O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, criticou os subsídios a empreendimentos de energia solar e eólica, afirmando que é preciso deixar claro que eles não são mais necessários. No caso da solar distribuída, frisou o executivo, esse subsidio é dado a quem tem capacidade de investir em geração própria, deixando a conta para os consumidores mais pobres.
“Isso é uma crueldade,” disse Ferreira Júnior nesta quarta-feira, 12 de abril, durante evento da Abdib. O dirigente lembrou que o custo dos descontos da micro e miniGD na Conta de Desenvolvimento Energético será de R$ 5 bilhões esse ano.
Empreendimentos renováveis de energia centralizada também são beneficiados com descontos nas tarifas de uso dos sistemas de transmissão (Tust) e de distribuição (Tusd). O beneficio vem sendo gradualmente reduzido, mas ainda pesa na CDE.
Na economia como um todo, os benefícios concedidos somam mais de R$ 300 bilhões. “O subsídio é necessário para a gente começar a coisa. E assim sempre foi feito”, explicou o presidente da Eletrobras, lembrando que o grande problema hoje é se livrar deles.
Ferreira deu como exemplo o caso das usinas contratadas pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia logo após o racionamento de 2001/2002. Na época, o governo aceitou pagar um preço mais alto para incentivar renováveis, com subsídios que tinham uma perspectiva de término. Uma alteração na Lei 14.182, que autorizou a privatização da Eletrobras, permitiu a prorrogação dos contratos do Proinfa por mais 20 anos.
Deslocamento hidrelétrico
Há impacto das renováveis também no GSF, que reflete o deslocamento da geração hidrelétrica pela fontes eólica e solar. Ferreira Junior lembrou que isso acontece mesmo em um cenário hidrológico favorável, com o atual. “Não era para ser assim. Nós temos aqui a entrada de eólica e solar na base, e as hidrelétricas perdem muito da competitividade.”
Um alerta semelhante foi feito pelo diretor-presidente da Engie Brasil, Eduardo Sattamini, ao apontar o impacto do excesso de oferta de energia nos preços. Lembrando que a empresa tem geração hidrelétrica, mas também investe em outras renováveis, Sattamini criticou os incentivos que são dados por meio da redução de encargos, que levam ao crescimento dessas fontes de forma descontrolada.
“Se nós olharmos o cenário, nós temos de quatro a cinco anos de excesso de oferta”, disse, reforçando que os reservatórios do Sistema Interligado estão na casa dos 85%. “Com os preços que nós temos hoje nos novos parques solares, isso desestimula”, disse, ressaltando que subsídios não são mais necessários.
Para o executivo da Engie, é preciso encontrar uma forma de aumentar o consumo de energia elétrica no país. Além de exportar mais energia para Argentina e Uruguai, é necessário criar condições para a reindustrialização, garantindo uma retomada que pode reduzir a “ pressão maligna” sobre a cadeia de valor da geração de energia. “Isso é política de governo sim”, disse.
“Fechei o ano passado com 6% da minha carga cativa em GD. Esse ano vou chegar a 10% e a quase 15% nos próximos dois anos. Isso causa um impacto grande na nossa operação”, afirmou o presidente da CPFL, Gustavo Estrella. O executivo questionou o subsidio à micro e mini GD, que, pelos seus cálculos, deve dobrar ano que vem, chegando a R$ 10 bilhões.
“Tenho um perfil de cliente que, provavelmente, vai ser cativo a vida inteira, que é o cliente baixa renda”, completou, apontando que esse consumidor é o mais prejudicado.