Ainda que a ideia de controlar as emissões e o aumento da temperatura global em 1,5° C até 2050 para conter eventos extremos seja algo muito difícil de acontecer, sendo necessário a redução de 37 Gt de dióxido de carbono (CO2) por ano, conforme projeção da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), a pauta da descarbonização segue latente na agenda das empresas, consultorias e países. Entre as oportunidades do Brasil, a PSR apresentou nessa quinta-feira, 30 de março, algumas das certezas e incertezas tecnológicas que irão nortear um caminho mais ambientalmente amigável e em linha com o movimento de transição energética.

Para o diretor executivo da PSR, Rafael Kelman, entre as promessas estão a fusão nuclear e pequenos reatores que podem ser viabilizados daqui 20 anos, “fazendo nuclear como se faz carro”, além dos mercados ainda incipientes de captura de carbono e do hidrogênio verde, considerado por muitos o combustível do futuro, mesmo sendo atualmente três vezes mais caro do que o H2 comum.

“O H2 verde irá necessitar de subsídios para seu desenvolvimento por aqui e o grande desafio no Brasil está no desmatamento e em destravar um valor absurdo para exportação de produtos verdes, abrindo novas portas no exterior”, comentou o executivo durante o primeiro bloco do Workshop PSR, evento promovido em parceria com o Grupo CanalEnergia/Informa Markets.

Kelman também ressaltou que além de fazer o dever de casa, o país precisa fomentar a produção de artigos científicos, boas teses e ter pessoas preparadas representando o país nas discussões globais e a imposição de uma agenda que faça sentido ao país. Uma dessas frente refere-se ao mercado de créditos de carbono, ainda voluntário na maior parte do mundo e que volta a ser debatido a cada nova edição da Conferência das Partes (COP), organizada pela ONU.

“A Mackenzie prevê US$ 130 bilhões até 2030 mas é difícil prever como esse ambiente irá crescer, mas acho difícil que o mercado regulado de carbono aconteça no Brasil, por pressões inflacionárias e de custos”, pontua Kelman, ressaltando que as inciativas desse segmento passam no momento por uma crise de credibilidade global, com projetos que não entregam a redução de emissões pretendida e divulgada, como num caso recente da companhia aérea holandesa KLM.

Sobre o assunto, a analista de Descarbonização e ESG da PSR, Luana Gaspar, ressaltou que existe uma grande dificuldade de as corporações avaliarem as emissões de escopo 3, aquelas não necessariamente ligadas diretamente a empresas, mas em relações indiretas, com fornecedores e uso de combustíveis por exemplo, como no caso da indústria de óleo e gás que busca uma transição para a eletrificação.

“As companhias estão mais focadas nos dois primeiros escopos, de impactos diretos e na compra de energia”, salienta. Ela também comentou que a demanda pelo H2 verde deve crescer em até seis vezes quando chegar o cenário de transição energética, trazendo outras alternativas também como o hidrogênio biogênico, obtido a partir do etanol ou biometano, e antes o chamado Gas to Wire (CCS), aproveitando o gás associado do pré-sal para gerar energia elétrica e reinjetar o CO2 no solo.

Luana também citou em seu discurso o Biochar, resumido na possibilidade de remover carbono da atmosfera de uma forma mais segura do que a criação de novas florestas, estocando posteriormente esse carbono em construções com uma madeira especial que pode virar prédios, ao invés da utilização de cimento e aço, grandes e tradicionais emissores de poluentes.

Pensando nos cenários de referência para o futuro, a PSR defende o desenvolvimento de usinas reversíveis para formar um portfólio junto aos reservatórios, baterias e linhas de transmissão para acomodarem e assegurarem a integração entre as diferentes fontes renováveis complementares. Na matriz elétrica referencial do futuro, em 2050, as UHEs vão reduzir sua participação para 36% com 126 GW, seguida pela solar, com 109 GW incluindo GD e 32%, além das eólicas com 21%.

Já no cenário otimista de alta eletrificação, é previsto que 60% da frota em 2050 esteja aderente a esse quesito, contra 43% na análise referencial, aferindo também que 35% da demanda energética do setor industrial em 2050 será suprida por eletricidade. Em 2020 foi 21%. Já a venda de veículos elétricos deve atingir 70% do market share, puxando 12 GW médios de demanda.

Na eólica offshore, cuja capacidade instalada global é de 60 GW, o potencial de exploração identificado no Brasil corresponde a 700 GW, mas o país pode explorar os aerogeradores em terra, ainda que estudos comprovem que os fatores de capacidade no mar são maiores do que no onshore, assim como a possibilidade de escala e restrição de espaço no caso de outros países.

“Os custos de investimentos são elevados e a regulamentação ainda em desenvolvimento, além de questões associadas a demanda, como viabilização via leilões em um cenário de futuro sobreofertado, necessitando de outros drivers para essa fonte virar realidade no país”, comentou a gerente de Projetos e Consultora da PSR, Monique Riscado.

Outra oportunidade de descarbonização citada vem do biogás, que tem crescido ao longo dos últimos anos por conta da regulamentação do biometano e da GD impulsionando esse segmento, mas se encontrando ainda muito aquém do real potencial, que pode ser de 7,2 bilhões de m3 de produção do insumo por ano.

NetZero deve acontecer por mix de renováveis, transmissão, usinas reversíveis e ações pela demanda (PSR)

Por fim, o fundador e presidente da PSR, Mario Veiga, afirmou existir uma grande riqueza com o gás natural associado, o que ele chama de custo de oportunidade, caso o preço da molécula diminua e o consumo aumento, com o governo transferindo suas cotas aos participantes desse novo mercado. “É preciso um esforço para padronizar a parte de remuneração dos distribuidores, o que seria um grande apoio para a indústria, que pode contar com gás barato pois existem condições para isso”, conclui.