A cadeia de desenvolvimento do hidrogênio verde poderá proporcionar uma alta de aproximadamente R$ 62 bilhões no PIB gaúcho e levar a criação de 41 mil novos empregos no estado até 2040, segundo um relatório realizado pela consultoria McKinsey para o governo do Rio Grande do Sul. A autarquia estadual lançou nesse mês um plano com estratégias a serem adotadas para a inserção do novo combustível do futuro na região.
Ao longo de quatro meses, a consultora norte americana levantou dados, entrevistou executivos e especialistas de mercado, mapeou os aspectos distintivos do estado, as demandas interna e externa, os impactos econômicos e os benefícios resultantes do desenvolvimento da cadeia, como a redução de impactos ambientais. Após essas análises, a McKinsey estruturou as diretrizes para o avanço do H2V na região.
No setor produtivo local, o vetor energético poderá ser usado como matéria-prima em refinarias, nos transportes rodoviário, ferroviário e marítimo, em carros de passageiros, na produção de fertilizantes e no aquecimento industrial, dentre outras aplicações. Algumas dessas podem atuar como chave para o desenvolvimento da cadeia no estado, como o uso em refinarias, o aquecimento industrial e o transporte rodoviário, com foco em caminhões.
“Realizamos um estudo técnico robusto e agora o estado passa a ter condições de estabelecer políticas públicas que vão estimular ainda mais o setor, como financiar a substituição de transporte coletivo por veículos movidos a hidrogênio, entre outras frentes”, assinalou o governador Eduardo Leite.
Conforme o estudo da McKinsey, a demanda pelo insumo poderá chegar a 2,8 milhões de toneladas em 2040. Por enquanto o estado possui memorandos de entendimento junto ao fundo de investimento Sumitomo Corp Americas e as empresas Neoenergia, Enerfín, White Martins e Ocean Winds, que firmaram parcerias com o para realizar estudos ou implementar projetos relacionados ao combustível. Boa parte dessas iniciativas também considera a integração com investimentos em eólica offshore e alguns até na chamada nearshore, como em lagoas.
Governador do RS lançou mapeamento estratégico com infraestrutura e potencial do estado para cadeia do H2V (Divulgação)
O relatório também apontou dez localidades do Rio Grande do Sul com condições mais favoráveis ao desenvolvimento dessa atividade: Cambará do Sul/Arroio do Sal, Dom Pedrito, Giruá, Mostardas, Porto Alegre, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, São Francisco de Assis, Uruguaiana e Vila Nova do Sul.
A secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann, reforçou os diferenciais competitivos do RS, citando os mais de 100 GW entre energia eólica e solar mapeadas, além de locais propícios como o Porto de Rio Grande, que tem infraestrutura e logística apropriadas para esse mercado, além de outras localidades que também apresentam essa aptidão.
Por sua vez o secretário da Casa Civil, Artur Lemos Júnior, comentou a possibilidade de o estado se tornar líder na produção de H2V no Brasil, afirmando que o estudo contratado demonstra esse potencial. “O diferencial é que temos mercado interno para suportar o início da produção para depois buscarmos o mercado externo”, destacou.
Atualmente 82% da matriz elétrica gaúcha é renovável, com a estrutura portuária propícia para facilitar o escoamento da produção devido à posição estratégica e privilegiada e à sinergia com diversas cadeias produtivas. A energia eólica chegou a 19%de representatividade em 2020 e possui ainda 10 GW licenciados e capacidade total de 103 GW em terra e 108 GW offshore. Aliás, também foi assinado recentemente um acordo de cooperação entre o governo e a prefeitura de Rio Grande, para a efetivação de ações que priorizem a transição energética e o plano de descarbonização.
Porto de Rio Grande deverá ser o principal ponto de escoamento do hidrogênio gaúcho para o exterior (Divulgação)
Mais informação e competitividade
A produção de hidrogênio verde no Rio Grande do Sul está entre os focos de atuação do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do RS (Sindienergia-RS). Na avaliação do presidente do sindicato, Guilherme Sari, o estudo é um passo importante dado pelo governo, de forma a divulgar as oportunidades para o futuro. “Entendemos ser fundamental termos um conhecimento mais aprofundado de todo o processo. Há muitos investidores e um mercado a ser trabalhado com foco no uso interno e no Mercosul”, destacou.
Já sobre uma possível menor competitividade logística em relação ao Nordeste como futuro exportador do insumo, já que a região fica mais próxima a Europa, um dos principais mercados que irão demandar o H2V, Sari aponta que essa questão dependerá de outros fatores e que o estado possui um mercado local com demanda e a possibilidade de uso do H2V no agronegócio, setor em que o estado e o Centro-Oeste são muito fortes, e que podem demandar essa necessidade pelo insumo. “Além disso tem todo um mercado de países vizinhos como potencial importadores dessa demanda, com o Mercosul podendo ser sim uma alavanca para esta produção”, complementa.
De acordo com o sócio co-fundador da consultoria Trust & Co, Juliano Pereira, o fato de o estado ter tomado a frente de investir no estudo é de grande importância para diminuir as incertezas e os riscos provenientes de um mercado novo. E se por um lado é complicado atender o mercado europeu de forma competitiva, por conta de questões geográficas e de infraestrutura, por outro, o conceito de autossuficiência, em termos de demanda do estado para atender a produção local, é um conceito promissor. “Pode permitir que tenhamos um fator de diferenciação e colocar essa indústria de pé”, completa.
Pereira também ressalta que tradicionalmente a estruturação financeira dos grandes projetos de geração renovável necessitam de uma entidade que garanta a demanda da energia no longo prazo. Com base na credibilidade dessa instituição é que os empreendedores assumem os riscos do processo de licenciamento ambiental, de engenharia, de execução, entre muitos outros, em troca de um retorno esperado, suportados por instituições financeiras. “No caso específico do Hidrogênio Verde não consigo ver ainda de forma clara qual vai ser o garantidor dessa demanda”, conclui,