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A inauguração no último dia 23 de março do primeiro complexo de geração associada renovável do país, não deve ficar restrita apenas ao empreendimento da Neoenergia de 0,6 GW. Levantamento da Agência Nacional de Energia Elétrica realizado a pedido da Agência CanalEnergia indica que a modalidade começa a tomar força no país, com projetos envolvendo as fontes eólica, solar e hídrica dominando. A geração associadas se caracteriza quando duas ou mais usinas produzem energia com diferentes tecnologias, outorgas e medições, compartilhando fisicamente e contratualmente a infraestrutura de escoamento.
Durante a inauguração, o CEO da Neoenergia, Eduardo Capelastegui, revelou a jornalistas que a intenção é que o complexo Oitis, no Piauí, seja o próximo da empresa na categoria associado. Segundo ele, o complexo lançado na Paraíba tem o DNA da empresa por ser um projeto integrado. De acordo com Laura Porto, diretora-executiva de Renováveis da empresa, nesse tipo de complexo se usa menos capacidade de transmissão para escoar o conjunto dos parques, otimizando a sua estrutura. Ela conta que também há planos de parques associados no Rio Grande do Norte, onde fica o primeiro parque da companhia no país.
UFV Luzia, de 149,2 MWp, faz parte do empreendimento junto com eólica (Foto: Pedro Aurélio Teixeira)
A Auren tem o projeto piloto que reúne a eólica Ventos do Piauí 1 (206 MW) e a fotovoltaica Sol do Piauí (68 MW). Inicialmente, o pedido de autorização era para um empreendimento híbrido, mas que acabou retificando para um de outorgas associadas. Ventos do Piauí já opera desde 2017 e tem a energia no mercado livre. Sol do Piauí está em fase de construção, terá a energia vendida no mercado livre e deve iniciar a operação no último trimestre desse ano. Outro projeto piloto é Complexo Eólico Santo Inácio com a UFV Flor de Mandacaru, da Aliança Energia, joint venture entre Cemig e Vale.
Segundo a Aneel, no âmbito da Pesquisa & Desenvolvimento, há o projeto da hidrelétrica de Sobradinho com uma usina solar, já instalado desde 2019 com previsão de nova fase e o da UHE Porto Primavera 1 também com uma usina solar, instalado em 2014. Outras hidrelétricas, como a de Aimorés, também da Aliança, a de Itumbiara, de Furnas, e a PCH Santa Marta, da Cemig, possuem iniciativas similares.
Lula com Galán,(ao centro) e Silveira, no lançamento do compexo de geração associada na Paráiba (Divulgação Neoenergia)
Para o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Luiz Carlos Ciocchi, a chegada de empreendimentos associados é benéfica para o operação, por compensarem a intermitência ou complementaridade das usinas, além de usarem a mesma infraestrutura de transmissão. “é um caminho muito interessante, acho que isso é uma tendência bastante forte”, explica. Ele dá como exemplo a própria geração na região Nordeste, onde venta mais durante a noite, ser complementando com a produção solar ao longo do dia.
Presente à cerimônia, o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, ressaltou o pioneirismo do complexo renovável Neoenergia, o primeiro a ser aprovado pelo órgão regulador. Segundo Feitosa, o aval veio antes mesmo da vigência da norma, em função do seu potencial no estado e da sinergia entre as fontes.
Ignácio Galán, CEO da Iberdola, que, controla a Neoenergia, destacou a inserção das renováveis no Brasil iniciada no primeiro mandato do presidente Lula, assim como o Programa Luz para Todos, que levou energia para mais de 16 milhões de brasileiros, em que as distribuidoras do grupo no Brasil tiveram ativa participação. Após o êxito da inciativa na Bahia, a Neoenergia atualmente treina 200 mulheres no Distrito Federal para serem eletricistas. Com planos de investir R$ 30 bilhões até 2025, o executivo reforça a aposta do espanhola no país. ‘Estamos mais do que nunca comprometidos com o país”, aponta.
Além do investimento na região, o esquema de arrendamento das terras também propicia o aumento da renda nas cidades que abrigam os empreendimentos renováveis. Um dos arrendatários do complexo da Paraíba associada é Luís Cardoso, mais conhecido como seu ‘Piúga’. Com 77 anos, ele lembra que antes de ter as terras selecionadas para a usina, apenas vivia do plantio do feijão e do algodão. A geração de energia nos seus 140 hectares tem permitido rendimentos que variam em torno de R$ 3 mil. “Eu nunca tinha ouvido falar em vender vento”, relembra se divertindo.
Seu Piúga: vida seria mais difícil sem arrendamento de terras para usina
Por conta da chegada do parque, seu Piúga se mudou para a cidade, de onde a família não quer sair mais. Ele ainda planta milho e feijão na parte não usada do terreno, mas acredita em uma vida bem mais difícil caso a usina renovável não tivesse chegado à região “Seria mais sofrido porque teria só a minha aposentadoria”, revela. A movimentação por conta da obra na cidade surpreendeu o arrendatário, que viu a rotina da cidade ser mudada.
* O repórter viajou à Santa Luzia a convite da Neoenergia