Assim como eólicas e solares, o biogás é mais uma fonte de energia que pode ser transformada em hidrogênio verde. O hidrogênio hoje é produzido de forma predominante pela rota de reforma a vapor do metano, que é usada nas refinarias para produzir hidrogênio e outras aplicações. O biometano pode entrar no processo substituindo o gás natural. Em painel realizado durante o Fórum de Energia Renováveis, em Natal (RN), na última quarta-feira, 9 de novembro, a coordenadora técnica da Associação Brasileira do Biogás, Letícia Lorentz, revelou que a estrutura existente de produção de hidrogênio pode ser descarbonizada com a troca. “É muito mais simples que desenvolver outras rotas”, explica.
De acordo com ela, as eletrólises através de energia solar e eólica ainda estão evoluindo para lidar com as intermitências da geração. O biometano, ao contrário, já pode ser aplicado no modelo existente. “Essa é uma grande vantagem, já temos uma solução que está muito encaminhada para o hidrogênio verde”, avisa. A coordenadora da Abiogás vê a necessidade de avanços nas discussões, uma vez que o H2 verde ainda é um tema recente para o mercado. Ela frisou que é necessário mostrar que o chamado ‘energético do futuro’ pode ser obtido por outras maneiras além da eletrólise.
O uso do biogás traria uma maior eficiência e um menor custo em relação a eletrólise e traria a incorporação dos atributos ambientais e sociais para a cadeia do H2 Verde. Para produzir 1 quilo de H2 verde, seriam necessários de 4 a 5 m³ de biometano.
A geração distribuída aparece como grande oportunidade para o pequeno e médio produtor. Dentro de processos como agricultura de pequeno porte, os resíduos podem ser utilizados para gerar a própria energia e reduzir seu passivo ambiental de resíduos. Ela dá como exemplo o que já acontece com a fonte solar, em que uma pequena fazenda usa painéis para suprir o seu consumo de energia.
Com um forte apelo entre os consumidores, a GD solar vem atraindo a imensa maioria dos pedidos, uma vez que ela reúne uma série de atributos que facilita sua adoção. Por outro lado, a GD com o uso do biogás também tem um apelo ambiental, principalmente no agronegócio. Letícia Lorentz pede uma complementaridade entre as GDs renováveis, de modo que uma não dispute com a outra e sim aproveitem as mesmas oportunidades. “Existem possibilidades que podem ser aproveitadas juntas”, avisa.
As boas perspectivas para a fonte proporcionaram um salto no número e empresas associadas da Abiogás, chegando a 135. No país hoje são 394 MW de potência instalada. Minas Gerais é o estado com mais plantas, 182, seguido por Santa Catarina, com 47 e São Paulo, com 33 usinas. Ainda de acordo com ela, a modernização do setor deve levar a uma diminuição nos tamanhos dos leilões de energia, o que pode favorecer a fonte.
*O repórter viajou a convite do Sebrae-RN