O próximo plano estratégia da Eletrobras revelará as perspectivas de investimentos da nova fase da empresa. A ideia é de que esse direcionamento seja revelado no 1º trimestre de 2023 junto aos resultados anuais de 2022. Em linhas gerais a empresa deverá apresentar um cenário de investimentos anuais entre R$ 12 bilhões a R$ 13 bilhões com foco nas fontes renováveis.
O CEO da empresa, Wilson Ferreira Júnior, disse que os mais recentes movimentos em relação a obras mostram que a empresa recuperou sua capacidade. Ele relaciona a Santo Antônio Energia, que passou a ser consolidada no balanço da empresa, o início das obras do linhão Manaus-Boa Vista, que prevê aporte de R$ 3 bilhões, mais a perspectiva de ser garantidor para a retomada de Angra 3 fora do escopo do que foi chamado plano de aceleração do caminho crítico da central nuclear.
“A revisão do Plano Estratégia e de Gestão será divulgado no 1º trimestre de 2023 e todas as perguntas serão respondidas nesse plano. No momento os conselheiros estão trabalhando, contratamos uma consultoria onde temos como foco a perspectiva de crescimento sustentável da companhia nos negócios onde temos papel relevante, são eles a geração renovável e em transmissão”, comentou o executivo em questionamento da Agência CanalEnergia.
No segmento de comercialização, a Eletrobras deverá ver um volume de energia a ser descotizado a partir de janeiro de 2023. A empresa não descarta, por exemplo, a aquisição de uma comercializadora. Contudo, para ele, o mais natural é ter um time que gerencie e coordene esse segmento dentro da holding com o estabelecimento de estratégia de produtos aproveitando a presença nacional.
O endividamento da empresa saiu de uma relação entre dívida líquida sobre o ebitda de 0,8 vez para 1,8x e o indicador ideal, lembrou ele é de 2,5x. “Então temos sim capacidade de investimento, era menos de R$ 5 bilhões ao ano e agora na casa de R$ 12 a 13 bilhões. Isso tudo evidencia esse aumento”, argumentou.
Ainda no plano de antecipar possíveis movimentos está a descarbonização da matriz de geração da empresa. Nesse sentido, disse o executivo, é previsto a saída da Eletrobras de Candiota 3 que tem contrato até início de 2025. Nesse caso ainda está sendo estudado o que fazer, se a empresa desmobiliza como fez com as duas primeiras unidades de geração da central ou se pode alienar a usina uma vez que a UTE recebeu investimentos de melhoria e pode interessar a outro operador, citando como exemplo a recente venda da UTE Pampa Sul, da Engie.
O fato, confirmou ele, é que Candiota não deverá fazer mais parte do portfólio da Eletrobras de uma forma ou de outra. Além dessa usina, está no foco da companhia deixar pequenas geradoras em sistemas isolados no Norte do país a gás ou a óleo e que são mais ineficientes que Mauá 3 ou Santa Cruz, ambas a gás natural.
“Olhando para os debates e a agenda de questão ambiental, temos e podemos ser o exemplo de viabilizar os desejos globais, estamos preparados para ser protagonistas na agenda e sermos a ‘green major’ do setor elétrico no mundo”, disse.
Ainda no sentido de desinvestimentos, a previsão de ter até R$ 4,4 bilhões em vendas deverá ser viabilizada pela empresa até o final do terceiro trimestre do ano que vem. No foco está inclusive o que classificou como descruzamento de operações com empresas onde a Eletrobras possui sociedade em mais de um ativo e que pode interessar à contraparte ter mais concentração em uma sociedade deixando outra. Ele não citou em quais empreendimentos pode ocorrer mas, relatou que já há agentes do mercado nessa situação que sinalizaram estarem interessadas em negociar.
Um ativo potencial pode ser a venda da parcela de 32% que a Eletrobras tem na CEEE-G, arrematada este ano pela CSN. Segundo as regras do edital de privatização da estatal gaúcha, está prevista uma oferta pública que a compradora teria que lançar. Segundo o CEO da Eletrobras, a empresa vem se preparando e caso o valor da oferta seja de 100% do valor das ações seria algo como R$ 490 milhões, um valor que faria com que a empresa seguisse com a venda como fez com a sua parte na CEEE-T para a CPFL.
Santo Antônio
Um dos itens de curto prazo que a Eletrobras pretende fechar é o reperfilamento da dívida da UHE Santo Antônio, que está em R$ 20 bilhões, segundo o balanço da empresa divulgado nesta quinta-feira, 10. A participação da Eletrobras é de pouco mais de 72% por meio de Furnas que subscreveu um aumento de capital de R$ 1,5 bilhão.
Segundo Ferreira Júnior, a empresa possui uma parcela de dívida que data de 2018 com custo mais elevado e estuda como renegociar. Uma das opções é pagar essa dívida trocando por uma outra com custo menor e no mercado local, apontou a diretora financeira da empresa, Elvira Presta.
Ferreira Júnior disse ainda que não vê risco de o próximo governo interferir na administração e nos caminhos que a empresa terá uma vez que o conselho está eleito e tem mandato e com independência. “O governo tem 35% da companhia e tem interesse no seu resultado, a agenda é do Brasil como um todo de atração de capitais privados que gerem investimentos no país”, acrescentou.