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Com uma perspectiva animadora para 2023 no Brasil, a fabricante de aerogeradores Vestas quer replicar na América Latina o desempenho obtido no Brasil nos últimos anos. A Vestas já implantou 5 GW em território verde e amarelo. A Argentina aparece com destaque, mas Chile, Colômbia, Peru e México estão no radar da companhia. De acordo com o vice-presidente de Procurement LatAm da Vestas, Rodrigo Ugarte, o país de Lionel Messi tem uma condição de vento diferenciada, além de um incentivo regulatório governamental. “É o mercado que tem despontado logo em seguida do Brasil como o mais importante nesse momento na América Latina”, explica.
Por fazer parte do Mercosul, Ugarte vê chance de integração da cadeia de valor entre os países. Para ele, a Argentina poderia fornecer alguns poucos componentes e serviços para o Brasil e vice-versa. “O Brasil criou uma plataforma de produção de naceles, torres e pás que poderia tranquilamente participar de forma mais ativa no mercado argentino”, comenta. Com o credenciamento de máquinas e soluções nos dois países seria criado uma espécie de conteúdo ‘binacional’, otimizando a cadeia da região.
A decisão de onde virão os aerogeradores para a região da América Latina é tomada caso a caso. A fábrica da Vestas no Brasil tem grande chance de produzir as turbinas para as eólicas da Argentina. Mas para que isso se concretize, a integração entre governos e bancos dos dois países se faz necessária. Há uma condição de divisas na Argentina considerada desafiadora. “Existe um potencial muito grande para que o engajamento entre governos e bancos dos dois países possa gerar condições macroeconômicas mais favoráveis para que o Brasil vire um grande exportador de tecnologia para Argentina”, aponta.
Mas apesar do bom cenário de investimentos futuros no Brasil e países vizinhos, a fonte eólica vive um paradoxo. A alta nos custos nos últimos anos encareceu os projetos e impactaram na saúde financeira da cadeia industrial. No Brasil, fabricantes já anunciaram hibernações e saídas temporárias de cena. Para o executivo da Vestas, esse retrato é fruto de reflexo ocasionado pela pandemia e a guerra na Ucrânia. O aumento nos custos das máquinas subiu de 30% a 40% desde então. Houve um desajuste nas cadeias de valor globais que afetou em cheio os fabricantes de turbinas eólicas, devido ao seu ciclo de vendas, que entrega o produto final em dois a três anos. “De certa forma houve um ambiente econômico e uma conjuntura bastante hostil para os fabricantes de aerogeradores nesse sentido”, avisa.
Outro ponto que Ugarte coloca como responsável pela turbulência é a alta nas taxas de juros no Brasil e no mundo, ainda na esteira da pandemia e da guerra. O setor de aerogeradores foi um dos mais afetados por isso na visão do executivo, que vê as decisões dos fabricantes como um reflexo de uma conjuntura econômica inóspita, que os levou a escolhas agudas. Ele compara a jornada dos players do setor a um rally, em que há trechos mais longos e de alta velocidade, mas também de pontes e lombadas, que requer mais cuidados na direção. “A gente sabe que o futuro é muito promissor, é um caminho. Mas não é um caminho que você acelera o tempo todo, é um caminho que tem os seus percalços”, pondera.
Como remédio para mitigar esses impactos globais no setor, ele sugere uma agenda interna e externa, que envolvem a colaboração de governos, bancos e do ecossistema da cadeia industrial. O setor teria absorvido mais a alta dos custos do que poderia, o que acabou levando a uma perda financeira nos últimos anos, que só agora começa a ser estacanda. Ugarte considera importante uma agenda interna de low waste, evitando o desperdício de recursos dentro da empresa em prol da eficiência.
O low risk vem em seguida, se afastando de áreas de conflito e sensíveis, apostando na construção de uma cadeia de valor o mais próximo possível do ponto de geração de energia. “Por isso que temos apostado muito no adensamento da nossa cadeira de valor no Brasil e na América Latina desenvolvendo uma série de fornecedores e capabilidade para que exista uma dependência cada vez menor de outras geopolíticas”, aponta. A sustentabilidade não fica de fora da lista.
Por ser uma negócio voltado para a energia limpa, a promoção do conceito entre os fornecedores e os agentes da cadeia de valor tem sido adotada pela Vestas, de maneira a deixar a operação sustentável. A agenda externa de Ugarte pede um engajamento forte do governo na questão tributária. Para ele, há impostos que acabam por onerar o fabricante, o que no longo prazo acarretaria aumento de custos. A melhoria na logística para o transporte dos equipamentos é outro item, já que em muitas regiões as estradas para chegar até os parques eólicos não são as ideais.
Sobre a eólica offshore, Ugarte não vê problemas no fornecimento dos equipamentos e acredita que até 2030 o Brasil terá o seu primeiro investimento. A Vestas é uma das principais fabricante da fonte no mundo. Mas ele salientou à Agência CanalEnergia que o arcabouço regulatório precisa ser definido para que os investidores tenham segurança. A definição dos mecanismos de financiamento também é considerada pelo vice de LatAm da Vestas como um outro ponto de atenção fundamental. Ao contrário da fonte onshore, onde geralmente um ou poucos bancos participam da estruturação do crédito, a offshore por demandar muito mais recursos exige um pool de agentes financeiros. Usinas no Mar do Norte e na Inglaterra chegaram a reunir de 15 a 20 bancos no seu funding.
“O menor dos entraves é o fornecimento dos aerogeradores ou a construção da capacidade local, porque existem outros fatores como a questão regulatória e dos financiamentos, que são os gargalos para fazer com que a fonte se torne uma realidade”, conclui.