O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) divulgou que o Rio Grande do Norte, Bahia e Ceará são os estados que potencialmente terão, no Brasil, o menor custo de produção de hidrogênio verde – o chamado “combustível do futuro”. Os dados fazem parte de um estudo que está em desenvolvimento no ISI-ER, em parceria com a agência alemã de cooperação internacional GIZ e a consultoria Niras.

Segundo o pesquisador do ISI-ER, Raniere Rodrigues, dependendo do modelo de negócio adotado, o custo de produção no país é estimado entre US$ 2 e 7 por quilo de hidrogênio (produção em grandes escalas), enquanto na Europa, em razão de fatores como a guerra entre Rússia e Ucrânia, o preço do gás natural e a alta demanda, o valor pode superar atualmente € 10, dependendo da aplicação e da região.

O executivo também destacou as vantagens de localização e custo nos estados nordestinos. “Os estados do Nordeste do Brasil aparecem como as regiões mais promissoras nesse contexto, por custo e disponibilidade de áreas, mas uma coisa que vai influenciar bastante vai ser a infraestrutura de energia disponível, e a localização do mercado consumidor, quem a gente vai atender. Isso vai ser estratégico”, disse.

Já o diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, Rodrigo Mello, explicou que a força do Nordeste como produtor de energias renováveis traz vantagens à região, entre outros pontos, justamente pela importância dessa energia no processo de produção do hidrogênio pela chamada eletrólise, um processo físico-químico que utiliza a energia de fontes renováveis como eólica e solar. “A produção de hidrogênio verde, necessariamente, é consequente do uso da rota da eletrólise, que é um processo que utiliza muita energia. E, para esse fim específico, essa energia deve ser renovável”, ressaltou Mello, afirmando que RN, Bahia e Ceará são os maiores produtores de energia eólica do país, com oferta abundante de matéria-prima, portanto, para atender a indústria do hidrogênio.

A perspectiva é que os custos das energias renováveis no Brasil, já em queda, continuem caindo e abram caminho para preços extremamente competitivos para o hidrogênio verde na região. “Mas quando nós pensamos que precisamos achatar o preço de um produto para que ele tenha competitividade, precisamos necessariamente ter evoluções tecnológicas, incrementar a escala de produção e ter um balanço onde todos os fatores que influenciam de forma positiva essa produção estejam em um grau adequado de superioridade aos fatores que dificultam essa produção”, pontua ainda o diretor do ISI-ER.

Raniere Rodrigues também apontou os fatores que influenciam a seleção de áreas para instalação de plantas de hidrogênio e a primeira visão de onde estariam esses possíveis locais, relacionando essa possibilidade com o custo de produção do insumo. “As expectativas em todos os estudos são de que esse hidrogênio poderia chegar a custar, em 2050, até US$ 0,50 por cada quilo, considerando aqui uma escala de produção grande, uma geração centralizada e um cenário em que o custo da energia continue caindo”, disse.

“Chegar a casa dos centavos depende de dois fatores principais: melhorar custos de investimentos em equipamentos destinados à eletrólise (processo químico utilizado em uma das rotas de produção de hidrogênio mais difundidas, em que a energia utilizada é eólica ou solar) e melhorar o preço da energia elétrica – o custo do MW precisa ficar mais barato. Os custos de investimentos em eólica e solar precisa reduzir”, acrescentou o pesquisador.

Segundo Rodrigues, a posição do Nordeste como região brasileira que mais produz energia eólica em terra e uma das maiores produtoras de energia solar, além do potencial gigantesco identificado para os próximos anos com a geração de energias renováveis no offshore (no mar), aliados à redução nos custos de produção de eólica e solar nos últimos anos, projetam não só a região, mas o Brasil entre os maiores fornecedores de energia para o mundo, no futuro.

Custos de produção de energia eólica e solar, observou o pesquisador, caíram em torno de 40% nos últimos 10 anos e a expectativa é que baixem em média mais 30% até 2050. “Se isso se concretizar de fato vamos chegar a 0,50 cents de dólar por quilo para o hidrogênio”, complementou, explicando que os valores associados ao hidrogênio “serão infinitamente influenciados pela potência da planta de hidrogênio, a quantidade de hidrogênio produzido, e, geograficamente, pelos custos de investimento em energia eólica e solar”.