O preço da eólica tem que subir. Foi assim que o CEO do Global Wind Energy Council (GWEC), Ben Backwell, definiu o momento da indústria global da fonte eólica. Em sua análise a situação em que há uma perspectiva de falta de equipamentos, demanda em alta, mas ao mesmo tempo empresas do setor operando no vermelho representa que o setor está sendo vítima do próprio sucesso em um processo chamado de ‘paradoxo bizarro’.
De acordo com o executivo, o nível de preços da fonte chegou em seu momento mais baixo ao mesmo tempo em que o preço das commodities que são usadas para a produção de aerogeradores, bem como na construção de parques vêm aumentando.
“Desde 2019 para cá o aço está o dobro do preço, o cobre e metais raros aumentaram em 4 vezes nesse período. A BNEF mostra que os preços em geral estão 19% mais altos do que no início da pandemia, e ainda há a questão logística que trouxe dificuldades para cumprir projetos já contratados”, disse o representante após a parte da manhã do Encontro de Negócios da ABEEólica, realizado em São Paulo.
Um dos pontos que levaram a esse momento é a questão dos termos de leilões de energia que foram realizados de longo prazo a valores baixos. Mas essa questão parece dar sinais de que está esgotada. Backwell lembrou de um leilão de contratação sem indexação dos contratos por 15 anos na Espanha. “Apareceu apenas 5% da demanda que se pretendia contratar”, apontou. “Ninguém entrará em um mercado com essas condições ainda mais quando temos uma inflação de 10% e outra, os preços no mercado spot estão mais altos”, acrescentou.
Segundo Backwell, terá que ocorrer alguma correção de preços. Além disso, outro caminho que pode ajudar na melhoria das condições financeiras do setor é o I-REC.
Mesmo com a dominância a China no mercado global onde 47% das novas instalações foram registradas, que também concentra grande parte da cadeia de fornecimento de partes, não é o motivo da queda de preços. Ele relatou que na Europa já não está mais se vendo o critério de menor preço nesse processo de transição energética justa.
O GWEC apresentou seu mais recente relatório sobre a indústria global no tradicional Encontro de Negócios da ABEEólica. No ano passado o mundo viu a adição de 77,6 GW em novas usinas, sendo 68,8 GW na modalidade onshore e mais 8,8 GW em offshore. No geral houve queda de 17,1% ante o ano anterior. Mas, ressaltou o executivo, os números de 2020 (95,3 GW) e de 2021 (93,6 GW) foram bastante influenciados pelo encerramento de políticas em países como China e Estados Unidos. Além da China que respondeu por 47% desse novo volume, Estados Unidos ficou com 13% e o Brasil por 6%.
Com isso, a capacidade global instalada alcançou 906 GW, um crescimento de 9% na potência.
Além dos números do ano passado, o GWEC apresentou as estimativas para os próximos anos com a perspectiva de crescimento médio anual de 15% até 2027. Desse volume o onshore poderá crescer em média 12% e o offshore 32% no período, ao ano, na média. Somando ao total 680 GW em apenas cinco anos em todo o mundo em novas usinas. A estimativa aponta a adição de mais de 110 GW ao ano no período chegando a até 157 GW em 2027.
Sendo assim, o mundo poderá alcançar 2 TW de capacidade eólica em apenas sete anos, ou seja, em 2030. E isso pode representar um gargalo porque a indústria não tem capacidade para entregar todo esse volume. A capacidade de produção de naceles em termos globais é de 98 GW por ano, mas lembrou que com o plano dos Estados Unidos e da Europa já há acordos sendo assinados para novas fábricas saírem do papel.
Para o GWEC é possível que em 2025 e 2026 haja falta de capacidade para atender a demanda nos Estados Unidos e Europa, tanto em onshore quanto em offshore. Por outro lado vê perspectivas de que a indústria brasileira ocupe um papel importante de exportadora para a região, mas para isso uma política industrial é fundamental, de olho na questão da cadeia de fornecimento para as fabricantes. “Acreditamos no Brasil e os próximos 10 anos serão importantes”, sinalizou ele.