Discussões recentes têm focado no trilema da energia e a necessidade de encontrar o equilíbrio certo entre acessibilidade, confiabilidade e sustentabilidade. Contudo, só será possível resolver essa tarefa tripla por meio de esforços conjuntos entre os setores privado e público para superar os desafios. Diante deste cenário, a Siemens Energy recentemente publicou o índice global de prontidão para a transição energética, onde especialistas em energia em todo o mundo parecem estar cientes do enorme desafio pela frente.
Segundo a Siemens Energy, a conclusão é que será possível resolver de fato o trilema mas só se a ação for rápida e em conjunto, com base em uma mistura de tecnologias prontamente disponíveis e inovações futuras. De acordo com o vice-presidente sênior para o hub América Latina, André Clark, não há desculpas para esperar mais. É necessário um esforço global imediato, vigoroso e coordenado para evitar as piores consequências das mudanças climáticas – em todas as regiões do mundo, e em todos os setores.
O índice da Siemens Energy descreve a prontidão percebida pelo stakeholders (avanço da transição x maturidade do sistema) em uma escala de 0 a 100% da transição energética rumo a emissões zero na Ásia-Pacífico, Europa, Oriente Médio, América do Norte e América Latina.
O relatório mostrou que a América Latina tem o menor progresso percebido nas prioridades energéticas em comparação com as outras regiões, com 22% de prontidão. Como em outros lugares, a expansão das energias renováveis é percebida como a área mais madura. Por outro lado, power-to-X e captura e armazenamento de carbono mostram o menor progresso. E isso pode ser devido aos abundantes recursos de energia renovável da região (principalmente hídrica e cada vez mais eólica e solar), com possível impacto na adoção de tecnologias voltadas para reduzir as emissões do carvão, que são de aplicabilidade limitada na América Latina, uma vez que o carvão responde por apenas 6% da geração de energia da região 2020. A ambição da América Latina deve ser alcançar reduções de emissões no médio e longo prazo, garantindo simultaneamente o crescimento da economia e do bem estar social.
De acordo com o executivo, na América Latina o tamanho do desafio só não é maior que a expectativa de ganhos por meio de sua consolidação enquanto potência verde. Apesar de a região apresentar o menor progresso percebido nas prioridades energéticas na comparação com as outras regiões, as perspectivas são positivas, caso seja adotada uma política de desenvolvimento industrial verde, inovadora e voltada para o planeta. E ainda, segundo Clark, para exercer sua influência no compromisso net zero global, as lideranças da América Latina precisam mudar como pensam seu planejamento energético e visar uma estratégia que ultrapasse a demanda local de energia com vistas aos mercados externos.
André Clark destaca que, para além da abundância em energia renovável, trata-se de uma região destacada por ser um conjunto de democracias, o que se transmuta em mais confiança e menos chances de intempéries que prejudiquem o fluxo de exportação de energia e soluções. Nesse sentido, iniciativas e políticas voltadas para o hidrogênio verde, Power-to-X (combustíveis sintéticos e derivados verdes) e captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS), devem ocupar espaço significativo no avanço das estratégias de transição energética de empresas e governos da região, que já se movimentam no sentido de buscar parcerias e alianças transnacionais
Já a América do Norte apareceu com 34% de prontidão e conseguiu manter o nível de consumo de energia primária constante ao longo da última década, alcançando crescimento econômico, mantendo um fornecimento constante de energia. No entanto, há espaço para mais melhorias: em 2021, 20% da geração de energia na América do Norte ainda era de carvão, em comparação com apenas 13% de fontes renováveis (eólica e solar).
A Europa apresenta um quadro variado em termos de progresso nas prioridades energéticas, com 33% de prontidão. No topo da lista está a geração de energia renovável, em que a taxa de implantação é de quase 66%. No Oriente Médio e na África, o progresso é percebido como acontecendo, mas a região está em um estágio muito inicial em relação às metas climáticas para 2030.
Por outro lado, na região Ásia-Pacífico, a percepção de progresso nas prioridades energéticas é relativamente lenta, com 25% de prontidão. O maior progresso é percebido como tendo ocorrido com as energias renováveis, com mais de 80% dos participantes dizendo que a aceleração das energias renováveis está pelo menos na fase de planejamento. Segundo André, na região a percepção de progresso nas prioridades energéticas é relativamente lenta entre os entrevistados para o estudo, mas há exemplos de avanços políticos e estratégicos na direção da descarbonização, como o programa Green Transformation (GX) do Japão, o objetivo da Coreia do Sul em aumentar a participação de energia nuclear e renovável em seu mix de energia, ou as metas ambiciosas de energia limpa da China e da Índia.