A retomada da economia no que foi chamado de pós pandemia pela BloombergNEF tem sido liderada pela geração térmica em termos globais. Na comparação com 2020 houve um aumento de 5,6% na produção de eletricidade, sendo o carvão mineral um dos expoentes com alta de 8,5%. Apesar desses indicadores a situação é conjuntural e a tendência é de que as renováveis voltem a apresentar custos mais baixos a partir dos próximos anos.
De acordo com analista de Transição Energética da BNEF, Sofia Maia, além da retomada da atividade econômica, outros fatores explicam esse aumento. Um deles é a ocorrência de secas que afetou, principalmente, países com alta dependência hídrica, e o aumento do custo do gás natural em países da Europa.
Como consequência, disse ela, as emissões de gases de efeito estufa aumentaram em 7%, sendo que as térmicas a carvão foram as que mais contribuíram, alta de 8% só desta fonte, enquanto a gás ficou em 4%. Três países apenas concentraram 57% do total de emissões, os Estados Unidos, China e Índia.
Apesar dos números, a executiva ressaltou que há boas notícias. E essas vêm da expansão das renováveis, que continuam a ser as fontes que mais crescem no mundo. Na soma entre as fontes eólica e solar o índice é de 50% do total acrescentado em 2021. A Ásia vem liderando esses aportes com 49% da expansão global e por lá metade é originado nessas fontes.
“O Brasil é um dos países que estão entre os que mais adicionam capacidade de geração renovável no mundo”, afirmou Sofia durante sua participação no Painel transição energética justa: como acelerar a implantação de energia eólica de forma sustentável, realizado no primeiro dia do Brazil Windpower 2022, evento realizado e promovido pelo Grupo CanalEnergia, by Informa Markets, ABEEólica e GWEC.
“O LCOE das renováveis estão caindo em todo o mundo e esse é o argumento que tem levado os países a escolherem as duas fontes como as preferidas para a expansão, atualmente estão entre US$ 45 e US$ 46 por MWh”, apontou. “De 2025 para frente é possível que os preços normalizem e continuem a redução nos próximos anos após a recente alta por conta das pressões que a cadeia de suprimentos vem passando”, acrescentou.
Moderador do painel, o professor Maurício Tolmasquim ressaltou que esses dados refletem o momento de que é mais barato hoje em dia construir ativos de fontes solar e eólica do que gerar energia a partir de uma usina térmica de fontes fosseis já estabelecida. Mas lembrou que essa análise não leva em conta a segurança energética e sim apenas olhando do ponto de visto econômico-financeiro, pois com as renováveis há a questão da variabilidade que não pode ser controlada.
Mas reforçou a importância dessas fontes pelo lado econômico e que possuem o aspecto ambiental e de sustentabilidade.
Esse comentário vem em complemento ao que defendeu o presidente do Conselho da GWEC, Morten Dyrholm, que a fonte eólica não é apenas o valor financeiro que se paga pela energia. A questão de inserção das pessoas no mercado de trabalho, que atribuiu valor por meio do combate às mudanças climáticas e à vida das pessoas são pontos importantes intangíveis. “Há barreiras que ainda existem para que possamos aumentar escala, mas são questões de fácil implementação, não inventaremos algo novo, a tecnologia está colocada, é conhecida”, afirmou ele.
A presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, reforçou essa declaração, destacou que os números mostram que estamos fazendo a transição energética não é apenas custo e preço mas com valor social e ambiental das renováveis, com especial destaque para a eólica.
“Os dados do IBGE mostraram que o PIB no Nordeste cresceu 21% associado à chegada dos parques eólicos e consequentemente o índice de desenvolvimento humano aumentou”, relatou. “A cada real de investimento na fonte eólica devolvemos R$ 2,9 para o PIB. Energia é de fato determinante para a retomada econômica, mas não é somente a retomada e representa sim o desenvolvimento social das regiões”, acrescentou.
Élbia ainda defendeu que a perspectiva de investimentos do Hidrogênio Verde deverá acelerar mais ainda esse cenário com as possibilidades de fornecimento do insumo em seus diversos formatos como a amônia, para exportação, já que a demanda por energia mesmo é um dos desafios que o país enfrenta. E avisou que em 2035 disse esperar que o país já tenha muito mais capacidade instalada de eólica offshore do que a BNEF prevê, que é de 3 GW em desenvolvimento.
“Eu quero 8 GW ainda nesta década, não tudo em operação mas sabemos que estamos prontos”, finalizou.