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O World Energy Outlook da Agência Internacional de Energia, apresentado na quinta-feira, 27 de outubro, aponta que o mundo precisa acelerar os aportes em energia limpa para que as metas de net zero 2050 possam ser alcançadas. O GWEC aponta que o volume de eólicas precisa triplicar para que esse mesmo objetivo seja alcançado. Contudo, o momento pelo qual as fabricantes passam não é dos melhores, grandes empresas estão operando no vermelho por conta do aumento de custos das commodities e inflação.

As fabricantes estão adotando medidas de controle e restruturações em suas operações globais para poderem encontrar o equilíbrio financeiro. Enquanto isso os pedidos continuam a aumentar. O que traz uma perspectiva interessante para as empresas nos próximos anos. O Brasil, como um dos grandes mercados mundiais, não escapa dessa realidade. Por aqui o custo da energia eólica segue a mesma tendência de elevação.

Rodrigo Ugarte Ferreira, líder de Procurement para América Latina da Vestas, lembra que a inflação das commodities tem chegado a índices de 100% a 200%. Essa elevação de preços acaba se refletindo nos valores dos PPAs em uma indústria que ainda precisa de mais maturidade como é a eólica. “Há questões que precisam ser equacionadas no setor e neste momento é como assegurar a rentabilidade de quem atua na indústria. O mundo precisa da fonte renovável mas as empresas estão sofrendo com a parte financeiras para manter sua rentabilidade”, disse ele.

O executivo avalia que outras indústrias têm sofrido menos com essa elevação de custos. E ainda, que esse cenário deverá se manter de forma mais estrutural porque já diversas atividades que dependem, por exemplo, do aço que veem a demanda aumentar. Citou nominalmente, a transmissão de energia e a indústria automotiva.

Mas no caso da eólica ainda há necessidade de que sejam concedidos incentivos para mitigar os efeitos dos aumentos de preços e uma forma seria a desoneração de tributos da cadeia. Ele exemplifica que no Brasil o aerogerador montado aqui sofre quando comparado ao importado.

“Hoje temos uma desvantagem de cerca de 30% por conta do PIS e Cofins que se acumulam e não conseguimos repassar”, aponta.

Felipe Ramalho, diretor-geral da Nordex Acciona no Brasil, confirma essa questão que traz desvantagem para o equipamentos produzido localmente ante o que vem importado. Para ele, a questão tributária é central. Ele explica que dependendo da forma como o equipamento é importado há isenções. Se vierem de fora os componentes tem tributação no ICMS já quando o aerogerador vem montado, não. E aponta o crédito de tributos como um problema para a competitividade local.

“Criamos créditos em milhões de reais que ficam parados em vários estados. Esses valores acabam sendo considerados como custo, pois se credita e não pode usar”, disse. “É urgente alguma reforma tributária estruturante para corrigir essa distorção”, sugere ele como uma forma de atribuir competitividade aos fabricantes locais.

Felipe Ferrés, diretor geral da Siemens Gamesa, também aponta a questão dos tributos como um dos pontos a serem atacados para melhorar as condições de preços por aqui. A companhia liderada pela Siemens está em restruturação justamente para buscar ser mais eficiente do ponto de vista operacional em todo o mundo. Esse fenômeno, lembrou o executivo, afeta todos os fabricantes do mundo que estão com balanço no vermelho e que a volatilidade dos preços impactou todos. Por aqui, a unidade brasileira da empresa é colocada como um hub para a América Latina para atender ao mercado em expansão.

Ferreira, da Vestas, lembra ainda que é necessário a nivelação da competição dos equipamentos nacionais com o importado para que haja isonomia. “A inflação veio para ficar. O caminho é como modelar os preços de acordo com a realidade atual”, avaliou.

Inclusive, Ramalho, da Nordex Acciona, acrescentou ainda que os valores vistos no mais recente leilão A-5, na casa de R$ 175 por MWh estava relativamente baixo para o atual nível de capex que se tem exigido para um novo projeto. A empresa, assim como a Vestas, vem estudando de como adequar os valores de produção com o preço dos equipamentos.

“Notório que temos um problema setorial nos custos, não é local, é global. Custo das commodities, o combustível dos navios aumentou, a disponibilidade de contêineres diminuiu, as rotas trocadas e tempo de entrega aumentou. Ao mesmo tempo a flutuação cambial alcançou níveis nunca vistos com inflação em euro e em dólar, um fator que não era previsto. Se o mundo quer energia limpa verde e não pode matar os fabricantes que devem operar de alguma maneira sustentável e os acionistas não podem suportar perdas por tanto tempo”, analisou Ramalho.

Ele explicou que a Nordex Acciona vem conversando com seus fornecedores para buscar soluções. Mas que em algum nível o aumento acabará indo para a tarifa de energia.