A digitalização das redes, com a medição inteligente, será um indutor importante para o engajamento do consumidor na transição energética. A ação deixará o consumidor mais empoderado e sabendo lidar com os recursos energéticos distribuídos, além de agregar resiliência às redes para adaptação frente as mudanças climáticas. Durante o Workshop PSR/CanalEnergia, realizado nesta quinta-feira, 30 de março, a diretora técnica Ângela Gomes ressaltou ainda que a digitalização muda a forma de operar e planejar o negócio de distribuição, tornando-a mais eficiente e com mais qualidade. Hoje ela é feita apenas uma vez por mês.
“A medição inteligente vai dizer o quanto ele [consumidor] consome a cada hora, a cada minuto. Passa a ter muito mais informação”, explica. Ainda de acordo com a diretora da consultoria, é preciso entender que ter a melhor tarifa e o melhores serviços não são garantias que o consumidor responderá a esse estímulo e é nesse cenário que a digitalização aparece. “Segue sendo um desafio entender quais são os produtos e serviços que o insiram na transição energética”.
Ela conta que a digitalização em alguns casos envolve altos investimentos e o investidor precisa de garantias sobre o retorno. A regra atual só possibilita o retorno na tarifa de cinco em cinco anos. Ainda segundo ela, o arcabouço regulatório ainda não está pronto para a remuneração adequada, porque os ativos são de vida curta e quando são reconhecidos na tarifa podem estar depreciados.
Outro ponto que a diretora da PSR destacou foi o processo de renovação nas concessões da distribuição, que irá atingir mais da metade dos consumidores nos próximos anos. Segundo ela, a previsão de investimentos de R$ 15 bilhões no setor nos próximos anos torna o tema essencial, já que a postergação desse capex poderia trazer impactos ao setor.
Há expectativa de mudanças nas condições contratuais, envolvendo flexibilidade na forma de remuneração. O tratamento destinado a distribuidoras como Light e Enel Rio também será um ponto a ser observado.
Ao analisar a abertura de mercado nos Estados Unidos, a avaliação é de viés positivo, com vantagens e riscos, mas o sucesso não deve ser medido pelo percentual de migração. Por lá, cerca de 50% da carga comercial e industrial migrou para outros fornecedores, ao passo que menos de 10% da carga residencial migraram. Como benefícios, aparecem o econômico, a energia certificada e a tarifação personalizada. Já entre os riscos estão o preço, o crédito e a dificuldade de expansão da oferta. “O resultado é positivo, mas precisa de ordenamento no processo de abertura”.
Para o pequeno consumidor, o papel das tarifas é fundamental. Quando muda essa tarifa, muda a remuneração da distribuidora. Segundo Ângela, o desafio é testar antes de aplicar na larga escala, o que a Agência Nacional de Energia Elétrica está fazendo com os sandboxes tarifários. Há sugestões para proteção de receita, inadimplência e novos serviços.