O processo de transição energética exige que o Brasil retome uma característica do passado no país quando do desenvolvimento das hidrelétricas, o planejamento de longo prazo. A avaliação é do diretor de geração da Eletrobras, Pedro Jatobá. Para ele, o Ministério de Minas e Energia precisa ter um papel de liderança nessas discussões, mas que precisam contar com a participação de toda a sociedade.
Segundo o executivo, que participou do painel de abertura do Energyear 2023, evento realizado em São Paulo, o país possui grande oportunidade com a expansão das fontes renováveis. Mas que, atualmente há uma série de distorções de mercado que foram criadas na forma de incentivos que passaram do tempo por já terem cumprido seu papel no setor. Esses incentivos são o resultado de alterações legais pontuais feitas nas últimas duas décadas e que por um período de tempo ajudaram a desenvolver um mercado.
Jatobá lembrou que nesse processo de transição o Brasil é o maior expoente da América Latina não só pela disponibilidade de recursos, mas por ocupar cerca de metade do território continental.
“Falamos de uma commodity que é mais sofisticada do que as commodities do início do milênio. A amônia e o hidrogênio verde exigem mecanismos mais sofisticados para a atração de investimentos, para que os aportes de longo prazo ocorram. Recursos naturais nós temos como poucos, mas precisamos de organização e políticas certas para podermos aproveitar a oportunidade se não passará novamente na nossa frente e não aproveitaremos”, comentou ele
Nesse sentido, disse ele, o planejamento de longo prazo, como o Brasil desenvolveu quando viu o avanço das UHEs é importante. E nesse processo de discussão a sociedade e as associações têm um papel relevante. Ele citou as consultas públicas como uma forma de participação mas disse que ainda falta capacidade de análise do conjunto como um todo dos pontos que são colocados no planejamento. “Não podemos abrir mão da cultura de planejar de longo prazo, com os agentes temos as melhores alternativas”, definiu.
A importância desse planejamento ocorre em um momento no qual O Brasil vive a chamada “tempestade perfeita” contra o desenvolvimento de projetos solares no momento. Isso se deve ao nível de preços de equipamentos que inflaciona o capex dos projetos novos mais o atual nível do PLD que está em R$ 69,04/MWh e que vem influenciando o valor dos PPAs de longo prazo.
Contudo, a perspectiva ainda se mostra positiva no país por conta da disponibilidade de recursos e do mercado de consumo. Na avaliação de Paula Ferraneto, Country Manager Brasil da EDP Renováveis, esse momento é de desafio para os empreendedores que enfrentam ainda a questão da disponibilidade da conexão dos projetos depois da chamada ‘corrida do ouro’, proporcionada pela busca do desconto fio para as fontes renováveis.
Pierre-Emmanuel Moussafir, Managing Director Brazil da Total Eren, reforçou essa questão de que o momento pede mais planejamento para a próxima década. Ele citou essa questão da falta de conexão como um ponto nevrálgico para o desenvolvimento de projetos.
Ainda nesse sentido, Fernando Cremades, líder de Renováveis Latam-Brasil da Galp, lembra que a transmissão precisa ser antecipada. Outro ponto a se desenvolver por aqui é a questão do consumo de energia que precisa ser fomentado. E sobre a questão da tempestade perfeita, disse que é necessário ver como é que os preços que formam o capex se comportarão nos próximos meses depois dos aumentos recentes com a pandemia seguido de guerra na Ucrânia.
“Uma outra questão é o financiamento dos projetos e os juros altos, a realidade no brasil é que há poucas formas de viabilizar projetos, a situação está complicada”, definiu.
Fábio Murilo, líder de desenvolvimento da Cobra, lembrou que os custos de arrendamento podem variar bastante entre regiões no país a depender da ‘concorrência’ pela terra. Por exemplo, os valores no Centro-Oeste estão muito mais elevados porque naquela região a cultura da soja é bastante forte, com isso os preços no Nordeste são mais baixos. Já a conexão ainda coloca um desafio grande pelos pontos apresentados. Contudo, a abertura do mercado livre poderá facilitar a retomada de PPAs em níveis mais interessantes com a chegada de consumidores de menor porte.