também para as transmissoras, que possuem torres e cabos em locais com maior incidência de vegetação do que as distribuidoras”, complementa.
Outro recurso da Concert é a utilização dos indicadores de qualidade DEC e FEC das concessionárias e outros que impactam em geral no negócio, visando formar uma visão de risco global. Há também uma suíte de soluções para dentro do centro de controle das distribuidoras, com tomada de decisões em tempo real.
Felipe Sant’anna lembrou que para fechar o primeiro contrato com a Energisa, um estudo da Deloitte foi encomendado pelo agente, que concluiu o Imagery como uma ferramenta inédita no mercado por tratar de diversos tipos de imagens e utilizar alguns algoritmos de inteligência para entender o comportamento da árvore, tratando como ativo. “Transformamos a forma como se faz a inspeção, minimizando esforços”, acrescenta.
Sant’anna: solução passa visão integrada de inventário para validação de contratos, inspeção, execução e gestão (Concert)
Devido a integração com a execução da poda, ele conta que toda vez que a empreiteira realiza o serviço, o sistema colhe informações e fotografias, o que permite fiscalizar a atividade, o que hoje é feito por amostra. Outra possibilidade é gerenciar a presença de ativos de terceiros que influenciam no negócio, como nos parques de iluminação pública e no uso mútuo de postes de Telecom, além de problemas estruturais.
Planos para o futuro
Pensando no futuro, o executivo afirmou que a companhia está sendo estruturada para virar uma fábrica de startups, tendo já criado uma para explorar o mercado de IoT. Para os próximos anos são projetados investimento de aproximadamente R$ 4 milhões em três projetos: Thingable, sping off do grupo que consiste em uma plataforma IoT low code; Mission Control Plataform, além da própria transformação digital da companhia, já em curso.
Outra iniciativa em desenvolvimento e que entra agora na segunda etapa é o chamado Centro de Operações do Futuro, junto à Cemig e ao ONS e utilizando o termo de consciência situacional, que vem do mercado aéreo e militar. Assim o software SCADA da distribuidora mineira utiliza a versão específica xOMNI SG para monitorar 567,3mil km² em mais de 770 cidades e Mais de 410 subestações.
“É uma mudança de paradigma nos centros de controle, trazendo uma interface única e limpa para melhorar a consciência do que está acontecendo”, resume Felipe Sant’anna, lembrando que no centro da Cemig são 60 funcionários trabalhando com cinco ou seis telas.