A segunda edição do “Inventário de emissões atmosféricas em usinas termelétricas”, estudo publicado nesta quinta-feira, 15 de dezembro, pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente mostra que em 2021 houve um aumento de 75% das emissões de gases de efeito estufa em relação ao total emitido pelo parque termelétrico fóssil do Sistema Interligado Nacional em 2020. Segundo o estudo, caso as termelétricas sigam como opção para a expansão da geração de energia no país, o aumento de GEE será constante.

Com esse crescimento, a participação de fontes fósseis para geração de eletricidade no Brasil passou de 15%, em 2020, para 20%, em 2021. As 82 usinas movidas a combustíveis fósseis listadas neste estudo emitiram 55,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). De acordo com Raissa Gomes, uma das autoras do estudo, o crescimento foi alto devido à crise hídrica de 2021, que prejudicou a geração hidrelétrica e fez o setor elétrico acionar ainda mais as termelétricas emissoras. Ela conta que em 2020, as emissões foram menores: de 31,7 milhões de toneladas de CO2e.

O atual estudo contempla UTEs de serviço público e autoprodutoras que disponibilizaram energia ao SIN nos anos de 2020 e 2021, excluindo as plantas movidas a combustíveis renováveis e as unidades para as quais não foi possível identificar os combustíveis empregados. Ao todo, foram gerados 95,8 TWh de eletricidade, dos quais 68,9 TWh foram produzidos por 44 plantas movidas a gás natural, o que corresponde a 72% do total.

Segundo em participação, o carvão mineral, com oito plantas, foi responsável pela geração de 16,5 TWh, o que representa 17% da produção de eletricidade fóssil. Já o óleo combustível, com 18 usinas e o óleo diesel, com onze, derivados de petróleo, tiveram participação de 9% e 2%, respectivamente. Uma única planta gerou eletricidade utilizando o gás de refinaria como combustível principal, tendo participação muito baixa em relação ao total inventariado. Segundo Helen Sousa, também autora do estudo, o fator de capacidade era de aproximadamente 31% em 2020 e agora a média foi para cerca de 50%, o que significa em modo geral que as usinas passaram a ser ligadas por mais tempo.

Sobre os estados mais geradores, o Rio de Janeiro se destaca por ter produzido sozinho 28% de toda geração termelétrica fóssil ligada ao SIN, tendo gerado 27,0 TWh – o dobro do produzido por esse estado em 2020. Os cinco municípios com as maiores emissões, tendo somado juntos 41% de toda geração, foram: Macaé (RJ), Santo Antônio dos Lopes (MA), Manaus (AM), São Gonçalo do Amarante (CE) e Duque de Caxias (RJ). Ao todo, a geração termelétrica fóssil injetada no SIN foi produzida em 49 municípios.

O Iema ressaltou ainda que elaborar o inventário de emissões de fontes poluidoras no Brasil continua um enorme desafio. O acesso público a informações ambientais confiáveis não é facilitado pela maior parte das empresas e, além disso, o poder público raramente tem as condições técnicas, instrumentais e políticas para fazê-lo.

Termelétricas mais emissoras

Apenas 13 usinas emitiram 51% dos GEEs, oito movidas a carvão mineral como combustível principal e outras cinco a gás natural. As mais emissoras, são: Porto do Pecém I (CE), Candiota III (RS), Termorio (RJ), Termomacaé (RJ), Norte Fluminense (RJ), Jorge Lacerda III (SC), Pampa Sul (RS), Porto do Pecém II (CE), Mauá 3 (AM), Porto do Itaqui (MA), Porto de Sergipe I (SE), Jorge Lacerda I e II (SC), Jorge Lacerda IV (SC).

Quase a totalidade do CO2e (90%) foi proveniente de somente de 41 plantas, o que representa metade das usinas fósseis do SIN. A usina Porto do Pecém I (CE) despontou no ranking como a que mais emitiu no país em 2021. Movida a carvão mineral, combustível altamente emissor de GEE, ela dobrou sua geração em relação a 2020. Porém, é responsável por apenas 4% da energia elétrica total produzida por termelétricas, sendo apenas a sexta usina a mais gerar.

As dez usinas termelétricas brasileiras com as maiores taxas de emissão de GEE por cada GWh produzido são: Candiota III (RS), Pampa Sul (RS), Jorge Lacerda I e II (SC), Jorge Lacerda III (SC), Porto do Pecém I (CE), Jorge Lacerda IV (SC), Porto do Itaqui (MA), Porto do Pecém II (CE), Arembepe (BA) e Global II (BA). Vale ressaltar que apenas as duas últimas são movidas a óleo combustível e, não, a carvão como as demais.

Empresas geradoras de energia

Apesar de haver uma quantidade relativamente grande de empresas geradoras, com 51 plantas, quase 70% de toda geração fóssil foi de responsabilidade de apenas seis empresas: Petrobras (30,3%), Eneva (12,8%), Eletrobras (9,6%), EDF Norte Fluminense (6,8%), Fram Capital Energy (5,0%) e EDP do Brasil (4%). Isso significa que as grandes usinas geradoras estão concentradas em poucas companhias.

Sobre as emissões de GEE de 2021, quatro empresas responderam por 61% delas: Petrobras (26,1%), Eneva (13,9%), Eletrobras (11,8%) e Fram Capital Energy (8,8%). Na sequência, para completar a lista das dez maiores emissoras, aparecem EDP (6,3%), Électricité de France – EDF (4,5%), Engie (3,2%), Global (2,6%), Vulcan (2,2%) e Neoenergia (2,2%). Somente essas dez empresas foram responsáveis por 82% das emissões, o que equivale a 45,4 milhões de toneladas de gases de efeito estufa emitidas.

No entanto, a empresa que mais emitiu gases de efeito estufa por eletricidade gerada em 2021 foi a Engie com 1.140 tCO2e/GWh – quase o dobro da média observada no SIN (582 tCO2e/GWh). Isso se deve ao fato da Engie, apesar de ter vendido as usinas a carvão mineral do Complexo Jorge Lacerda à Fram Capital Energy, ter permanecido detentora de 100% do controle acionário da Pampa Sul, termelétrica a carvão com a segunda maior taxa de emissão inventariada.

A lista das empresas com as maiores taxas de emissão, da maior para a menor, é: Engie Brasil Energia S.A., Fram Capital Energy, EDP Energias do Brasil S.A., Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobras, Global Participações em Energia S.A., JRLC Participações Ltda., WVMC Participações Ltda., Aruana Energia S.A.,CPFL Energia, e OZ&M Incorporação Participação Ltda.

O estudo também identificou que  a Petrobras, mesmo sendo a maior emissora em termos absolutos de 2021, apresentou uma taxa de emissão (468 tCO2e/GWh), ou seja, 20% menor que a média das termelétricas a combustíveis fósseis do SIN. Isso porque grande parte das usinas por ela controladas empregam tecnologias que alcançam maiores eficiências energéticas.