Após anos de muitas indefinições, a fonte nuclear projeta boas perspectivas para os próximos anos. Na última quarta-feira, 16 de novembro, durante o Nuclear Legacy, o presidente da Associação Brasileira para a Atividade Nuclear saudou que as ferramentas do planejamento, como o Plano Nacional de Expansão e o Plano Nacional de Energia contemplem novas plantas e a adição de 8 GW a 10 GW.
Outro ponto comemorado foi a retomada na última sexta-feira, 11, do canteiro de obras da Usina Nuclear de Angra 3 ( RJ – 1.500 MW). As obras estavam paralisadas desde 2015, quando foram interrompidas por falta de recursos do Governo Federal. Outro assunto que levantou boas previsões foram os Pequenos Reatores Modulares ou Small Modular Reactors (SMRs) que podem ditar novos rumos para a expansão da fonte. O presidente da Abdan também salientou a necessidade da mina de Santa Quitéria sair do papel e ser mais uma fonte de combustivel. A mina de urânio e fosfato é uma parceria entre as Indústrias Nucleares do Brasil e a Galvani – Fosnor Fertilizantes Fosfatados do Norte-Nordeste S, mas que ainda passa por processo de licenciamento. A parceria visa explorar o urânio e o fosfato, encontrados de forma associada na jazida de Itataia, na cidade de Santa Quitéria.
No evento, o ex-presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, chamou a atenção para a central nuclear ucraniana de Zaporizhia. Durante a invasão da Rússia ao país, o comando das tropas invasoras chegou a entrar na central, que traz apreensão. Segundo Guimarães, caso aconteça algum tipo de incidente na usina, refletirá nos projetos em implantação e no movimento de descarbonização.
Ainda de acordo com ele, será uma grande tarefa caso a fonte consiga manter o atual percentual de participação na matriz, de cerca de 2%. Um aumento desse percentual dependerá da aceitação pública da energia nuclear. Com as novas adições planejadas e as boas perspectivas, o valor pode crescer subir para 5% ou 8%. Para o executivo, o Brasil não será como a França, que tem parte expressiva da sua matriz formada pela nuclear por uma decisão de segurança energética.
Para o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, discutir a entrada do capital privado na energia nuclear será um tema que deverá ser visitado pelo governo que assume a partir de 2023. Para ele, um dos indicados a atuar na equipe de transição do governo, os projetos nucleares prescindem de não serem interrompidos pela falta de investimentos, o que acaba impactando na visão do planejador. “temos que ver qual a melhor combinação para garantir que uma vez lançado o projeto ele não seja paralisado”, avisa.
Enumerando uma série de vantagens da fonte, Tolmasquim citou no painel alguns entraves que as usinas nucleares enfrentam, como o tempo de construção, que acaba se tornando crítico para o planejador; como inseri-las na base, lidando com as fontes intermitentes e o preço do megawatt/hora, que é bem superior ao das outras fontes.
Os SMRs também foram lembrados por ele como algo disruptivo, mas que ainda precisa ser mais estudado. Com essa nova tecnologia, o Brasil não partiria do zero, usando o conhecimento que adquiriu com a Central Nuclear de Angra.