Análise da Stima Energia mostra que a inflação tem pressionado os contratos de energia. A incerteza sobre o quadro fiscal do país torna o cenário ainda mais desafiador em curto e médio prazos e, consequentemente, influencia também os contratos negociados no mercado livre. Isso ocorre porque os contratos são, em sua maioria, reajustados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.
De acordo com Erico Mello, sócio e fundador da Stima, atualmente os preços negociados no mercado de longo prazo são, em média, R$ 140/MWh, para um contrato de 10 anos de entrega de energia convencional. Segundo ele, considerando a projeção atual do boletim Focus até o ano de 2025, e mantendo-se uma inflação de 3% em longo prazo, o custo de aquisição pode chegar a R$ 170/MWh. Ele calcula que caso a inflação fique por volta de 6%, a energia pode custar até R$ 200/MWh.
O executivo explica que a projeção é preocupante, pois o mercado livre corresponde hoje a cerca de 30% do consumo nacional. A maior parte das grandes empresas compra energia no ACL. Ainda de acordo com ele, a inflação causa receio nos clientes, que evitam se comprometer com prazos maiores na hora de comprar energia, e dificulta a vida do empreendedor de geração, que busca contratos de longo prazo para viabilizar a construção de novas usinas.
Essa queda na procura por contratos de longo prazo em razão da inflação pode atrapalhar a expansão da matriz renovável do País. Nos últimos anos, é o ACL quem tem puxado o crescimento de fontes como eólica e solar, já que os tradicionais leilões de energia do mercado regulado têm demanda cada vez menor. Se os contratos de longo prazo escassearem, os investidores podem não conseguir viabilizar boa parte dos novos parques de energia limpa.
Além disso, Mello aponta que esses investidores já têm sofrido impacto da inflação no capex dos novos parques, no preço dos equipamentos e no custo do financiamento. Além dos reajustes pelo IPCA, esse aumento do capex também vai pressionar o preço da energia, já que o valor da eletricidade incide sobre a inflação.