O valor total dos créditos de carbono produzidos e vendidos no mercado visando metas de descarbonização pode atingir US$ 1 trilhão em 2037. A conclusão é de um relatório da BloombergNEF. Atualmente, este ambiente, conhecido como mercado voluntário de carbono não está estruturado e precisa de definições mais rigorosas de qualidade e uma maior ênfase na remoção do CO2 que pode aumentar a confiança do mercado, aumentar os preços e impulsionar a demanda.

No ano passado, relata a consultoria, esse mercado foi afetado por críticas e não aumentou. As empresas compraram 155 milhões de compensações, uma queda de 4% em relação a 2021, devido a temores de risco à reputação na compra de créditos de baixa qualidade.

Por outro lado, a oferta destes créditos cresceu apenas 2%, com 255 milhões de compensações criadas por projetos em todo o mundo. A oferta de créditos de “desmatamento evitado” diminuiu em um terço de 2021 a 2022. Segundo a BNEF, algumas empresas foram acusadas de ‘greenwashing‘ após comprarem compensações de projetos que tiveram um impacto ambiental questionável.

Segundo o autor do relatório, Kyle Harrison, chefe de pesquisa de sustentabilidade da BNEF, o mercado de compensações de hoje está em risco, pois os compradores precisam de transparência, definições claras em torno da qualidade ou os próximos anos apresentarão performance parecida com 2022.  Em seu relatório, a BNEF modelou a oferta, a demanda e os preços de compensações de carbono em três cenários potenciais. Sob cada um, a demanda aumentaria, mas com margens substancialmente diferentes. Com isso, os preços também são diferentes.

No primeiro, chamado de voluntary market scenario (cenário de mercado voluntário, em português), as empresas poderiam comprar qualquer tipo de compensação de carbono para atingir suas metas de zero líquido e precisariam de 5,4 bilhões de compensações anuais em 2050. O mercado permaneceria constantemente com excesso de oferta e 8 bilhões de compensações seriam criadas anualmente em 2050, principalmente por evitar o desmatamento. Os preços aumentariam para apenas US$ 12/ton em 2030 e US$35/ton em 2050, permitindo que as empresas recorram à compensações baratas de valor ambiental duvidoso para alcançar suas metas de descarbonização. Neste cenário, o mercado seria avaliado em US$ 15 bilhões anuais em 2030.

No removal scenario (cenário de remoção, em português), o saldo entre a oferta e demanda seria muito mais apertado, pois seriam consideradas apenas as compensações de projetos que realmente removeram carbono da atmosfera. Os créditos relacionados ao desmatamento evitado ou a projetos de energia limpa seriam desconsiderados. Neste cenário, haveria uma breve escassez de oferta no mercado a partir de 2037, pois a tecnologia de remoção de carbono, captura direta do ar, continua sendo cara para ser construída em grande escala. Os preços de compensação de carbono poderiam disparar acima de US$ 250/ton, e o mercado anual chegaria a quase US$ 1 trilhão.

Contudo, avalia a BNEF, um mercado de compensação que permite apenas a remoção de carbono poderia direcionar o investimento para tecnologias como DAC, ajudando a reduzir custos. Mas preços altos também poderiam obrigar algumas empresas a investir em outras estratégias de descarbonização com maior impacto. No entanto, há uma preocupação de que essas compensações tão caras nos anos seguintes possam fazer com que a maioria das empresas opte por sair deste mercado ou levá-las a abandonar completamente suas metas de zero líquido por conta do custo.

Um terceiro cenário na perspectiva da BNEF, o bifurcation scenario (cenário de bifurcação, em português), assume que este debate divide o mercado em dois. Um deles é um mercado menor e menos líquido para compensações de alta qualidade, incluindo remoção baseada em tecnologia e soluções na natureza na África, América do Norte e Oceania. A demanda por compensações de alta qualidade atinge apenas 433 milhões em 2030 e 1,3 bilhão de compensações em 2050, mas os compradores se deparam com um pool menor de oferta em relação a outros cenários do relatório, de 1,4 e 3,2 bilhões nos mesmos anos. Os preços alcançam a máxima de US$ 38/ton em 2039 antes de cair para US$ 32/ton em 2050.

Neste último cenário existe também um mercado maior para todas as compensações de baixa qualidade restantes, incluindo geração de energia e soluções baseadas na natureza na Ásia e América Latina. Os preços são mais altos em princípio devido à maior demanda de US$ 12/tonelada em 2025, mas só chegarão a US$ 22/tonelada em 2050.

Na análise da BNEF, o resultado do cenário de bifurcação pode mudar dependendo do que se compreende em alta e baixa qualidade. Bolsas, produtos futuros, fornecedores de tecnologia e iniciativas privadas como o Integrity Council on Voluntary Carbon Markets estão trabalhando para padronizar e simplificar as compras de compensação, criando padrões de qualidade claros. Se esses esforços forem bem-sucedidos, as definições de normas e qualidade podem aumentar a liquidez no mercado e ajudar as empresas e os investidores a diferenciar suas estratégias de compensação. Porém, diz, com tantos grupos lidando com esta questão de forma independente, os compradores podem ficar cada vez mais confusos.

Para a consultoria, criar normas padronizadas é o mais importante para a estratégia do mercado de compensação de carbono. Resolver essas questões pode aumentar o mercado em várias ordens de magnitude, mas há o risco de muitos desses esforços concorrentes acontecerem ao mesmo tempo, semelhante ao realizado em áreas adjacentes, como em relatórios ESG e finanças sustentáveis. E que, se a abordagem isolada continuar os esforços recuarão.