O gerente executivo de planejamento energético da Auren Energia, Bruno Noronha, acredita que o período úmido não promete começar de forma considerada vultuosa, com chuvas abundantes, mas com o volume de água necessário para que os reservatórios das hidrelétricas permaneçam próximos da normalidade. A projeção é que outubro já ocorram chuvas consideradas importantes para o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, principal mercado consumidor do país.
“A região Sul, por exemplo, que vinha com uma média deficitária de volume de chuvas, atingiu uma média acumulada maior e de alguma forma vem ajudando o sistema como um todo. Ao longo do período seco tivemos alguns momentos de atenção”, comentou o executivo durante o webinar promovido pela Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia) e pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) na última quarta-feira, 31 de agosto. O mês de julho, por exemplo, em termos de média, foi o nono pior de todo o histórico. No Sudeste/Centro-Oeste, foi o segundo pior.
“Estamos vendo o Oceano Atlântico, na faixa equatorial, levemente aquecido e esse é um dos indicadores que traz uma expectativa de período úmido mais próximo à normalidade na região SE/CO. Não vemos ainda um cenário vultuoso, mas já é uma sinalização de que podemos ter um período úmido se iniciando próximo à normalidade”, comentou Noronha.
De acordo com dados apresentados pelo executivo da Auren, a Energia Natural Afluente (ENA) saiu de pouco mais de 20.000 MWm, em julho para quase 40.000 MWm. Já a média de longo termo (MLT) saiu de 70% para 95%.
De acordo com Noronha, os modelos de simulação mostram que, em setembro, a expectativa é de chuvas consideradas passageiras na região Sul e de um volume mais intenso de precipitações nas bacias do Sudeste e Centro-Oeste já na segunda quinzena deste mês. Para o mês de novembro, os modelos de projeção atmosférica apontam chuvas mais intensas no Centro-Norte do país e um volume menor de chuvas no Sul, em linha com o fenômeno La Niña.
A demanda, por outro lado, tem sido semelhante ao nível da demanda registrada em 2021, ano em que o Brasil enfrentou uma grave crise hídrica. O nível dos reservatórios no Sudeste, de 57%, apesar de abaixo do desejável, tem sido menos impactado por conta da frente fria registrada ao longo de agosto no Sudeste e no Sul, que, segundo Noronha, trouxe a demanda para baixo.
O executivo da Auren acrescentou ainda que a matriz energética brasileira ficou mais complexa nos últimos anos, do ponto de vista operativo. Isto se deu por conta do aumento da participação das usinas renováveis, como eólica e solar, e a adoção das hidrelétricas chamadas a fio d´água ou de reservatórios menores, por conta de questões ambientais. Além disso, segundo Noronha, as características mais sazonais do consumo de energia e a penetração da geração distribuída também aumentam tal complexidade operativa.
Segundo Noronha, com o aumento da intermitência por conta do crescimento da participação das fontes eólicas e solares, há uma necessidade de que o sistema elétrico brasileiro tenha uma flexibilidade operativa maior, ampliando o intercâmbio energético entre os submercados do sistema.
Já para o presidente executivo da Cogen, Newton Duarte, o setor energético brasileiro necessita de atenção especial depois de enfrentar uma grave crise hídrica. “Precisamos tirar como lição o ocorrido no ano passado para aprender com as dificuldades”, ressaltou.
Para finalizar, o gerente de bioeletricidade da Única, Zilmar de Souza, reafirmou que as biomassas são fundamentais para conseguir complementar a oferta de energia do país. “Para dar conta dessa expansão dos próximos anos, podemos ter um aproveitamento melhor de usinas a biomassa”, completou.