O potencial brasileiro para produção de biogás, estimado em 120 milhões de m³ por dia, pode atender a 100% da meta brasileira no Acordo Global de Metano, evitando a liberação de 8 milhões de toneladas do gás na atmosfera. A projeção da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás) é de produzir 30 milhões de m³ de biogás por dia em 2030, o equivalente à redução de 2 milhões de toneladas de metano.
Esses objetivos e as melhores formas de atingi-los serão debatidos na 9ª edição do Fórum do Biogás, entre hoje e amanhã no espaço APAS, em São Paulo. O encontro é realizado anualmente para troca de informações e experiências sobre o mercado de biogás e biometano.
Neste ano, as discussões serão intensificadas pelas tendências de descarbonização abordadas recentemente na COP27, que contou com a presença da Associação. Haverá painéis sobre assuntos estratégicos e para o crescimento econômico sustentável do país, como a segurança energética, transição para uma economia de baixo carbono, gestão de resíduos, mercado de carbono, entre outros.
Segundo a gerente executiva da ABiogás, Tamar Roitman, o Brasil tem as maiores oportunidades de descarbonização com grande competitividade de setores chave da economia, em especial os setores agropecuário, industrial e de transportes. Em relação aos transportes pesados, por exemplo, o biometano poderia suprir 70% do consumo de diesel no país.
“Além de reduzir as emissões do setor de transportes, o biometano promove redução de custos, já que o seu preço não é vinculado ao dólar ou ao preço internacional do petróleo”, observa a executiva.
O governo brasileiro vem promovendo medidas de incentivo ao uso e à produção do biogás e do biometano, como o programa Metano Zero, a inclusão do biometano no Regime Especial de Incentivo ao Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi) e as diretrizes nacionais para fomento à produção e ao uso do biometano. Essas iniciativas também serão discutidas no Fórum, com foco no que já se conseguiu até o momento e os próximos passos.
Caso o potencial de produção de biogás seja considerado para a geração elétrica, a potência instalada poderia alcançar 17 GW, o que equivale a 34,5% de toda a geração nacional. A atenção a esse biocombustível para produção de energia é positiva porque se trata de uma fonte renovável e sem intermitência, podendo ser acionada sempre que necessário.
“É a união de atributos que o sistema elétrico brasileiro precisa para diversificar a matriz sem depender de termelétricas poluentes para firmar o crescimento das fontes eólica e solar”, destaca Roitman.
Pré-sal caipira
De acordo com a entidade, o potencial de biogás está espalhado por todo o Brasil, sendo a maior concentração nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. O bicombustível pode ser obtido a partir de resíduos sólidos urbanos, efluentes do tratamento de esgoto sanitário, e resíduos da agroindústria e pecuária, o que facilita produção descentralizada em todos os estados e a democratização do biogás para os diversos usos possíveis.
O setor sucroenergético é responsável pela maior parte do potencial brasileiro, com 57,8 milhões de m³/dia de biogás. O segundo lugar é ocupado pela cadeia de proteína animal, que poderia produzir 38,9 milhões de m³/dia, enquanto em terceiro está a produção agrícola, com potencial de 18,2 milhões de m³/dia.
Saneamento, que inclui os resíduos sólidos urbanos e o esgoto sanitário responde por apenas 5% do potencial, porém é o segmento com maior destaque em termos de produção, respondendo por mais de 70% do volume de biogás produzido atualmente. Em número de plantas, o destaque fica para o setor de proteína animal, que responde por mais de 80% das usinas em operação.