O secretário de Planejamento e Transição Energética do Ministério de Minas e Energia, Thiago Barral, defendeu a ampliação da rede de transmissão para escoar a produção de energia de fontes renováveis e dar resiliência ao sistema elétrico. “O Brasil tem esses recursos e é importante ter sinergia”, disse durante debate sobre transição energética no Fórum da Abdib.
Barral lembrou que o setor elétrico tem um potencial maior de descarbonização que outras atividades econômicas. Por conta dessa característica, ele vai servir como um vetor para que setores dependentes de combustíveis fósseis possam reduzir suas emissões de carbono.
No processo de transição para uma economia mais limpa, o Brasil vai precisar pensar que instrumentos de incentivos poderá usar, além estabelecer marcos legais e regulatórios para que o setor privado possa garantir que isso aconteça. “A gente precisa ter uma visão integrada dessa transição”, completou.
Em um horizonte de longo prazo, o hidrogênio será a grande fonte de energia, na avaliação da diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, Luciana da Costa. Ela defende que o financiamento tem que ser mais barato para energia renovável e mais caro para projetos que usam combustíveis poluentes.
“A gente vai ter que esverdear o balanço”, disse a executiva. Em sua opinião “o Brasil tem que começar a taxar petróleo”, pois já existe petroleira fazendo IPO da divisão de hidrogênio verde.
Luciana Costa lembrou que o Brasil enfrenta a concorrência dos incentivos instituídos nos Estados Unidos e na Europa para a produção local do combustível, mas o país consegue fazer isso mais barato, porque tem um parque de energia limpa muito grande. Uma das áreas no radar do BNDES é o mercado de carbono, que o banco considera como complementar no processo de transição. A diretora acredita que a transição energética não será feita só com energia renovável e vai ser necessário pressionar grandes emissores.
Visão das agências
Para o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica, Sandoval Feitosa, a Aneel, como órgão que implanta as políticas públicas do setor, está no caminho certo para a transição, que começou, em sua avaliação, há 70 anos com a construção de grandes hidrelétricas. A passagem para uma economia mais limpa não tem que ser necessariamente cara, em sua avaliação.
Feitosa citou uma série de regulamentos aprovados pela agência reguladora e disse que, no momento, a Aneel está aguardando os sinais do governo em relação aos próximos passos. Em relação à Amazônia, a expectativa é de uma sinalização do ministério em direção a uma matriz mais limpa.
O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Rodolfo Saboia, destacou que que o setor regulado pela ANP, foi, por motivos óbvios, altamente impactado pela transição energética. Um impacto que, segundo ele, vinha se dando porque havia um combate feroz à produção de hidrocarbonetos para energia, sob a ótica equivocada de que a transição deixaria de acontecer por causa disso.
“O que a invasão Ucrânia pela Rússia trouxe de fato novo foi a visão de que transição energética é necessária e inadiável, mas ela não pode vir na frente da segurança energética”, ponderou, acrescentando que já há uma compreensão mais viva em relação a isso no board das empresas do setor.
Com a aplicação dos conceitos de ESG, essas companhias tem resistido a explorar novas fronteiras, considerando que terão uma janela de 20 a 30 anos, e estão muito seletivas. É importante, então, que o Brasil se torne competitivo diante de competidores regionais como a Guiana, uma vez que transição tornou clara essa noção de horizonte limitado para a indústria de óleo e gás.