A demora para que o gás brasileiro se torne competitivo para a produção industrial pode fazer com que o energético perca a janela da transição energética. De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais e Livres, Paulo Pedrosa, a indústria acabará fazendo a transição direto para a fase do pós-gás, migrando para modelos de eletrificação baseados em subsídios, como a biomassa ou o biogás. A Geração Distribuída também já se coloca como concorrente do gás na eletrificação. “Precisa chegar agora, com contratos com segurança e flexibilidade capazes de ajudar a indústria a fazer a transição com gás”, explica Pedrosa, que participou nesta quarta-feira, 28 de setembro, de painel na Rio Oil & Gas, no Rio de Janeiro (RJ).

Para Pedrosa, os contratos industriais vão permitir a ancoragem do gás da camada pré-sal, que hoje está sendo reinjetado. No painel, o presidente da Abrace não se mostrou satisfeito com o estágio do mercado de gás brasileiro após a aprovação do novo mercado. Segundo ele, a impressão é que ainda não houve efetividade, com os contratos sendo fechados para atividades de menor impacto. Ele lembrou que o setor industrial sobre investiu muito no conhecimento sobre o gás, mas o país inda precisa definir quais rumos quer tomar para o insumo energético.

Sobre a regulações estaduais, Pedrosa lembrou que no ranking feito pela associação, a melhor nota foi do estado da Bahia, com 6,7, um valor mediano, o que segundo ele demonstra que ainda há muito a ser feito. “A melhor nota não é estimulante”, avisa. Ele elogia a disposição dos agentes, mas uma velocidade maior no desenvolvimento do mercado de gás poderia ter preparado o melhor o setor para a guerra na Ucrânia.

Para Regina França do Rosário, diretora técnica da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Sergipe, as movimentações do novo mercado, por mais que possam parecer tímidas, devem ser valorizadas por que indicam que ele está acontecendo. Para ela, os estados da região Nordeste tem se destacado na regulação do gás. Segundo Rosário, não é o regulador local que não faz a lei andar e prometeu em breve resoluções que envolvam Hidrogênio Verde e Biometano.

Portaria 50 – Ao comentar a portaria que abre o mercado livre para o grupo A, o presidente da Abrace salientou a preocupação da associação com a abertura para a baixa tensão, devido ao impacto nos subsídios para os consumidores. O valor dos benefícios pode chegar a R$ 300/MWh nos contratos e a Conta de Desenvolvimento Energético iria explodir caso as distorções não sejam equacionadas.